Dragão do Mar: Quem foi o líder abolicionista brasileiro ainda pouco conhecido
Líder desempenhou papel crucial na abolição da escravidão no Ceará, quatro anos antes da Lei Áurea
Chico da Matilde, conhecido como líder dos jangadeiros e prático do porto de Fortaleza, foi uma figura essencial no movimento abolicionista cearense.
Em 1881, aos 42 anos, ele, conhecido como Dragão do Mar, protagonizou uma greve no porto, onde seus companheiros se recusaram a embarcar escravizados que seriam vendidos para o sul do país. Esse ato paralisou temporariamente o comércio de escravos, fazendo de Fortaleza uma cidade "fechada" ao tráfico de pessoas. A atitude destemida de Chico, um mulato jangadeiro, teve um impacto além das fronteiras do Ceará, alcançando as instâncias do Império e consolidando-o como o principal herói abolicionista do estado.
Nascido em Canoa Quebrada, no município de Aracati, em 15 de abril de 1839, Chico foi filho de Manoel do Nascimento e Matilde Maria da Conceição. Perdeu o pai ainda jovem e foi morar com outra família. Aos 20 anos, aprendeu a ler e, com o tempo, se tornou chefe dos catraieiros, trabalhou na construção do porto de Fortaleza e, mais tarde, foi nomeado prático da Capitania dos Portos.
Sua trajetória, no entanto, foi interrompida pela greve de 1881, que resultou em sua demissão. Três anos após a abolição da escravatura, Chico levou a jangada Liberdade até o Rio de Janeiro, a bordo de um barco negreiro chamado Espírito Santo. A jangada foi exposta nas ruas do Rio e, eventualmente, doada ao Museu Nacional, onde foi considerada uma relíquia da etnografia brasileira.
Símbolo de resistência e solidariedade
O destino da jangada Liberdade permanece incerto. Há rumores de que ela foi transferida para o Museu da Marinha, mas desapareceu, possivelmente destruída ou desmontada. Hoje, a imagem de Chico da Matilde e da jangada permanece viva como um símbolo de resistência e solidariedade no imaginário popular nordestino.
De acordo com o livro "História do Ceará", organizado pela socióloga Simone de Souza, o movimento abolicionista no estado também contou com a força de grupos como "Sociedade Perseverança e Porvir" e "Sociedade Cearense Libertadora", além de veículos de imprensa como o jornal "O Libertador".
Essas ações culminaram na abolição da escravidão no Ceará, em 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea.