A China acusa Washington de mentir "descaradamente" sobre o bloco de segurança Quad, formado por Estados Unidos, Austrália, Índia e Japão.
No último sábado (21), o presidente dos EUA, Joe Biden, abriu a própria casa, para receber o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, para a cúpula do Quad em Wilmington, Delaware.
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O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, também participou do encontro.
Durante coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China em Pequim, nesta segunda-feira (23), o porta-voz Lin Jian observou que o Quad é identificado como o principal agrupamento regional e desempenha um papel de liderança na estratégia Indo-Pacífico dos EUA.
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Ele pontuou que o bloco de segurança é uma ferramenta que os EUA utilizam para conter a China e perpetuar sua hegemonia. Observou que a estratégia Indo-Pacífico tenta reunir forças para excluir e conter o país asiático ao promover a narrativa da "ameaça chinesa".
"O Quad tenta promover a cooperação militar e de segurança sob o pretexto de questões marítimas — mesma intenção, mesmas táticas. Embora os EUA afirmem que o grupo não tem como alvo a China, o primeiro tema da cúpula foi sobre a China, e ela foi mencionada ao longo de todo o evento. Os EUA estão mentindo descaradamente, e até mesmo a mídia americana não acredita nisso", comentou.
Lin ressaltou ainda que os EUA precisam abandonar sua obsessão de perpetuar sua supremacia e conter a China. Ele insta Washington a parar de usar os países regionais como ferramentas e de encobrir a intenção estratégica por trás de agrupamentos exclusivos.
"[Os EUA deveriam] agir conforme sua palavra de que a revitalização de suas alianças não visa a China, em vez de buscar ganhos egoístas à custa da segurança estratégica e do bem-estar dos países e povos da Ásia-Pacífico", finalizou.
Como foi a cúpula do Quad em Delaware
Durante a cúpula do Quad em Delaware no último final de semana, Biden disse que a China continua agindo de forma agressiva e está testando os EUA e seus aliados na região do Indo-Pacífico.
Em comunicado conjunto, a Declaração de Wilmington, divulgada no sábado (21), EUA, Austrália, Japão e Índia anunciaram planos para lançar operações conjuntas da guarda costeira no próximo ano, com o objetivo de melhorar a interoperabilidade e avançar a segurança marítima na região.
Os quatro países do Quad concordaram em expandir a cooperação em segurança, incluindo uma missão conjunta da guarda costeira, com foco na China. O texto do comunicado conjunto mencionou os mares do Leste e do Sul da China e deixou à mostra a natureza do confronto do bloco com a intenção de incitar tensões geopolíticas na Ásia-Pacífico.
Embora o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, tenha insistido que "a China não é o foco do Quad", o tema esteve presente durante toda a cúpula. A declaração não mencionou a China diretamente, mas os líderes expressaram "séria preocupação" com a situação nos mares do Leste e do Sul da China.
O alvo do Quad é a China
A despeito da fala de Sullivan de que o foco do Quad não é a China, esse posicionamento está descolado da realidade. É o que analisa o vice-diretor do Instituto de Direito e Política Marítima do Instituto Nacional de Estudos do Mar do Sul da China, Ding Duo.
Em declaração ao jornal chinês Global Times desta segunda-feira (23), Ding destacou que, embora os membros do Quad tentem minimizar o foco na China, ao enfatizar os valores compartilhados e interesses estratégicos dos quatro países, a análise dos resultados da cúpula revela que o bloco tem como alvo a China.
Para Ding, "o alvo não é apenas estratégico, mas envolve também arranjos táticos e planos específicos". O comunicado conjunto mencionou uma missão conjunta da guarda costeira em 2025 e a ampliação da cooperação logística e do compartilhamento de dados, especialmente no desenvolvimento de laços de segurança marítima com países do Pacífico e do Sudeste Asiático.
Ding observou que o Quad pode apoiar países como Filipinas e Japão, que têm disputas marítimas com a China, por meio de operações marítimas conjuntas específicas.
O comunicado também mencionou o uso "perigoso" de embarcações de guarda costeira, aludindo aos atritos entre China e Filipinas. No entanto, analistas chineses afirmam que as ações da China visam proteger sua soberania em face das provocações filipinas instigadas pelos EUA.
Quad é uma ferramenta estratégica que mira a China
O professor da Universidade de Assuntos Exteriores da China, Li Haidong, comentou ao Global Times que o Quad é liderado pelos EUA como uma ferramenta estratégica na competição com a China, mas ressaltou que os outros membros têm seus próprios interesses.
"Embora Índia, Austrália e Japão tenham seus próprios interesses, a natureza e a direção do Quad continuarão alinhadas com as necessidades estratégicas dos EUA, disse Li.
Ele também destacou que Biden não perderia a oportunidade de sua última cúpula do Quad para intensificar a retórica da "ameaça chinesa" e criar uma impressão equivocada de que a política de Washington em relação à China é amplamente aceita.
Li observou ainda que o Quad é uma parceria relativamente frouxa, ao contrário das alianças mais formais dos EUA com o Japão ou a Austrália. Cada membro do Quad busca utilizar o bloco para elevar seu próprio status internacional. No entanto, ainda é incerto se o Quad continuará sendo um grupo flexível ou se se consolidará como uma verdadeira aliança.
Além disso, analistas chineses apontaram que a referência vaga à China no comunicado do Quad pode ser resultado de um compromisso interno, já que os membros têm diferentes visões sobre como lidar com a China, dado que Japão, Austrália e Índia têm intensas trocas econômicas e culturais com o país asiático.
Sobre o Quad
O Quad (Diálogo de Segurança Quadrilateral) é uma parceria estratégica entre quatro países: Estados Unidos, Japão, Índia e Austrália. Formado em 2007, o grupo tem como objetivo principal promover a segurança e a estabilidade no Indo-Pacífico, uma região de importância geopolítica que inclui partes do Oceano Índico e do Pacífico.
O Quad defende os "princípios democráticos" e a liberdade de navegação, principalmente em áreas estratégicas como os mares do Leste e do Sul da China, onde há disputas territoriais com a China. Além de questões de segurança, o grupo também coopera em áreas como mudança climática, saúde global, tecnologias emergentes e infraestrutura.
O grupo ganhou destaque durante o governo do presidente Joe Biden, e se posiciona como uma forma de conter a influência da China na Ásia-Pacífico.
A parceria Quad é considerada uma aliança flexível, sem obrigações formais de defesa mútua, o que a diferencia de alianças militares tradicionais como a OTAN.
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