Na reta final de 30 dias para a corrida presidencial, a vice-presidenta Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump estão em uma disputa acirrada. As duas campanhas estão concentradas em conquistar votos nos sete estados decisivos, conhecidos como swing states, que podem definir o resultado da eleição: Geórgia, Arizona, Nevada, Carolina do Norte, Wisconsin, Michigan e Pensilvânia.
O jornal nova-iorquinho The New York Times classifica essa etapa da corrida pela Casa Branca como uma "guerra de trincheiras". Tanto a campanha de Harris quanto a de Trump têm implementado estratégias distintas, o que reflete suas diferentes prioridades e bases eleitorais.
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Harris amplia operação de campo
A campanha de Harris está focada em uma operação de campo robusta, com centenas de organizadores e dezenas de escritórios em todos os sete estados decisivos.
Isso inclui uma equipe de mais de 1.200 pessoas entre a campanha e o Comitê Nacional Democrata. A estratégia busca mobilizar tanto a base democrata quanto persuadir eleitores indecisos e moderados republicanos, especialmente em áreas rurais e mais conservadoras.
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Harris tem investido pesadamente em publicidade, com mais de US$ 137 milhões em mídia até agosto de 2024, superando amplamente os gastos de Trump. Sua mensagem é direcionada a questões econômicas, saúde e justiça social, além de contrastar sua preparação e liderança com o histórico de Trump.
Uma parte importante da estratégia de Harris é conquistar eleitores que ainda não decidiram se votarão, com um foco especial em jovens e minorias que, em eleições anteriores, têm mostrado menor propensão a comparecer. O objetivo é persuadir eleitores que podem estar indecisos sobre sua participação, além de ampliar sua base de apoio em áreas tradicionalmente republicanas.
Trump focam em quem não costumam votar
A campanha de Trump está concentrada em motivar seus eleitores mais leais e de baixa propensão a votar, especialmente jovens homens e eleitores afro-americanos conservadores. Sua operação de campo é menor que a de Harris, mas ele conta com o apoio de super PACs e do Comitê Nacional Republicano para complementar sua estratégia.
Trump tem focado em temas que ressoam com sua base, como imigração e economia. Mesmo com a inflação desacelerando e os preços de gasolina caindo, ele mantém a narrativa de que sua liderança é crucial para a recuperação econômica e segurança nacional. Ele também tem se aproveitado de eventos recentes, como conflitos internacionais e desastres naturais, para enfatizar sua postura de liderança forte e preparação para crises.
Ao contrário de Harris, Trump tem dependido fortemente de grupos terceirizados, como super PACs, para realizar ações de campanha e publicidade. Essa estratégia ajuda a compensar o fato de que ele tem menos recursos diretos de campanha e uma operação de campo menor. Esses grupos têm inundado eleitores com publicidade crítica a Harris, destacando-a como despreparada para lidar com os desafios do país.
Autoridades de ambas as campanhas reconhecem que esta eleição se decidirá por margens pequenas, com apenas alguns milhares de votos fazendo a diferença. As pesquisas recentes mostram uma disputa equilibrada em todos os sete estados-chave (leia abaixo).
Eventos que impactam a campanha
Vários eventos recentes têm impactado a campanha presidencial de 2024 nos EUA, envolvendo tanto Harris quanto Trump. Esses eventos moldam as percepções dos eleitores e criando incertezas na reta final da disputa.
Guerra no Oriente Médio
A escalada do conflito entre Israel e grupos militantes na Faixa de Gaza criou tensões internacionais e domésticas, que estão sendo exploradas pelas campanhas.
O governo de Joe Biden, com Harris como vice-presidenta, enfrenta críticas sobre como tem lidado com a situação, especialmente em relação ao apoio a Israel e à postura em questões humanitárias.
A abordagem da administração em conflitos internacionais tem sido usada pelos republicanos, que argumentam que Harris não está preparada para lidar com crises globais.
Furacões no Sudeste dos EUA
Furacões devastadores no sudeste dos Estados Unidos, que resultaram na morte de mais de 200 pessoas, também impactam a campanha. Trump tem utilizado esses desastres naturais como parte de sua narrativa de que o governo atual falhou em garantir respostas rápidas e eficazes.
O republicano tenta conquistar eleitores ansiosos e preocupados com as políticas de emergência e gerenciamento de crises. Essas questões locais, em estados chave como a Flórida e a Geórgia, são fundamentais para conquistar votos.
Tentativas de Assassinato de Trump
Ao longo de 2024, Trump sofreu duas tentativas de assassinato, que também afetam a dinâmica da campanha. Esses eventos reforçam a imagem de Trump como uma figura polarizadora e aumentam a mobilização entre seus apoiadores mais leais, que o veem como um líder que enfrenta ataques constantes.
Ao mesmo tempo, sua campanha usa esses incidentes para sugerir que ele é um candidato resiliente, reforçando sua retórica de estar sob ataque político e pessoal constante, o que pode aumentar a adesão de eleitores conservadores.
Ecos de 2016
Essa disputa acirrada entre Harris e Trump reflete, em alguns aspectos, a eleição de 2016, quando Hillary Clinton confiou em uma vasta operação de campo baseada em dados, enquanto Trump focava em uma mensagem nacional com poucos recursos em campo.
Agora, os democratas têm evitado o excesso de confiança daquela época, cientes de que Trump, apesar de derrotas anteriores, continua sendo um adversário formidável.
Veteranos de campanhas presidenciais afirmam que esta eleição é diferente, pois grandes eventos políticos parecem ter pouco impacto na posição relativa dos candidatos.
Tentativas de assassinato contra Trump, debates presidenciais e vice-presidenciais, e convenções partidárias geraram picos temporários de apoio para ambos, mas sem mudanças duradouras na opinião pública.
A disputa apertada levou a um aumento significativo nos gastos, especialmente nos estados decisivos. As campanhas evitam classificar esses estados por importância, mas reconhecem que qualquer um deles pode ser o ponto de virada.
Enxurrada de dinheiro
Até setembro de 2024, as campanhas de Kamala Harris e Donald Trump gastaram mais de US$ 675 milhões em publicidade, com foco especialmente nos sete estados decisivos.
A campanha de Harris, junto com organizações democratas de terceiros, superou os republicanos em gastos publicitários em todos os estados decisivos.
Até agosto, a campanha de Harris superou significativamente a de Trump em termos de gastos publicitários e arrecadação de fundos. Em agosto, a democrata arrecadou aproximadamente US$ 190 milhões, enquanto Trump conseguiu cerca de US$ 45 milhões.
Os gastos de Harris no mesmo período chegaram a US$ 174 milhões, dos quais US$ 137 milhões foram destinados à produção de mídia e compra de anúncios. Já a campanha de Trump gastou US$ 61 milhões, com US$ 47 milhões direcionados para publicidade.
Esse desequilíbrio financeiro se reflete também no número de funcionários: a campanha de Harris e o Comitê Nacional Democrata (DNC) tinham mais de 1.200 pessoas na folha de pagamento, enquanto a campanha de Trump e o Comitê Nacional Republicano (RNC) contavam com cerca de 320 funcionários.
Apesar de ser superado em gastos diretos, Trump conta com apoio significativo de super PACs e do Partido Republicano, o que ajuda a compensar parte da diferença na publicidade e operações de campanha.
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