O presidente da China, Xi Jinping, parabenizou Lee Jae-myung pela sua eleição como presidente da República da Coreia (ROK), a Coreia do Sul, em uma mensagem enviada nesta quarta-feira (4). Ele destacou que as relações entre os dois países são fundamentais, enfatizando que ambos têm sido parceiros estratégicos e vizinhos próximos por mais de três décadas.
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Desde o estabelecimento das relações diplomáticas, há 33 anos, Xi lembrou que as nações superaram diferenças ideológicas e avançaram de maneira conjunta, alcançando sucessos mútuos e estabelecendo um desenvolvimento estável e saudável.
Em sua mensagem, Xi ressaltou que essa trajetória resultou em benefícios não apenas para o bem-estar das populações dos dois países, mas também para a paz, estabilidade e prosperidade na região.
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Ele sublinhou que a China atribui grande importância ao fortalecimento das relações com a Coreia do Sul, mencionando que, no atual cenário global, mudanças rápidas e fatores desestabilizadores estão aumentando.
Xi também reforçou o compromisso de trabalhar com a Coreia do Sul para continuar a parceria estratégica e buscar o desenvolvimento contínuo da cooperação bilateral, trazendo mais benefícios para ambos os povos.
"A China está pronta para promover, junto com a Coreia do Sul, o desenvolvimento contínuo da parceria estratégica de cooperação entre ambos, buscando trazer mais benefícios para seus povos", afirmou.
Expectativas para o governo de Lee Jae-myung
Durante a coletiva de imprensa regular do Ministério das Relações Exteriores da China, realizada nesta quarta-feira (4), a eleição de Lee foi um dos principais tópicos discutidos.
O porta-voz Lin Jian destacou que as relações entre a China e a Coreia do Sul são impulsionadas pelos interesses comuns dos dois países e não devem ser perturbadas por fatores externos.
"A China se opõe à ideia de forçar os países a escolherem um lado ou à confrontação entre blocos. Estamos prontos para trabalhar com a República da Coreia para construir laços bilaterais sólidos e estáveis, em benefício de ambos os povos, e desempenhar um papel positivo para tornar nossa região mais pacífica, estável e próspera", disse.
Sobre a mensagem da Casa Branca, que parabenizou Lee e expressou preocupação com a interferência da China nas democracias globais, Lin reiterou que a China segue rigorosamente o princípio da não-interferência nos assuntos internos de outros países e que nunca interveio nem pretende intervir nos assuntos internos de qualquer nação.
Lin pediu aos Estados Unidos que abandonem a ideia de que a China age da mesma maneira que os EUA e que parem de tentar semear discórdia entre a China e a Coreia do Sul.
"Instamos os Estados Unidos a abandonar a ideia de que a China agiria da mesma forma que os EUA, e a parar de tentar semear discórdia entre a China e a ROK."
Mensagem da Casa Branca
Na terça-feira (3), o Departamento de Estado dos Estados Unidos emitiu uma nota oficial parabenizando Lee Jae-myung pela sua eleição à presidência da Coreia do Sul.
A nota destacou o "compromisso inabalável" entre os dois países, fundamentado no Tratado de Defesa Mútua, valores compartilhados e profundos laços econômicos.
O Departamento de Estado também reiterou que está trabalhando para modernizar a aliança, a fim de atender às demandas do ambiente estratégico atual e enfrentar novos desafios econômicos.
"Estamos comprometidos em aprofundar a cooperação trilateral entre os EUA, Japão e Coreia do Sul para reforçar a segurança regional, aumentar a resiliência econômica e defender nossos princípios democráticos comuns", afirmou o comunicado.
Leia aqui a nota na íntegra em inglês
Embora a nota tenha parabenizado a Coreia do Sul pela eleição livre e justa, um funcionário do Departamento de Estado, em comentário posterior à Reuters por email, expressou a preocupação de Washington com a influência e interferência da China nas democracias ao redor do mundo.
"A Aliança EUA-Coreia do Sul permanece inabalável. Embora a Coreia do Sul tenha realizado uma eleição livre e justa, os Estados Unidos continuam preocupados e contrários à interferência e influência chinesas nas democracias globais", disse o funcionário.
Essa preocupação ocorre em meio a tensões crescentes entre os EUA e a China, especialmente devido à postura do novo presidente da Coreia do Sul, Lee Jae-myung, que se comprometeu a adotar uma abordagem equilibrada nas relações com ambos os países, EUA e China. Durante a campanha, Lee destacou a importância de manter boas relações com as duas potências.
O novo presidente da Coreia do Sul, enfrentará desafios significativos ao tentar equilibrar as relações com os EUA e a China, além de lidar com questões internas como a economia e segurança regional. Sua abordagem em relação a Taiwan, a Rússia e as questões comerciais será observada de perto, já que essas questões podem influenciar as relações entre os EUA e a Coreia do Sul.
Reação dos influenciadores MAGA
A reação de ativistas de extrema direita dos EUA ligados ao movimento trumpista MAGA, incluindo Laura Loomer e Steve Bannon, à vitória de Lee Jae-myung nas eleições presidenciais da Coreia do Sul foi marcada por uma retórica histérica e negativa.
Loomer, autoproclamada conselheira de Donald Trump, associou a eleição de Lee ao avanço da influência chinesa, usando suas plataformas para declarar que "os comunistas tomaram conta da Coreia". Ela foi além ao afirmar que a vitória de Lee representava uma conquista do Partido Comunista Chinês (PCCh).
“Descanse em paz, Coreia do Sul. Os comunistas tomaram conta da Coreia e venceram a eleição presidencial hoje. Isso é terrível.”
Essa retórica alimenta o temor sobre o crescimento da influência de Pequim nas democracias globais, retratando Lee como parte de um movimento alinhado com os interesses comunistas.
Bannon também explorou o delírio sobre a interferência chinesa, levantando preocupações sobre uma possível mudança na orientação política da Coreia do Sul.
Em uma publicação no X, o guru da extrema direita dos EUA criticou a nova liderança sul-coreana, que, segundo ele, teria dado dois "FU's" (expressão vulgar em inglês) para os Estados Unidos: primeiro, ao anunciar que não estavam apressados para chegar a um acordo comercial, e segundo, ao continuar fortalecendo os laços com o PCCh.
"A nova liderança sul-coreana apoiada pelo PCCh deu dois "FU's" (f*da-se) para os Estados Unidos. Primeiramente, anunciaram que não estão com pressa para chegar a um acordo comercial. E em segundo lugar, continuarão a fortalecer os laços com o PCCh", escreveu.
Essas declarações reforçam a narrativa da extrema direita dos EUA de que a Coreia do Sul está cedendo à pressão chinesa, exacerbando a percepção de uma crescente influência de Pequim na política internacional.
Comércio China-Coreia do Sul em 2024 e Desafios
Em 2024, o comércio bilateral entre China e Coreia do Sul atingiu um recorde de US$ 1,91 trilhões, um aumento de 6,7% em relação ao ano anterior.
A China manteve-se como o principal parceiro comercial da Coreia do Sul, com as exportações sul-coreanas para a China totalizando US$ 132,9 bilhões.
No entanto, apesar desse crescimento, as relações comerciais enfrentaram desafios, como evidenciado pela queda de 8,4% nas exportações sul-coreanas para a China em maio de 2025, reflexo das tarifas impostas tanto pelos Estados Unidos quanto pela China.
Esses dados ilustram a complexidade e a interdependência crescente entre os dois países, mas também destacam as dificuldades causadas por políticas comerciais externas e disputas tarifárias.
Histórico das Relações China-Coreia do Sul
As relações diplomáticas entre a China e a Coreia do Sul têm evoluído desde 1882, com o Tratado China-Coreia estabelecendo as bases do comércio bilateral. Após a Guerra da Coreia, as relações se mantiveram limitadas até o estabelecimento formal de relações diplomáticas em 1992. Desde então, o comércio bilateral tem se expandido, mas tensões surgiram, como as causadas pela instalação do sistema de defesa antimísseis THAAD pela Coreia do Sul em 2016, que resultou em um boicote econômico por parte da China.
Nos últimos anos, a cooperação trilateral com o Japão, além do Acordo de Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP), tem sido um marco importante para fortalecer a colaboração entre os países da região Ásia-Pacífico.
Perspectivas Futuras
Com Lee Jae-myung assumindo a presidência, espera-se que as relações entre a China e a Coreia do Sul se aprofundem, apesar dos desafios regionais, como a questão nuclear da Coreia do Norte e a rivalidade EUA-China.
A agenda de Lee, focada em equilíbrio e pragmatismo, também poderá trazer novas oportunidades de cooperação para a região e para os dois países, mantendo a estabilidade e a prosperidade na Ásia.