MULHERES

Petra Herrera: a revolucionária mexicana que se disfarçava de homem para liderar tropas

Petra Herrera, que integrou as tropas revolucionárias como 'Pedro', participou ativamente de incursões revolucionárias até tornar-se coronel, mas nunca foi concedida o título de general

Petra Herrera - fotografia.Créditos: reprodução/Instagram
Escrito en HISTÓRIA el

Durante a Revolução Mexicana, o acontecimento político que moldaria a história e o futuro do México moderno no começo do século 20, uma mulher sob disfarce liderou um exército de 200 homens e foi dita a responsável pela tomada da cidade de Torreón durante a segunda batalha travada por sua conquista pelos revolucionários, em 1914 — ao lado de outras 400 mulheres.

Petra Herrera se uniu ao exército dos combatentes insurgentes da Revolução Mexicana como Pedro Herrera, um soldado de pouco mais de 20 anos de idade, sem barba — ela dizia aos colegas soldaderos que sua barba estava "começando a crescer" —, e que logo se tornaria um eminente combatente das tropas de Francisco ('Pancho') Villa, general que liderava as incursões contra o regime ditatorial de Porfírio Díaz. 

Apesar de mulheres não serem exatamente proibidas no exército revolucionário, suas funções costumavam ser limitadas a arranjos burocráticos e ao cuidado coletivo, como a alimentação das tropas, o arranjo de seu local de descanso e os cuidados médicos.

Petra Herrera, que integrou as tropas revolucionárias como Pedro, fez sua reputação crescer rapidamente entre os combatentes, e participou ativamente das incursões revolucionárias até tornar-se, "ele" mesmo, uma liderança na sua linha de frente.

Em relatos pessoais recuperados de Zeferino Diego Ferreira, um dos combatentes do exército de Pancho durante a revolução, ele diz:

"Um dia conheci uma coronel chamada Petra Herrera. Ela se vestia como um homem e era muito corajosa. Suas tropas operavam no norte e pertenciam à Divisão do Norte [unidade liderada por Pancho Villa e fundamental na vitória da Batalha de Zacatecas, a mais sangrenta da campanha contra o militar golpista Victoriano Huerta]. Quase todos eles eram homens."

Ao abordar a Batalha de Zacatecas, de junho de 1914, que garantiu à Divisão do Norte de Villa o controle da cidade mineradora antes sob o comando das tropas do general Luís Medina Barrón (que não ocorreu sem significativas perdas de contingente, nem sem deserções), Ferreira diz: 

"Foi durante essa batalha que Petra Herrera manteve a luta. As dropas dela controlaram uma ponte na estrada que levava para fora da cidade, por onde muitos federais tentavam fugir, e ela os segurou. Os federais tentaram passar, mas não conseguiram. Quem tentasse morreria. [...] Finalmente, os federais tiveram que parar de tentar."

Após as batalhas responsáveis por tomar as cidades de Torreón e Zacatecas, importantes conquistas do exército revolucionário de Villas, e ambas protagonizadas por Herrera, ela ainda não havia sido promovida a general.

A batalha de Torreón foi travada com mais de 400 mulheres a compor o exército revolucionário ao lado de Petra, que decidiu, eventualmente, revelar aos seus colegas combatentes sua verdadeira identidade — e seu gênero. 

Apesar de, aparentemente, nada mudar em vista de sua "nova" identidade, Herrera continuava a não receber nenhum crédito militar por seus esforços de vanguarda. Por fim, ela se decidiu por abandonar as forças de Villa e organizar sua própria brigada, que seria formada apenas por mulheres.

O grupo de soldaderas não está oficialmente catalogado na história, e sua reputação sobrevive principalmente por meio de canções, portanto não é possível estimar com precisão seu número. Em 1917, anos depois das batalhas mais sangrentas da revolução, Herrera decidiu aliar-se a Venustiano Carranza, revolucionário que viria a se tornar presidente do México, e o primeiro líder mexicano eleito segundo a nova constituição do país, aprovada naquele mesmo ano.

Enquanto esteve aliada a Carranza, ela voltou a reivindicar sua posição militar, e queria ser concedida o título de general — mas, novamente, seu pedido foi negado. A única coisa que conseguiu foi o cargo de coronel, antes que seu exército feminino fosse oficialmente dispersado a mando de seus superiores.

Apesar de afastada do campo de batalha, Petra Herrera não desistiu de sua atuação na revolução, mas, durante o período em que deixou de lutar, assumiu novamente uma identidade diferente da sua e passou a trabalhar como garçonete para obter informações da oposição e repassar a seus aliados carrancistas. 

Por ironia do destino, foi durante seu período a serviço da espionagem, e não durante os conflitos armados em que esteve na linha de frente, que Herrera foi fatalmente ferida

Um dia, quando um grupo de homens a reconheceu no bar em que trabalhava como garçonete, por ter reparado nas suas tranças características — que ela passou a usar assim que se revelou como mulher no exército revolucionário —, Herrera foi atacada com três disparos de pistola. 

O motivo do ataque fora, supostamente, sua "troca de lealdade" durante a revolução. E, embora ela tenha sobrevivido ao ferimento num primeiro momento, morreu dias depois das complicações causadas pela infecção e pela ansiedade gerada pelo ataque.

 

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