O deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) aproveitou a realização da 27ª Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo para, mais uma vez, usar a imagem de Deus e uma suposta "fé" para promover o ódio contra as lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
Por meio de suas redes sociais, Nikolas Ferreira declarou que "aos homossexuais: o senhor os ama e quer vocês vivendo segundo a vontade dele. Porque ele te criou e sabe o que é o melhor para você. Homossexualidade não é doença, é pecado".
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Em seguida, o deputado fundamentalista afirmou que o único caminho às LGBTI+ é o "arrependimento". "Para pecado não tem remédio, mas arrependimento. Arrependa-se. Lute contra o seu pecado e assuma a sua verdadeira identidade."
Não satisfeito, Nikolas Ferreira utilizou uma velha tática, já muito alardeada por outro promotor do ódio, o pastor Sila Malafaia, que busca criar dois universos: as pessoas LGBT e o movimento LGBT. "Tem uma clara diferença entre o homossexual e o ativista LGBT. Enquanto um quer aceitação, o outro quer imposição e a gente precisa ficar atento a tudo isso, porque a agenda dele só vai aumentando."
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Por fim, declarou que a "igreja é o último bloqueio para que isso não inunde o país. Vamos ficar atentos para que não aconteça no Brasil como está acontecendo aqui", disse em referência a uma imagem fora de contexto de uma manifestação realizada no Canadá.
Tais declarações de ódio conferiram um novo processo contra Nikolas Ferreira. O deputado distrital Fábio Felix (PSOL-DF) entrou com uma representação ao Procurador da República no Distrito Federal para que o parlamentar mineiro seja investigado pelo crime de homofobia.
A "fé" que promove ódio
Em sua ação, o deputado Fábio Felix toca em um ponto central ao afirmar que Nikolas Ferreira - mas não apenas ele - faz uso de uma "suposta liberdade religiosa como pretexto para ofender minorias sexuais" e que os ataques de Ferreira "promovem a degradação da população LGBTI+".
O método de Nikolas Ferreira tornou-se comum a partir do início dos anos 2000, com o fundamentalista Silas Malafaia, que, por meio de um programa televisivo, realizava ataques contra a comunidade LGBT com um discurso muito similar. As gerações mudam, mas a promoção do ódio permanece a mesma.
É fato que nos últimos anos inúmeros líderes religiosos têm vindo a público para combater o uso da fé e de espaços religiosos como plataformas do ódio. Um exemplo recente disso vem do pastor Hermes Fernandes, da Igreja Reina, que classificou Malafaia e o senador André Valadão - outra figura que usa a "fé" para promover ódio às LGBT - como "mensageiros de Satanás".
"A homossexualidade não é um espinho na carne. Ouça o que estou lhe dizendo. Paulo diz: ‘quem era o espinho na carne?’... Ele diz que um mensageiro de Satanás é que vem me esbofetear. Essa expressão, ‘esbofetear’, é jogar na cara. Você quer saber o que é o espinho na carne de um homossexual? Não é o seu desejo, é a homofobia! Porque este mundo está cheio de mensageiros de Satanás! Esse é o espinho na carne! São pessoas subindo ao púlpito não para pregar amor, não para pregar graça, mas para pregar ódio! André Valadão, espero que você me ouça: você está sendo um mensageiro de Satanás! Silas Malafaia, você está sendo um mensageiro de Satanás!", declarou Hermes Carvalho.
Fundamentalismo neoliberal: receita da barbárie
Outra questão extremamente importante a ser destacada é a aliança entre os fundamentalistas e as teses neoliberais, juntamente com um projeto de poder muito claro: ocupar o Palácio do Planalto e transformar o Brasil em uma "República Teocrática".
Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, o objetivo de destruir o Estado Laico e criminalizar a comunidade LGBT quase foi alcançado, mas foi interrompido pela eleição de Lula (PT). No entanto, esse grupo está longe de estar derrotado. Pelo contrário, suas ideias se espalham como fogo nas redes sociais e ganham novos adeptos diariamente.
Não é por acaso que a Parada LGBT de São Paulo - o maior evento do estado após a Fórmula 1 - é alvo desse grupo. Além das questões abordadas nas marchas, as paradas representam o ideal de um mundo alternativo, onde todos podem ser quem são em termos sexuais e políticos.
As Paradas LGBTI+ e o enfrentamento ao projeto fundamentalista
Além disso, as Paradas LGBT são a manifestação concreta das heterotopias imaginadas pelo filósofo francês Michel Foucault.
Ao contrário das utopias, que são espaços idealizados e imaginários, as heterotopias são lugares tangíveis que desafiam e subvertem as normas e convenções sociais. Elas são como "contramundos" ou "contrasociedades" dentro do mundo real. Foucault argumenta que esses espaços heterotópicos têm a capacidade de abrigar múltiplas realidades, representando ao mesmo tempo um espaço físico e um espaço imaginário.
Foucault destaca o fato de que as heterotopias têm a capacidade de criar efeitos de exclusão e isolamento, mas também podem ser espaços de resistência e transformação. Elas desafiam as noções dominantes de tempo, espaço, identidade e poder, permitindo que os indivíduos experimentem outras formas de ser e se relacionar.
O filósofo francês argumenta que a sociedade contemporânea está cada vez mais permeada por heterotopias, à medida que as fronteiras entre os espaços sociais tradicionais se tornam mais permeáveis e as categorias estabelecidas se tornam mais fluidas. É nesse ponto que o ódio promovido por Nikolas Ferreira se encaixa: ele busca manter a tradição para criar fundamentalismo, o que vai de encontro aos vários símbolos presentes nas Paradas LGBT no Brasil e em outros lugares do mundo.