A China colocou em operação, nesta quarta-feira (25), a segunda fase de seu maior e mais avançado campo de gás natural em alto-mar. Localizado no Mar do Sul da China, o projeto Shenhai Yihao — ou “Mar Profundo Nº 1” — representa um marco tecnológico para o país e consolida sua liderança regional na exploração energética offshore.

Com a nova fase, o campo Shenhai Yihao atingiu sua capacidade total de produção: 4,5 bilhões de metros cúbicos por ano. Isso equivale a abastecer cerca de 22 milhões de residências chinesas ou dezenas de milhares de fábricas de médio porte — ou uma combinação proporcional de ambos os setores, contribuindo de forma decisiva para a segurança energética da China.
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O gás extraído em águas ultraprofundas é canalizado por cerca de 250 quilômetros de gasodutos submarinos até bases costeiras nas cidades de Hong Kong, Sanya e Zhuhai, integrando-se à rede nacional de fornecimento de energia e apoiando regiões com intensa atividade econômica.
Segundo a Corporação Nacional de Petróleo Offshore da China (CNOOC), principal estatal do setor e responsável pelo empreendimento, o Shenhai Yihao opera a mais de 1.500 metros de profundidade, com poços que chegam a 5.000 metros abaixo do leito marinho. As condições extremas de temperatura e pressão exigiram soluções inéditas, consolidando a capacidade da China em engenharia submarina de alta complexidade.
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De acordo com o gerente do projeto, Liu Kang, a expertise adquirida deverá impulsionar futuras explorações de petróleo e gás em águas profundas, reforçando a segurança energética nacional com fontes próprias.
Expansão estratégica do gás natural chinês
A ativação do Shenhai Yihao integra um plano mais amplo da China para ampliar o uso do gás natural — combustível com menor emissão de carbono em comparação ao carvão — e reduzir a dependência de importações energéticas.
Entre os projetos mais relevantes está o Dongfang 29-1, na Baía de Yinggehai, que começou a operar em janeiro de 2025. Com seis poços planejados, o campo deve atingir pico de produção superior a 1 milhão de metros cúbicos por dia ainda este ano, utilizando infraestrutura conectada a plataformas já existentes.
Outros projetos em curso incluem:
- Bozhong 26-6 (Bacia de Bohai): usa tecnologia de captura e reinjeção de CO2 (CCUS), com pico estimado de 22.300 barris equivalentes por dia;
- Luda 5-2 North e Caofeidian 6-4: voltados à redução de emissões e otimização da produção;
- Wenchang 19-1 (Mar do Sul da China): com entrada prevista até 2027, e capacidade projetada de 12 mil barris equivalentes por dia.
Esses empreendimentos reforçam o protagonismo chinês na exploração de gás natural em águas profundas — um campo antes dominado por países como os Estados Unidos e a Noruega. No entanto, também geram debates ambientais, especialmente diante dos compromissos globais com a transição energética e a meta de redução das emissões de carbono.
Especialistas apontam que a expansão da CNOOC fortalece a autossuficiência energética da China, sobretudo em regiões estratégicas como Hainan e Guangdong. Ao mesmo tempo, destacam o desafio de equilibrar o avanço tecnológico com pressões internacionais por fontes renováveis e políticas climáticas mais ambiciosas.
Segurança energética como prioridade estratégica
A expansão do gás natural em alto-mar está inserida em uma política mais ampla do governo chinês para fortalecer sua segurança energética, considerada um dos pilares do desenvolvimento nacional. Diante da crescente demanda por energia e das tensões geopolíticas que afetam cadeias de suprimento globais, Pequim tem buscado diversificar suas fontes energéticas, reduzir a dependência de importações e garantir estabilidade no abastecimento interno.
Nos últimos anos, a China adotou uma série de medidas para alcançar esses objetivos, incluindo:
- Investimentos em produção doméstica de petróleo e gás, com foco em campos marítimos e regiões de difícil acesso, como o oeste do país;
- Ampliação da capacidade de armazenamento estratégico de energia, especialmente de gás natural liquefeito (GNL);
- Acordos bilaterais de longo prazo com países como Rússia, Catar e Irã, visando estabilidade nos contratos de fornecimento;
- Modernização de infraestruturas de transmissão e distribuição, como oleodutos, gasodutos e terminais portuários;
- Incentivo ao uso de tecnologias de exploração avançadas, como inteligência artificial, sensores submarinos e plataformas não tripuladas, que aumentam a eficiência e reduzem riscos operacionais.
Além disso, o 14º Plano Quinquenal (2021–2025) estabelece como meta central aumentar a autossuficiência energética, com destaque para o gás natural como “combustível de transição” rumo a uma matriz mais limpa. O plano também ressalta a importância de “garantir a segurança em todas as etapas da cadeia energética”, incluindo produção, transporte, refino e distribuição.
Essa abordagem pragmática busca equilibrar três frentes: crescimento econômico, estabilidade geopolítica e compromissos climáticos, mesmo diante do desafio de ainda depender fortemente de combustíveis fósseis.