A potencial candidata do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris, tem raízes marxistas. A atual vice-presidenta estadunidense é filha de Donald J. Harris, ou apenas Don Harris, um economista desenvolvimentista que atuou na Universidade de Stanford (Califórnia).
LEIA TAMBÉM: Kamala discursa pela 1ª vez como candidata: "profundamente grata"
Te podría interesar
A lembrança das origens de Kamala foi feita pelo historiador, jornalista e comentarista político indiano Vijay Prashad em postagem no X (antigo Twitter). Ele é conhecido por suas análises críticas sobre questões globais, especialmente em relação ao imperialismo, neocolonialismo e políticas do Sul Global. Intelectual marxista, escreve extensivamente sobre a política internacional, economia e cultura.
"Pequeno lembrete. O pai de Kamala Harris, Don Harris, é economista de desenvolvimento. Ele surgiu na década de 1970 como um marxista da Jamaica que desempenhou um pequeno papel na formação do Partido dos Trabalhadores liderado por Trevor Munroe. Essa parte da história de Harris foi silenciada pelos democratas", escreveu Prashad.
A trajetória de Don Harris
Don Harris é um economista jamaicano-estadunidense famoso por suas contribuições acadêmicas, especialmente na área de economia do desenvolvimento. Nascido na Jamaica em 23 de agosto de 1938, ele emigrou para os Estados Unidos, onde construiu uma carreira distinta no campo da economia.
Harris pai estudou na Universidade de Londres, onde obteve seu diploma de bacharel. Mais tarde, ele completou seu Ph.D. em economia na Universidade da Califórnia, Berkeley.
O economista é particularmente conhecido por seu trabalho enquanto professor de economia na Universidade de Stanford, onde foi o primeiro homem negro a receber uma cátedra no departamento de economia. Antes de Stanford, ele também lecionou em outras instituições prestigiosas, incluindo a Universidade de Illinois e a Universidade de Wisconsin.
Don é conhecido por suas análises críticas das estruturas econômicas e políticas, com foco particular nas questões de acumulação de capital e distribuição de renda. Ele é um defensor de abordagens econômicas heterodoxas e tem interesses em teorias que vão além das escolas de pensamento econômico tradicionais, o que inclui influências do marxismo e da economia keynesiana.
Harris pai foi casado com Shyamala Gopalan, uma cientista que emigrou da Índia para os Estados Unidos e tiveram duas filhas, a vice-presidenta Kamala Harris e de Maya Harris, advogada e política. O casal se separou quando Kamala era criança.
Além de suas contribuições acadêmicas, Don influenciou o pensamento econômico através de suas publicações e palestras. Ele também teve um impacto indireto, mas significativo, no papel de pai, na política dos Estados Unidos através da filha Kamala, cuja carreira política ganhou destaque nacional e internacional.
Harris é reconhecido tanto por seu rigor acadêmico quanto por seu papel em abordagens econômicas menos convencionais, desafiando muitas vezes o status quo do pensamento econômico predominante em sua época.
Influência de Karl Marx
Don Harris, como economista acadêmico, é frequentemente associado a abordagens heterodoxas no campo da economia, incluindo influências do pensamento marxista. Sua pesquisa e ensino têm explorado temas que são centrais ao marxismo, como a acumulação de capital, distribuição de renda, e as dinâmicas de classe social, que são questões fundamentais na análise marxista da economia política.
Em suas obras, Harris pai examina as relações de classe dentro do capitalismo e os efeitos das políticas econômicas sobre diferentes classes sociais. A teoria marxista, que centraliza a luta de classes como um motor da história e da economia, claramente influencia essa abordagem.
O pai da vice-presidenta dos EUA escreveu sobre a acumulação de capital e sua relação com a distribuição de renda, temas que são profundamente enraizados na crítica marxista ao capitalismo. Karl Marx discutiu extensivamente como o capital é acumulado e as consequências disso para a sociedade.
Embora não se identifique explicitamente como marxista, Harris é conhecido por suas críticas a certos aspectos do capitalismo. Essa crítica reflete a influência de perspectivas marxistas, que visam desafiar e reexaminar as estruturas e iniquidades do capitalismo.
Durante seu período como professor, particularmente em Stanford, Harris não apenas lecionou economia tradicional, mas também incentivou o pensamento crítico sobre economia política de maneiras que dialogam com o marxismo. Isso incluiu desafiar os alunos a pensar sobre quem beneficia e quem é prejudicado pelas estruturas econômicas existentes.
A relação de Don Harris com o pensamento marxista ajudou a moldar uma visão de economia que é crítica às narrativas dominantes e atenta às questões de justiça econômica e social. Sua abordagem educacional e suas publicações têm incentivado o pensamento crítico e a avaliação das políticas econômicas através de uma lente que considera a equidade e a justiça social, alinhando-se com muitos princípios marxistas.
Embora não seja um marxista no sentido estrito de se alinhar completamente com todas as doutrinas de Karl Marx, as obras de Don Harris e ensinamentos refletem uma influência significativa do marxismo na forma como ele entende e critica o capitalismo.
Confira aqui trabalhos do pai de Kamala Harris na Univeridade de Stanford.
Passagem de Don Harris pelo Brasil
Kamala Harris tem laços inesperados com o Brasil, mais especificamente com a capital, Brasília, graças às visitas frequentes de seu pai, Don Harris, ao Brasil.
Em abril de 1997, o renomado economista causou agitação ao entrar no auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Brasília (UnB) para um seminário sobre economia política e teoria econômica, temas considerados heterodoxos na época.
Harris pai foi convidado pelo então chefe do Departamento de Economia da UnB, Joanílio Teixeira, que buscava revitalizar o estudo das correntes econômicas alternativas na universidade.
Durante sua estadia no Brasil nos anos 1990, Don Harris se envolveu profundamente com a comunidade acadêmica. Ele chegou a morar na casa de Teixeira e participou dos rituais locais como as feijoadas de sábado. Essas experiências marcaram tanto Harris que ele retornou ao Brasil várias vezes para lecionar e participar de seminários.
Apesar de sua vida acadêmica ativa, Harris mantinha uma postura discreta em relação à carreira política ascendente de sua filha nos Estados Unidos. Mesmo com o destaque internacional de Kamala, a relação de Don com o Brasil e suas contribuições para a UnB permanecem uma lembrança valorizada pelos que o conheceram.
Com informações do Correio Braziliense