CHINA EM FOCO

'Ameaça imaginária': China desafia EUA e alerta para faíscas de guerra na Ásia

Nas Filipinas, declarações do secretário de Defesa de Trump, Pete Hegseth, acendem novo capítulo na disputa geopolítica pelo controle do Indo-Pacífico

Nas Filipinas, declarações do secretário de Defesa de Trump, Pete Hegseth, acendem novo capítulo na disputa geopolítica pelo controle do Indo-Pacífico.
'Ameaça imaginária': China desafia EUA e alerta para faíscas de guerra na Ásia.Nas Filipinas, declarações do secretário de Defesa de Trump, Pete Hegseth, acendem novo capítulo na disputa geopolítica pelo controle do Indo-Pacífico.Créditos: Fotomontagem (Canva)
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Durante sua primeira visita oficial à Ásia como secretário de Defesa de Donald Trump, Pete Hegseth declarou que Estados Unidos e Filipinas devem permanecer “ombro a ombro” diante da "ameaça" representada pela China.

A fala foi feita em Manila nesta sexta-feira (28), durante reunião com o presidente Ferdinand Marcos Jr., como parte da estratégia de dissuasão de Washington no Indo-Pacífico.

Pequim não demorou a responder. Em coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China no mesmo dia, o porta-voz Guo Jiakun classificou a declaração de Hegseth como uma “fantasia para incitar confrontos e aumentar as tensões na região”.

“Qualquer que seja a cooperação entre os EUA e as Filipinas, ela não deve ter como alvo nem prejudicar terceiros, muito menos espalhar acusações sobre ameaças imaginárias”, afirmou Guo.

Ele destacou que nunca houve problema com liberdade de navegação no Mar do Sul da China e acusou os EUA de provocarem tensões ao “rotular falsamente a China como ameaça” e “minar a paz regional com envio de recursos militares”.

Viagem estratégica

A viagem de Hegseth inclui Filipinas e Japão, e visa reforçar alianças militares com parceiros-chave dos EUA diante da crescente presença chinesa.

Em Manila, Hegseth anunciou o envio de sistemas de mísseis antinavio NMESIS e veículos não tripulados, que serão utilizados em exercícios conjuntos com os filipinos.

Também reiterou o “compromisso inabalável” dos EUA com a defesa das Filipinas, com base no tratado de defesa mútua de 1951.

A visita foi considerada pelo presidente Marcos Jr. como uma “mensagem muito forte” do compromisso renovado entre os dois países.

No Japão, onde deve chegar nos próximos dias, Hegseth participará de uma cerimônia em Iwo Jima e se reunirá com autoridades japonesas.

Governo Trump e contenção da China

No segundo mandato de Donald Trump, iniciado em janeiro deste ano, os EUA adotaram uma postura ainda mais assertiva e confrontacional no Mar do Sul da China, reconhecendo abertamente a decisão arbitral de Haia (2016), que nega a legitimidade das reivindicações territoriais da China na região.

Washington tem intensificado investimentos em infraestrutura militar nas Filipinas, expandido a Base Aérea de Basa e mantido presença contínua com navios de guerra e aeronaves. A retórica oficial se alinha ao discurso de Hegseth: o Mar do Sul da China é uma linha vermelha para os EUA.

Entenda as tensões no Mar do Sul da China

As tensões entre China e Filipinas no Mar do Sul da China se intensificaram nos últimos meses, com incidentes entre embarcações, trocas de acusações diplomáticas e crescente envolvimento dos Estados Unidos.

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O centro da disputa está em áreas marítimas ricas em recursos e de alta relevância estratégica para o comércio global, como os recifes de Ren'ai Jiao (Second Thomas Shoal) e Xianbin Jiao (Ayungin Shoal), localizados no arquipélago das Ilhas Spratly (Nansha Qundao).

O navio "encalhado" e os incidentes no recife Ren’ai

Desde 1999, a Marinha filipina mantém deliberadamente um navio de guerra encalhado em Ren’ai Jiao como forma de consolidar presença na região. A China alega que as Filipinas prometeram retirá-lo, mas, em vez disso, estão tentando reforçá-lo.

Em outubro de 2023, embarcações filipinas tentaram abastecer o navio com materiais de construção, o que levou a interceptações da Guarda Costeira chinesa e colisões entre as embarcações.

A China acusa as Filipinas de violações à soberania e provocação deliberada; enquanto Manila acusa Pequim de condutas perigosas e obstrutivas, com apoio diplomático dos EUA e aliados.

O papel dos EUA

A Corte Permanente de Arbitragem de Haia, em 2016, deu ganho de causa às Filipinas, declarando que a China não tem base legal para reivindicar áreas como Ren’ai Jiao. Pequim não reconhece a decisão, classifica-a como “nula” e continua reivindicando soberania histórica sobre a maior parte do Mar do Sul da China.

Os Estados Unidos, que não são parte da disputa, têm reforçado o apoio às Filipinas com presença militar e diplomática. Washington justifica sua atuação com o argumento de defender a liberdade de navegação internacional, enquanto Pequim denuncia uma agenda ocidental para conter a ascensão chinesa.

Os EUA têm aumentado bases militares nas Filipinas e realizado operações navais na região; já a China vê essa postura como intromissão provocadora e geopolítica de contenção.

Disputa geopolítica

A região do Mar do Sul da China é disputada por China, Filipinas, Vietnã, Malásia e Brunei, e abriga importantes recursos naturais — como petróleo e gás —, além de rotas estratégicas de comércio marítimo por onde passa cerca de um terço do tráfego naval global.

Apesar de não ter reivindicações territoriais diretas, os EUA justificam sua presença como defesa da “liberdade de navegação”. Para Pequim, trata-se de interferência geopolítica e contenção militar.

Alerta para o futuro

O professor Zheng Yongnian, um dos principais especialistas chineses em política internacional, alerta que a região Ásia-Pacífico se tornou um barril de pólvora prestes a explodir.

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Ele afirma que os EUA utilizam aliados como as Filipinas como “agentes” na contenção da China, fomentando uma guerra de percepções que pode escalar rapidamente para conflito direto.

A visita de Pete Hegseth às Filipinas simboliza o avanço de uma nova fase da disputa estratégica global entre EUA e China. O Mar do Sul da China tornou-se o epicentro dessa disputa, onde diplomacia, armamento e alianças se cruzam em um tabuleiro que pode definir os rumos da segurança mundial nas próximas décadas.

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