Islã

Xá Reza Pahlavi: quem foi o último rei do Irã

Antes dos aiatolás, a Pérsia era governada por um regime pró-ocidente

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Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Xá Reza Pahlavi: quem foi o último rei do Irã
Mohammed Reza Pahlavi. O último Xá do Irã ficou conhecido por se alinhar aos interesses ocidentais, dentro de seu país seus súditos sofriam com a repressão política e até religiosa. Wikipédia

O Irã, conhecido historicamente como Pérsia, é uma das civilizações mais antigas do mundo, com registros que remontam a mais de 2.500 anos. Berço de impérios como o Aquemênida, Parta e Sassânida, o país exerceu influência cultural, política e militar sobre vastas regiões da Ásia, África e Europa. No auge de seu poder, o Império Aquemênida, fundado por Ciro, o Grande, estendia-se do vale do Indo, na Índia, até o Egito, no nordeste africano.

Com a chegada do Islã no século VII, a Pérsia tornou-se um centro intelectual e cultural dentro do mundo islâmico. Após a fragmentação dos califados e, mais tarde, a invasão mongol, o Irã passou por diversos períodos dinásticos até cair sob influência do Império Otomano e, posteriormente, das potências europeias, especialmente a Rússia e o Reino Unido.

No início do século XX, o Irã enfrentava um cenário de instabilidade política, forte presença estrangeira e crise econômica. Foi nesse contexto que Reza Khan, um militar ambicioso, deu um golpe de Estado em 1921 e, quatro anos depois, se proclamou Xá (rei), estabelecendo a dinastia Pahlavi.

Reza Shah Pahlavi promoveu uma série de reformas com o objetivo de modernizar e secularizar o Irã, inspirando-se nos modelos europeus — especialmente na Turquia de Mustafa Kemal Atatürk. Ele investiu em infraestrutura, educação laica e na centralização do poder. No entanto, seu governo também foi marcado por autoritarismo e repressão.

Durante a Segunda Guerra Mundial, devido à sua aproximação com a Alemanha nazista, o Xá foi forçado a abdicar, em 1941, pelos Aliados (Reino Unido e União Soviética), que ocuparam o país. Seu filho, Mohammad Reza Pahlavi, então com apenas 22 anos, assumiu o trono como o novo Xá do Irã.

Mohammad Reza Pahlavi: O Último Xá do Irã

O governo de Mohammad Reza Pahlavi foi profundamente influenciado por interesses externos, especialmente dos Estados Unidos e do Reino Unido. Em 1953, após o primeiro-ministro democraticamente eleito Mohammad Mossadegh nacionalizar o petróleo iraniano, um golpe apoiado pela CIA e pelo serviço secreto britânico (MI6) o derrubou. O Xá retornou ao poder com mais força e apoio do Ocidente.

Apesar das intenções modernizadoras, as reformas aprofundaram as desigualdades sociais, favoreceram as elites urbanas e alienaram grandes parcelas da população, especialmente os religiosos conservadores, comerciantes tradicionais (bazaaris) e os camponeses.

Autoritarismo, repressão e crescente descontentamento

O regime do Xá se tornou cada vez mais autocrático. A oposição era sistematicamente silenciada, especialmente através da SAVAK, a temida polícia secreta que usava métodos de tortura e vigilância para conter dissidência. A liberdade de imprensa era limitada e partidos políticos de oposição eram banidos.

Enquanto isso, a riqueza gerada pelo petróleo beneficiava principalmente a elite próxima ao regime, enquanto grande parte da população sofria com desemprego, inflação e falta de representatividade. O forte alinhamento com os Estados Unidos também gerava ressentimento entre os nacionalistas e religiosos.

A Revolução Islâmica de 1979

O descontentamento culminou em uma série de protestos e levantes que tomaram conta do país em 1978. O líder espiritual xiita Aiatolá Ruhollah Khomeini, exilado na França, ganhou enorme popularidade como símbolo da resistência ao regime do Xá.

Em janeiro de 1979, diante da pressão popular e da perda de apoio interno e externo, Mohammad Reza Pahlavi deixou o Irã em busca de tratamento médico, o que marcou, na prática, o fim de sua monarquia. Em fevereiro, Khomeini retornou triunfante a Teerã e rapidamente consolidou um novo governo baseado na República Islâmica, abolindo a monarquia.

O Xá viveu seus últimos meses em exílio, passando pelo Egito, Marrocos, Bahamas, México e Estados Unidos. Faleceu no Egito em julho de 1980, vítima de câncer linfático.

Legado 

A queda do Xá e o surgimento da República Islâmica transformaram profundamente o Irã. O país tornou-se uma teocracia governada por líderes religiosos xiitas, com forte oposição ao Ocidente, especialmente aos EUA e a Israel. A Revolução também serviu de inspiração para outros movimentos islâmicos no Oriente Médio.

A figura de Mohammad Reza Pahlavi ainda gera controvérsia. Para alguns, ele foi um modernizador visionário que tentou trazer o Irã para o século XX. Para outros, foi um ditador que governou com mão de ferro, negligenciando as necessidades populares e abrindo caminho para uma revolução radical.

Reza Pahlavi com sua primeira esposa Fawzia Fuad, princesa do Egito e a filha do casal
(foto: domínio públco)

A história do último Xá do Irã é mais do que o relato de um monarca deposto — é o reflexo das complexas forças que moldam uma nação: modernização, tradição, nacionalismo, interferência estrangeira e identidade religiosa. Entender essa trajetória é essencial para compreender não apenas o Irã moderno, mas também as dinâmicas políticas que ainda reverberam em todo o Oriente Médio.

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