CHINA EM FOCO

EUA estão de prontidão para um possível conflito com a China até 2027

China reage a sistema de mísseis de médio alcance implantado nas Filipinas pelos Estados Unidos: 'ameaça gravemente a segurança dos países da região'

Créditos: Fotomontagem Canva - EUA anunciam que estão de prontidão para possível conflito contra a China até 2027
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Na escalada de tensões na região da Ásia-Pacífico, há dois desdobramentos importantes nesta semana. Um plano de guerra dos EUA que mira a China e a informação de que Washington não tem planos imediatos de retirar um sistema de mísseis de médio alcance implantado nas Filipinas, apesar das exigências de Pequim.

Sobre o plano de guerra, a Chefe de Operações Navais dos EUA, Almirante Lisa Franchetti, apresentou nesta quarta-feira (18) uma nova iniciativa chamada Projeto 33. A iniciativa inclui o objetivo de expandir o uso de sistemas robóticos e autônomos em toda a frota até 2027, para que o serviço naval esteja preparado para uma possível guerra contra a China.

Essa nova iniciativa faz parte do seu "Plano de Navegação CNO" (leia abaixo), que reconhece que os oficiais "não podem criar uma Marinha tradicional maior em apenas alguns anos".

"O presidente da República Popular da China [Xi Jinping] disse às suas forças para estarem prontas para a guerra até 2027 — estaremos mais prontos. O Projeto 33 é como colocaremos mais jogadores prontos em campo até 2027. O Projeto 33 estabelece meus objetivos para fazer avanços estrategicamente significativos no menor tempo possível com os recursos que temos", escreveu Franchetti.

Sobre a informação de que os Estados Unidos não têm planos imediatos de retirar um sistema de mísseis de médio alcance implantado nas Filipinas, apesar das exigências da China, tem causado apreensão em Pequim.

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De acordo com matéria exclusiva publicada pela Reuters nesta quinta-feira (19) os Estados Unidos estão testando a viabilidade de usar o sistema de mísseis em um conflito regional.

O sistema Typhon (leia abaixo) pode ser equipado com mísseis de cruzeiro capazes de atingir alvos chineses, foi levado para exercícios conjuntos no início deste ano, afirmaram Washington e Manila à época, mas permaneceu lá desde então.

Durante coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações da China nesta quinta-feira (19), o porta-voz Lin Jian comentou que o país está preocupado com a situação.

"Quanto à implantação do sistema de mísseis de Capacidade de Médio Alcance dos EUA nas Filipinas, a China já deixou claro sua oposição mais de uma vez. Essa implantação é um movimento para retroceder no tempo. Ameaça gravemente a segurança dos países da região, incita a confrontação geopolítica e despertou alta vigilância e preocupações nos países da região", elencou.

O porta-voz disse ainda que o governo chinês insta os EUA a atender ao chamado dos países da região, corrigir o erro o mais rápido possível, parar de incitar a confrontação militar, retirar rapidamente o sistema de mísseis conforme prometido publicamente e evitar continuar no caminho errado.

Entenda a situação

Intitulada "US keeps missile system in Philippines as China tensions rise" ("EUA mantêm sistema de mísseis nas Filipinas à medida que tensões com a China aumentam", em tradução livre), a matéria da Reuters relata que o arquipélago do sudeste asiático, vizinho de Taiwan ao sul, é uma parte importante da estratégia dos EUA na Ásia e seria um ponto de apoio indispensável para o auxílio militar a Taipei em caso de um ataque chinês.

Esse novo desdobramento ocorre no momento em que a China e as Filipinas, aliadas dos EUA em tratado de defesa, entram em confronto sobre partes disputadas do Mar do Sul da China. Nos últimos meses, houve uma série de confrontos aéreos e marítimos nessa via navegável estratégica.

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Os EUA têm acumulado uma variedade de armas antinavio na Ásia, enquanto Washington tenta recuperar terreno rapidamente em uma corrida de mísseis no Indo-Pacífico, na qual a China tem vantagem.

Documentos do governo dos EUA mostram que mais de 800 mísseis SM-6 serão comprados nos próximos cinco anos, e milhares de Tomahawks já estão no estoque dos EUA.

A China já condenou várias vezes a implantação do Typhon, incluindo em maio, quando Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa da China, disse que Manila e Washington trouxeram "enormes riscos de guerra para a região".

Em junho, o presidente russo Vladimir Putin citou a implantação ao anunciar que seu país retomaria a produção de mísseis nucleares de alcance intermediário e curto.

Em julho, o secretário de Relações Exteriores das Filipinas, Enrique Manalo, assegurou ao seu homólogo chinês que a presença do sistema de mísseis no país não representava uma ameaça à China e não desestabilizaria a região.

O que é o sistema Typhon

Reprodução Poder Naval
Reprodução Poder Naval

O Typhon é um sistema de mísseis de médio alcance dos Estados Unidos, projetado para ser móvel e capaz de lançar uma variedade de mísseis, como o SM-6 e o Tomahawk, com um alcance superior a 1.600 km. Ele é concebido para ser uma plataforma flexível e adaptável que pode ser usada em diferentes ambientes e deslocada conforme necessário em situações de conflito.

O sistema foi desenvolvido como parte de um esforço para melhorar a capacidade dos EUA de enfrentar ameaças em regiões como o Indo-Pacífico, especialmente no contexto da crescente tensão com a China.

O Typhon é considerado uma peça-chave na estratégia americana de defesa e dissuasão, podendo ser utilizado em operações conjuntas com aliados, como as Filipinas. O sistema também pode ser empregado contra alvos marítimos e terrestres, oferecendo uma resposta rápida em conflitos regionais.

O que diz o Projeto 33

O "Plano de Navegação CNO, o Projeto 33, é um documento estratégico elaborado pela Chefe de Operações Navais dos Estados Unidos com o objetivo de preparar a Marinha dos EUA para os desafios futuros. O plano destaca a importância de prontidão e capacidade de combate, com foco especial em estar pronto para um possível conflito com a China até 2027 e melhorar a vantagem estratégica da Marinha a longo prazo.

Objetivos Estratégicos: O plano tem dois grandes objetivos: prontidão para um possível conflito com a China até 2027 e reforço da vantagem estratégica a longo prazo da Marinha dos EUA.

Projeto 33: Uma série de metas que visam aumentar a prontidão da força até 2027, incluindo a eliminação de atrasos na manutenção de navios, submarinos e aeronaves, além de expandir o uso de sistemas robóticos e autônomos.

Modernização Tecnológica: O documento enfatiza a necessidade de acelerar a adoção de novas tecnologias, como sistemas robóticos e inteligência artificial, para melhorar a eficácia em combate.

Integração de Forças: A Marinha trabalha como parte de um ecossistema de guerra conjunto, colaborando com outras forças armadas dos EUA, aliados e parceiros internacionais.

Desafios e Ameaças Globais: A China é vista como o principal desafio estratégico, enquanto a Rússia, Irã e outros atores regionais também são mencionados como ameaças que exigem uma postura naval robusta.

Manutenção e Sustentação: Há um foco na necessidade de melhorar a prontidão dos equipamentos e reduzir atrasos na manutenção para garantir que a frota esteja pronta para combate.

Treinamento e Retenção: O plano também aborda a importância de recrutar e reter talentos, além de melhorar as condições de serviço para os marinheiros.

Colaboração Internacional: O documento destaca a necessidade de expandir a colaboração com aliados e parceiros globais para enfrentar desafios compartilhados, como a segurança cibernética e o uso do espaço.

Leia aqui o documento na íntegra, em inglês.

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