No domingo (23), o premiê da China, Li Qiang, recebeu uma comitiva dos Estados Unidos para uma reunião no Grande Salão do Povo, em Pequim. Entre os participantes estavam o senador Steve Daines (Republicano-Montana) e executivos de empresas como Qualcomm, Pfizer, Cargill e Boeing, que participam do Fórum de Desenvolvimento da China 2025.
O encontro ocorre em um momento crítico das relações sino-estadunidenses, marcadas por disputas comerciais, novas tarifas impostas pelos EUA e divergências sobre a produção de fentanil. Enquanto o governo de Donald Trump endurece sua política tarifária contra Pequim, a China busca manter canais de diálogo abertos e reforçar a cooperação econômica.
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Cooperação econômica como pilar das relações bilaterais
Durante a reunião, Li Qiang enfatizou que a cooperação econômica e comercial tem sido fundamental para as relações entre China e Estados Unidos ao longo das últimas décadas. Ele destacou que a história demonstra que ambos os países se beneficiam da colaboração e perdem com o confronto, defendendo o diálogo e parcerias de ganhos mútuos, em vez de uma abordagem de soma zero.
O premiê expressou sua expectativa de que os EUA avancem junto com a China na mesma direção, mantendo uma comunicação aberta e fortalecendo a confiança mútua. Ele ressaltou que guerras comerciais não trazem vencedores e que o crescimento econômico depende da abertura e da cooperação entre as nações.
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Li Qiang sugeriu que China e EUA ampliem suas oportunidades comerciais em vez de restringi-las com tarifas e sanções. Ele reafirmou o compromisso do governo chinês em tratar empresas estrangeiras de forma igualitária e manter um ambiente de negócios favorável.
"A China sempre recebe de braços abertos empresas de todo o mundo, incluindo as dos Estados Unidos, para compartilharem as oportunidades de desenvolvimento no país. Continuaremos a tratar empresas nacionais e estrangeiras de maneira igualitária, atender às suas demandas legítimas e manter um ambiente de negócios saudável," afirmou Li.
Empresários dos EUA demonstram interesse em manter investimentos na China
Os representantes dos EUA reconheceram as transformações econômicas da China nas últimas décadas e afirmaram que empresas estadunidenses continuam a desempenhar um papel ativo no crescimento chinês.
Além disso, manifestaram interesse em manter investimentos no país, ressaltando a importância da cooperação econômica para garantir benefícios mútuos e estabilidade nos mercados globais.
Quem é Steve Daines no governo Trump?
O senador Steve Daines (R-MT) é um aliado próximo do presidente Donald Trump e desempenha um papel estratégico nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China. Durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), Daines esteve envolvido em debates sobre tarifas e políticas comerciais com Pequim.
Antes de ingressar na política, Daines construiu uma carreira de destaque no setor privado. Ele trabalhou por 13 anos na Procter & Gamble (P&G), gerenciando operações nos EUA antes de se mudar para Hong Kong e China, onde viveu por seis anos. Durante esse período, foi responsável por expandir fábricas e negócios da P&G na Ásia, adquirindo experiência direta nas relações comerciais sino-estadunidenses.
Em 1997, Daines retornou a Montana para atuar no negócio de construção civil da família. Poucos anos depois, em 2000, ingressou na RightNow Technologies, empresa de software fundada por Greg Gianforte. Lá, ocupou cargos executivos como vice-presidente de Vendas na América do Norte e vice-presidente da divisão Ásia-Pacífico. Durante sua gestão, a RightNow se tornou uma referência no setor e o maior empregador privado de Bozeman, Montana.
Daines permaneceu na empresa até março de 2012, quando deixou o setor corporativo para lançar sua carreira política. Atualmente, além de senador, ele atua como um dos principais articuladores da administração Trump nas discussões comerciais com Pequim, buscando equilibrar os interesses econômicos de Washington na relação bilateral com a China.
Relações China-EUA: de Trump a Biden e de volta a Trump
As relações entre China e Estados Unidos passaram por mudanças significativas desde o primeiro mandato de Donald Trump na Casa Branca (2017-2021), atravessaram a gestão de Joe Biden (2021-2025) e agora enfrentam novos desafios sob o segundo mandato de Trump.
No primeiro governo de Trump, a relação sino-estadunidense foi marcada por forte confrontação comercial. Ele impôs tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em produtos chineses, alegando práticas comerciais desleais, roubo de propriedade intelectual e ameaças à indústria dos EUA. Pequim retaliou com tarifas sobre produtos agrícolas e industriais do país.
A guerra comercial resultou no Acordo de Fase 1, assinado em janeiro de 2020, no qual a China prometeu aumentar suas compras de produtos dos EUA. No entanto, a pandemia de Covid-19 e as tensões geopolíticas, como as sanções contra a Huawei e restrições a empresas chinesas nos EUA, ampliaram a rivalidade.
Com a chegada de Joe Biden à Casa Branca, a estratégia mudou para uma abordagem de competição estratégica. Seu governo manteve as tarifas da era Trump e ampliou restrições tecnológicas contra empresas chinesas, especialmente no setor de semicondutores.
Paralelamente, Biden buscou reforçar alianças internacionais como o Quad (parceria com Japão, Índia e Austrália) e o AUKUS (aliança militar com Reino Unido e Austrália), visando conter a influência chinesa na Ásia-Pacífico.
Apesar das tensões, Biden e Xi Jinping realizaram encontros diplomáticos em 2023 para reduzir atritos comerciais, enquanto Pequim reforçava sua diplomacia econômica para atrair investimentos dos EUA e expandir parcerias com países do Sul Global.
Desde que reassumiu a presidência em 2025, Trump adotou uma postura ainda mais protecionista. Seu governo impôs novas tarifas de 20% sobre produtos chineses, o que levou Pequim a retaliar com taxas de 15% sobre exportações agrícolas estadunidenses.
Os EUA também voltaram a pressionar a China sobre a produção e exportação de precursores de fentanil, um dos principais fatores da crise de opioides nos Estados Unidos.
Diante desse cenário, a China tem adotado medidas para mitigar impactos econômicos, incluindo a diversificação de mercados e a atração de investimentos estrangeiros.
O premiê chinês Li Qiang reforçou o discurso de abertura econômica, criticando o protecionismo de Washington e defendendo a necessidade de cooperação global para a estabilidade econômica.
A visita do senador Steve Daines a Pequim sinaliza uma tentativa de manter canais de diálogo abertos entre as duas potências, em meio a uma relação cada vez mais volátil.
A perspectiva é de que, nos próximos anos, as tensões econômicas continuem, mas ambos os lados busquem maneiras de evitar um colapso total da relação bilateral.