O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou em entrevista à Fox News, emissora de extrema direita, que o país já encontrou um comprador para o TikTok: um grupo de “pessoas muito ricas”.
Durante uma coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, nesta segunda-feira (30), a porta-voz Mao Ning, questionada sobre o anúncio, respondeu de forma protocolar:
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“Já deixamos clara a posição de princípio da China sobre esse assunto mais de uma vez. Não tenho informações adicionais a acrescentar.”
Diante da insistência dos repórteres, Mao repetiu a mesma linha:
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“Sobre o TikTok, a China já declarou sua posição de princípio mais de uma vez.”
Entenda o anúncio de Trump
Em entrevista exibida neste domingo (29), Trump afirmou que o país já encontrou um comprador para o TikTok. Em conversa com a Fox News, ele disse que o comprador é um grupo de “pessoas muito ricas”, cujos nomes pretende revelar “em cerca de duas semanas” — seu prazo favorito para anúncios.
Ele acrescentou que “provavelmente” precisará da aprovação da China para que a venda seja concluída, mas demonstrou confiança de que o líder chinês, Xi Jinping, apoiará o acordo.
Assista (em inglês)
Prazo e nova prorrogação
Até o momento, Trump já interveio três vezes para adiar o prazo dado ao grupo ByteDance, proprietário chinês do TikTok, para vender a operação nos EUA ou encerrar as atividades do aplicativo no país. Uma ordem executiva assinada em 19 de junho estendeu o prazo para 17 de setembro.
Em nota na época, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que a prioridade é garantir que os usuários estadunidenses continuem tendo acesso ao aplicativo:
“Como disse várias vezes, o presidente Trump não quer que o TikTok saia do ar. Esta extensão vai durar 90 dias, período em que o governo trabalhará para garantir que o negócio seja fechado, de modo que os americanos possam continuar usando o TikTok com a garantia de que seus dados estão seguros.”
Bloqueio temporário e reações
O TikTok chegou a perder o prazo original, em 19 de janeiro, e ficou fora do ar para milhões de usuários nos EUA até que Trump interveio. Na época, quem tentava acessar o app via uma mensagem de bloqueio:
“Desculpe, o TikTok não está disponível no momento. Uma lei proibindo o TikTok foi sancionada nos EUA. Infelizmente, isso significa que você não pode usar o TikTok por enquanto.”
Interesses de possíveis compradores
Diversos nomes de peso já manifestaram interesse em comprar a plataforma, entre eles Kevin O’Leary, estrela do programa Shark Tank, e o ex-secretário do Tesouro Steven Mnuchin.
Trump também declarou que apoiaria seu antigo aliado, Elon Musk, caso ele decidisse adquirir o app. Musk, porém, afirmou em janeiro ser contrário à proibição do TikTok, argumentando que isso “vai contra a liberdade de expressão”. No entanto, o CEO da Tesla disse, em um fórum econômico, que não apresentou nenhuma proposta oficial:
“Eu não tenho nenhum plano sobre o que faria se tivesse o TikTok”, afirmou.
Qual é a posição da China?
A China mantém uma postura cautelosa em relação à venda compulsória do TikTok. O posicionamento oficial indica apoio ao livre arbítrio empresarial, desde que qualquer negociação esteja de acordo com as leis chinesas. Pequim também defende um ambiente de negócios justo nos Estados Unidos, rejeita medidas que imponham controle forçado e destaca a importância da proteção de soberania e dados sensíveis.
Em dezembro do ano passado, o Ministério do Comércio da China declarou que “se opõe firmemente” a qualquer tentativa de forçar a venda ou o controle do TikTok nos EUA, ressaltando que toda negociação deve seguir as leis e regulamentos chineses.
Já em janeiro deste ano, autoridades chinesas indicaram uma mudança de tom, sugerindo que empresas privadas podem negociar de forma autônoma, desde que cumpram a legislação nacional — o que representou um recuo em relação à oposição anterior às vendas compulsórias.
Em abril, o Ministério das Relações Exteriores reforçou essa orientação, afirmando que operações e aquisições devem ser decididas independentemente pelas empresas, com base em princípios de mercado e sempre em conformidade com as leis do país.
Pequim também enfatiza que os EUA devem garantir às empresas chinesas um ambiente de negócios “aberto, justo, imparcial e não discriminatório” — e que qualquer acordo envolvendo o TikTok estará sujeito às normas de controle de exportação de tecnologia da China.
Entenda a polêmica
Em 2023, durante o governo Joe Biden, o Congresso dos EUA aprovou — com amplo apoio bipartidário — um pacote de segurança nacional que ficou conhecido como Restrict Act (Lei de Restrição de Plataformas de Adversários Estrangeiros, em tradução livre).
O principal objetivo da lei é criar uma base legal para o governo restringir, proibir ou forçar a venda de aplicativos e tecnologias controladas por países classificados como “nações adversárias”, como China, Rússia, Irã e Coreia do Norte.
A Restrict Act concedeu ao presidente (na época, Biden) e ao Departamento de Comércio o poder de:
- Investigar e bloquear transações, contratos e tecnologias que envolvam infraestruturas críticas de informação, como redes 5G, softwares e aplicativos.
- Exigir que empresas desinvistam (vendam) partes de suas operações, caso sejam consideradas uma ameaça à segurança nacional.
- Banir aplicativos que não atendam a requisitos de transparência de dados, armazenamento local e proteção de informações sensíveis.
Por que o TikTok virou o alvo principal?
O TikTok, da empresa chinesa ByteDance, se enquadra em vários critérios estabelecidos pela lei:
- É uma plataforma digital com grande base de usuários.
- Está sob propriedade ou controle de um governo considerado adversário.
- Tem potencial de coleta massiva de dados, uso de algoritmos de recomendação e influência sobre a opinião pública.
Com isso, o governo Biden passou a usar a legislação para:
- Ameaçar proibir o TikTok nos EUA.
- Pressionar a ByteDance a vender as operações estadunidenses para um comprador local.
- Exigir um acordo de segurança, garantindo que os dados de usuários estadunidenses fiquem hospedados no país — iniciativa que ficou conhecida como Projeto Texas, em parceria com a Oracle.
Resistência e prorrogações
Desde 2023, a ByteDance resiste à venda, afirmando que não quer abrir mão do algoritmo — peça central da operação do app. Paralelamente, a empresa acionou a Justiça estadunidense, alegando que a restrição viola o direito à liberdade de expressão, garantido pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.
Embora Biden não tenha executado a proibição total, a aprovação da Restrict Act tornou legalmente viável o banimento do TikTok, caso a empresa não aceite as condições impostas.
Principais pontos da legislação
- Base legal ampla para banir ou restringir aplicativos de “adversários estrangeiros”.
- Ênfase em segurança de dados, soberania digital e proteção contra espionagem.
- Instrumento para o Departamento de Comércio supervisionar acordos de venda e exigir auditorias.
Situação atual
Quando Donald Trump retornou ao poder, em 2025, herdou essa estrutura legal — o que lhe permite continuar pressionando a ByteDance com novos prazos, ameaças de banimento e prorrogações de prazos para forçar a venda.
A Restrict Act, criada no governo Biden, é o alicerce jurídico que sustenta a estratégia dos EUA: ou o TikTok vira uma empresa estadunidense — ou fecha no país.