CHINA EM FOCO

Gigante chinesa da tecnologia vira alvo dos EUA e guerra dos chips se intensifica

Mesmo após trégua tarifária, Washington escala ofensiva contra indústria da China de inteligência artificial e mira na Huawei

Mesmo após trégua tarifária, Washington escala ofensiva contra indústria da China de inteligência artificial e mira na Huawei
Gigante chinesa da tecnologia vira alvo dos EUA e guerra dos chips se intensifica.Mesmo após trégua tarifária, Washington escala ofensiva contra indústria da China de inteligência artificial e mira na HuaweiCréditos: Huawei
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A China reagiu com firmeza a uma nova orientação do Escritório de Indústria e Segurança (BIS, da sigla em inglês) dos Estados Unidos, que proíbe o uso dos chips de inteligência artificial (IA) da gigante chinesa Huawei, sob a justificativa de possível violação dos controles de exportação estipulados por Washington.

Durante uma coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, nesta sexta-feira (16), em Pequim, o porta-voz Lin Jian declarou que os EUA extrapolam o conceito de segurança nacional.

Segundo Lin, Washington abusa dos controles de exportação e da jurisdição extraterritorial ao bloquear e reprimir, de forma infundada e maliciosa, a indústria de chips e IA da China. A medida, segundo ele, viola gravemente as regras de mercado, desestabiliza as cadeias industriais e de suprimentos globais e prejudica os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas.

“A China se opõe firmemente a isso e absolutamente não aceita. Instamos os EUA a abandonarem seus atos protecionistas e o bullying unilateral, e a cessarem sua repressão flagrante às empresas de tecnologia da China e à indústria de IA. A China tomará medidas firmes para defender seu direito ao desenvolvimento e os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”, afirmou o porta-voz.

Desconfiança cresce mesmo após trégua comercial

A nova diretriz do BIS foi divulgada um dia após o anúncio de um acordo de trégua tarifária de 90 dias entre os dois países. O pacto, firmado na segunda-feira (12), buscava aliviar as tensões da guerra comercial que ameaça a economia global.

Negociado em Genebra, o acordo envolveu o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, o representante comercial Jamieson Greer e o vice-premiê chinês He Lifeng. O texto prevê que os EUA reduzam tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China diminui as tarifas sobre bens americanos de 125% para 10%.

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Além disso, a China se comprometeu a suspender ou eliminar contramedidas não tarifárias, como restrições a empresas estadunidenses e controles de exportação. Um canal permanente de negociações foi criado, com reuniões alternadas entre os países.

O anúncio provocou reações imediatas nos mercados financeiros, com alta nas bolsas dos EUA, Ásia e Europa, além da valorização do yuan. No entanto, especialistas alertam que questões estruturais continuam sem resolução.

BIS reforça sanções a tecnologias sensíveis

Na terça-feira (13), um dia depois da trégua na guerra tarifária, o BIS emitiu nova diretriz que amplia os controles sobre chips de computação avançada (ICs) — conhecidos simplesmente como chips — e produtos relacionados, caso sejam usados para treinamento de modelos de IA voltados a fins militares, de inteligência ou armas de destruição em massa (WMD, da sigla em inglês) em países do chamado Grupo D:5.

Esse grupo inclui China e a Região Administrativa Especial de Macau, Coreia do Norte, Irã, Síria, Rússia, Venezuela e Cuba — todos sujeitos a restrições rigorosas por parte dos EUA, por suposta ligação com programas militares ou políticas contrárias à segurança nacional e interesses estratégicos de Washington.

Empresas e indivíduos dos EUA que exportem tecnologia sensível a esses países, ou atuem no suporte a projetos que envolvam essas tecnologias sem licença específica do BIS, podem ser punidos civil ou criminalmente. Mesmo sem violação direta, as partes envolvidas podem ser incluídas na chamada Entity List — a lista de entidades estrangeiras consideradas uma ameaça.

O BIS especifica que qualquer exportação, reexportação ou transferência (inclusive dentro do próprio país) de ICs avançados e produtos sujeitos às regulamentações de exportação dos EUA, quando houver conhecimento de que serão usados para treinar IA em países do Grupo D:5, exige licença prévia. A norma também se aplica a empresas de infraestrutura como serviço (IaaS, da sigla em ingês), como data centers.

Chips Ascend da Huawei: alvo direto

Os chips Ascend da Huawei, desenvolvidos pela subsidiária HiSilicon, são processadores especializados em inteligência artificial, projetados para competir com as GPUs da NVIDIA e os TPUs do Google. São utilizados no treinamento e inferência de modelos de machine learning e deep learning, com aplicação em data centers, nuvem, cidades inteligentes, veículos autônomos e telecomunicações.

Esses chips utilizam a Arquitetura Da Vinci, própria da Huawei, otimizada para paralelismo massivo e alta eficiência energética. Os modelos mais destacados incluem:

  • Ascend 310: voltado para inferência de IA em dispositivos e computação de borda.
     
  • Ascend 910: utilizado para treinamento de grandes modelos de IA, concorrente direto das soluções da NVIDIA.
     
  • Ascend 1000: próxima geração, ainda pouco divulgada.

O framework de IA da Huawei, chamado MindSpore, integra os chips Ascend a um ecossistema próprio, similar ao TensorFlow e PyTorch.

Por que os EUA temem os chips Ascend?

Os chips Ascend tornaram-se um símbolo da autonomia tecnológica chinesa. Após as sanções dos EUA à Huawei, a empresa passou a liderar os esforços da China para reduzir a dependência de semicondutores e tecnologias ocidentais.

Washington alega que os chips podem ser usados para aplicações militares ou de vigilância estatal, e vê na Huawei uma ameaça por seus supostos vínculos com o governo chinês. As novas restrições reforçam essa preocupação, visando impedir o acesso de entidades chinesas a tecnologias sensíveis produzidas por empresas americanas.

O endurecimento das restrições contra a Huawei, mesmo após uma trégua tarifária, mostra que os EUA continuam a tratar o avanço tecnológico da China como questão de segurança nacional. A tensão geopolítica entre as duas potências permanece acentuada, agora com foco redobrado em setores estratégicos como chips e inteligência artificial.

 

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