As relações entre China e Japão sempre foram complexas, atravessando períodos de cooperação e tensão. Nos últimos meses, disputas políticas e históricas voltaram a emergir, colocando novos desafios para a diplomacia entre os dois países.
Durante uma coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta terça-feira (18), a porta-voz Mao Ning anunciou uma viagem do principal diplomata chinês ao Japão.
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O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, se prepara para visitar Tóquio nos dias 21 e 22 de março, onde participará da 11ª Reunião Trilateral de Ministros das Relações Exteriores China-Japão-Coreia do Sul e co-presidirá o Sexto Diálogo Econômico de Alto Nível China-Japão.
Na visita, Wang Yi também se encontrará com seu homólogo japonês, Takeshi Iwaya, para debater questões bilaterais e econômicas, bem como formas de manter a estabilidade na região.
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Já durante a coletiva de imprensa desta quarta-feira (19), Mao Ning foi questionada sobre as recentes declarações do primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, que, ao lado do presidente dos EUA, Donald Trump, reafirmou os compromissos militares entre Japão e Estados Unidos em um encontro realizado em Washington no dia 5 de fevereiro deste ano.
No encontro com Trump, Ishiba destacou a necessidade de uma cooperação mais estreita com os EUA diante das preocupações sobre a segurança no Indo-Pacífico. Ambos os líderes reiteraram que se opõem a quaisquer tentativas da China de mudar unilateralmente o status quo no Estreito de Taiwan por meio da força ou coerção, fortalecendo a cooperação em defesa e segurança na região.
Mao Ning comentou que a China apresentou sérias objeções ao Japão imediatamente após esses acontecimentos. As relações entre China e Japão estão em um momento crucial para sua melhora e desenvolvimento.
“A questão de Taiwan é um assunto interno da China e não admite interferência externa. O Japão tem responsabilidades históricas para com o povo chinês devido ao seu domínio colonial sobre Taiwan e deve agir com extrema prudência nessa questão”, afirmou a porta-voz.
Mao disse ainda que a China espera que o Japão cumpra seus compromissos de promover integralmente a relação estratégica de benefício mútuo entre China e Japão e de construir uma relação construtiva e estável, adequada à nova era.
“Além disso, esperamos que o Japão remova os obstáculos que impedem a melhoria e o desenvolvimento das relações bilaterais”, finalizou.
Aliança Japão e EUA
A cooperação militar entre Washington e Tóquio tem se aprofundado nos últimos anos, com os EUA mantendo bases militares em território japonês e fornecendo tecnologia de defesa avançada.
O Japão tem aumentado seus investimentos em defesa, incluindo o desenvolvimento de caças de próxima geração e sistemas antimísseis, em resposta à crescente influência militar chinesa na região.
O QUAD e a China
Outro fator que complica ainda mais as relações entre China e Japão é o fortalecimento do Diálogo de Segurança Quadrilateral (QUAD), grupo que inclui Estados Unidos, Japão, Austrália e Índia.
O QUAD tem sido cada vez mais visto por Pequim como uma aliança militar disfarçada, com o objetivo de conter a influência chinesa na região do Indo-Pacífico. Em resposta, a China tem alertado contra o que chama de "mentalidade de Guerra Fria" e reforçado sua presença diplomática e militar em áreas estratégicas.
Relações China e Japão
A história entre China e Japão é marcada por profundas influências culturais, mas também por conflitos violentos. No final do século 19, o Japão expandiu sua influência na região, derrotando a China na Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895) e assumindo o controle de Taiwan.
Durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), o Massacre de Nanquim e outras atrocidades perpetradas pelo Japão deixaram cicatrizes profundas na relação bilateral.
Somente em 1972 os dois países normalizaram suas relações diplomáticas, quando a China renunciou a pedidos de reparação de guerra e o Japão reconheceu o governo de Pequim como o único representante legítimo da China.
Apesar das tensões políticas e territoriais, China e Japão mantêm uma relação comercial robusta e interdependente. A China é o maior parceiro comercial do Japão, enquanto o Japão figura entre os principais parceiros econômicos de Pequim. O comércio bilateral abrange setores estratégicos como eletrônicos, componentes automotivos, semicondutores e produtos químicos.
Nos últimos anos, as empresas japonesas expandiram seus investimentos na China, principalmente no setor de manufatura e tecnologia, aproveitando o vasto mercado consumidor chinês. Da mesma forma, investimentos chineses no Japão têm crescido, especialmente em startups de tecnologia, infraestrutura e energia renovável.
Entretanto, desafios persistem. A guerra comercial entre EUA e China gerou incertezas para as cadeias de suprimentos, afetando também as empresas japonesas que dependem de insumos chineses. O avanço das restrições tecnológicas impostas por Washington também tem impactado as exportações japonesas para a China, especialmente no setor de semicondutores.
Apesar das diferenças geopolíticas, ambos os países buscam preservar seus laços econômicos. Pequim e Tóquio têm promovido diálogos para facilitar o fluxo de investimentos e minimizar riscos comerciais, garantindo que as disputas políticas não prejudiquem o crescimento econômico bilateral.
A visita de Wang Yi também deverá abordar esses aspectos, buscando manter a estabilidade das relações comerciais sino-japonesas.