ELEIÇÕES DOS EUA

Donald Trump e Kamala Harris não chegam a acordo sobre primeiro debate

Ex-presidente e candidato republicano desistiu de debater com a vice-presidenta democrata no canal previamente acertado e propõe evento no canal de extrema direita Fox News

Créditos: Fotomontagem (Reprodução Instagram Donald Trump e Kamala Harris) - Candidatos à presidência dos EUA não chegam a acordo sobre canal e data de primeiro debate
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A mais nova controvérsia da tumultuada campanha presidencial dos Estados Unidos é quando e em qual canal será realizado o primeiro debate entre Kamala Harris e Donald Trump.

O ex-presidente e candidato republicano diz que estaria disposto Harris no ambiente amigável ao extremista de direita da Fox News em setembro – mas a vice-presidenta não aceitou o que seria uma mudança.

Trump havia concordado anteriormente em aparecer na ABC News e debater com Joe Biden uma segunda vez este ano antes de o presidente encerrar sua campanha de reeleição.

Em uma declaração na sua plataforma Truth Social, Trump disse que o debate seria realizado em 4 de setembro na Pensilvânia. O ex-presidente afirmou que havia um conflito de interesse em jogo após ter aberto um processo por difamação contra a ABC e o apresentador da rede George Stephanopoulos, devido à afirmação do âncora de que Trump havia sido “considerado responsável por estupro” no caso E. Jean Carroll.

No início deste ano, Trump foi condenado a pagar 83 milhões de dólares por declarações difamatórias que fez sobre a colunista da revista após um caso anterior tê-lo considerado responsável por difamação e abuso sexual.

"O debate estava anteriormente agendado contra... Biden na ABC, mas foi cancelado, pois Biden não participará mais, e eu estou em litígio contra a ABC Network e George Slopadopoulos, criando assim um conflito de interesses", escreveu Trump.

Trump acrescentou que o local do debate na Fox News – que geralmente é acolhedor para os Partido Republicano – ainda não havia sido determinado. Mas ele disse que os moderadores seriam Bret Baier e Martha MacCallum da Fox News, e que as regras seriam semelhantes ao seu debate de 27 de junho com Biden – exceto que desta vez haveria uma audiência no estúdio.

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Campanha de Harris reage

Neste sábado (3), em uma declaração que invocou o desafio anterior de Trump para debater Biden a qualquer hora ou lugar, a campanha de Harris deixou claro que ela não concordava com os termos do debate proposto pela Fox News. E ela rejeitou particularmente usar esse debate para substituir o da ABC.

Donald Trump está fugindo e tentando sair do debate que já concordou e correndo direto para a Fox News para se salvar. Ele precisa parar de brincar e comparecer ao debate que já se comprometeu em 10 de setembro. A vice-presidente estará lá de qualquer maneira para aproveitar a oportunidade de falar com uma audiência nacional em horário nobre. Estamos felizes em discutir novos debates após aquele que ambas as campanhas já concordaram. Sr. 'Qualquer hora, qualquer lugar' não deveria ter problema com isso, a menos que esteja com medo de aparecer no dia 10”, disse o porta-voz da campanha de Harris, Michael Tyler

A declaração foi compartilhada no X pela correspondente política da NBC News, Yamiche Alcindor.

Em um post no X, Harris acrescentou: "É interessante como 'a qualquer hora, em qualquer lugar' se torna 'um horário específico, um espaço seguro específico.'"

A candidata do Partido Democrata à Casa Branca disse em julho que estava "pronta" para debater Trump e o acusou de recuar do acordo anterior envolvendo a ABC.

Em um post no sábado, Trump alegou que Harris estava "com medo" de "fazer um debate REAL" contra ele. Ele acrescentou: "Vou ver [Harris] em 4 de setembro ou não a verei de jeito nenhum."

O alarme do partido democrata com o desempenho de Biden no debate de junho na CNN desencadeou sua retirada dramática da corrida, com pesquisas indicando que ele provavelmente enfrentaria uma derrota eleitoral esmagadora.

Trump e Harris estão empatados nas pesquisas.

Fox New, a Jovem Pan dos EUA

Não é por acaso que Trump quer levar o primeiro debate com Harris para a Fox News, um canal de extrema direita. Muitos dos principais apresentadores e comentadores da emissora, como Sean Hannity e Laura Ingraham, são conhecidos por suas visões conservadoras e frequentemente promovem ideias e teorias alinhadas com a extrema direita. Eles abordam temas como imigração, controle de armas e políticas sociais de maneira que muitas vezes ressoa com a base conservadora mais radical.

A cobertura de notícias da Fox News tende a ser favorável a políticas e figuras conservadoras, frequentemente criticando os democratas e políticas progressistas. Esse viés pode ser observado na forma como a rede cobre eventos políticos, eleições e escândalos.

Durante a presidência de Trump, a Fox News foi amplamente vista como um dos principais apoiadores do presidente. Trump frequentemente elogiava a rede e aparecia em seus programas. O canal também foi acusado de promover teorias da conspiração e informações falsas que beneficiavam Trump e sua administração.

A Fox News tem uma relação próxima com o Partido Republicano, e muitos de seus ex-funcionários passaram a ocupar cargos na administração Trump. Essa relação estreita reforça a percepção de que a rede atua como um braço midiático do partido

Programas de opinião na Fox News são notoriamente conservadores e frequentemente promovem narrativas de extrema direita. Esses programas têm uma audiência leal que é influenciada pelas visões e opiniões dos apresentadores.

A retórica utilizada em muitos dos segmentos de opinião tende a ser polarizadora, anti-imigração, e muitas vezes contrária aos direitos LGBTQ+, políticas de controle de armas mais rígidas, e outras questões progressistas, alinhando-se assim com ideologias de extrema direita.

Diversos estudos e análises de mídia classificam a Fox News como uma rede que promove um viés conservador significativo. Relatórios de organizações como o Pew Research Center indicam que a rede se posiciona mais à direita no espectro político em comparação com outras redes de notícias.

Por que o debate é importante?

Um debate entre Kamala Harris e Donald Trump pode impactar fortemente a disputada campanha por vários motivos. Como atrair grande audiência, proporcionar aos eleitores a oportunidade de ver dois candidatos discutindo visões e políticas e até mesmo aumentar a participação dos eleitores e influenciar decisões eleitorais.

O debate permitiria uma comparação clara entre as políticas defendidas por Harris e Trump. Harris poderia destacar as conquistas da administração Biden-Harris e contrastá-las com as políticas de Trump durante sua presidência, enquanto Trump poderia criticar a atual administração e apresentar suas próprias propostas.

Harris e Trump têm estilos de comunicação muito diferentes. Harris é conhecida por sua abordagem calma e focada, enquanto Trump é mais combativo e direto. Este contraste poderia destacar a diferença de estilo e substância entre os candidatos, influenciando a percepção pública.

Desempenhos fortes ou fracos no debate podem alterar significativamente as pesquisas de opinião. Um desempenho convincente pode aumentar o apoio de Harris entre os eleitores indecisos, enquanto uma performance sólida de Trump pode consolidar sua base e atrair novos eleitores.

O debate permitiria ainda aos eleitores avaliar a competência e capacidade de liderança de ambos os candidatos. Harris teria a oportunidade de demonstrar sua experiência e conhecimento, enquanto Trump poderia tentar reforçar sua imagem de líder decisivo e direto.

Questões chave como a economia, saúde, justiça social, política externa e resposta à pandemia provavelmente seriam discutidas, proporcionando aos eleitores uma visão clara das abordagens dos candidatos para esses temas críticos.

A cobertura midiática de um debate entre Harris e Trump seria intensa, com análises e comentários que poderiam moldar a opinião pública. A mídia desempenharia um papel crucial em amplificar os pontos fortes e fracos de cada candidato, influenciando a narrativa eleitoral.

Debates famosos nos EUA

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Debates presidenciais nos Estados Unidos têm sido momentos decisivos em várias eleições. O primeiro debate televisionado entre John Kennedy e Richard Nixon, em 1960, é frequentemente citado como um dos mais influentes. Kennedy apareceu calmo, confiante e preparado, enquanto Nixon, que estava doente e recusou maquiagem, parecia pálido e nervoso. Este debate é amplamente considerado como um fator crucial na vitória de Kennedy.

Vinte anos depois, em 1980, Ronald Reagan enfrentou o presidente em exercício Jimmy Carter em um debate que destacou a famosa linha de Reagan: "Lá vai você de novo". Reagan apresentou uma imagem otimista e confiante, contrastando com a visão mais sombria de Carter sobre a economia. Este desempenho ajudou Reagan a ganhar um impulso significativo na reta final, resultando em uma vitória decisiva.

Em 1988, durante um debate com George W. Bush, Michael Dukakis foi questionado sobre sua posição em relação à pena de morte, especialmente em um cenário hipotético envolvendo sua esposa sendo estuprada e assassinada. A resposta calma e técnica de Dukakis foi vista como insensível e lhe custou apoio, destacando a importância das respostas emocionais em debates.

No debate entre Al Gore e George W. Bush, em 2000, a linguagem corporal de Gore, incluindo suspiros e gestos de desdém, foi percebida negativamente pelo público. Isso ajudou a moldar a percepção de Gore como condescendente e deu a Bush uma vantagem em termos de simpatia e conexão com os eleitores.

No primeiro debate de 2012, Mitt Romney teve um desempenho forte contra Barack Obama, que foi criticado por parecer desanimado e desinteressado. Este debate revitalizou a campanha de Romney e apertou as pesquisas. No entanto, Obama conseguiu se recuperar nos debates subsequentes e manter sua vantagem.

Os debates entre Donald Trump e Hillary Clinton, em 2016,  foram altamente polarizadores. Trump utilizou um estilo agressivo e disruptivo que ressoou com sua base, enquanto Clinton tentou se posicionar como a candidata mais experiente e estável. Os debates não alteraram dramaticamente as intenções de voto, mas reforçaram as percepções já existentes dos candidatos.