CHINA EM FOCO

Como o Sul Global enxerga a China na nova dinâmica da geopolítica global

Especialistas do Paquistão, dos EUA, da Itália, de Camboja e da Zâmbia analisam a mudança de poder na ordem internacional

Créditos: Reprodução CGTN
Escrito en GLOBAL el

O Ocidente aguarda há 40 anos o fracasso do socialismo com características chinesas em vão. A perspectiva ideológica sobre a China nos EUA não se alinha com a realidade do sucesso da potência asiática.

Durante episódio do programa Global South Voices (Vozes do Sul Global, em tradução livre) da rede chinesa CGTN, o apresentador Mushahid Hussain Sayed, ex-presidente do Comitê de Defesa do Senado do Paquistão, fez uma análise sobre teoria da "mesa e menu" do secretário de Estado dos EUA Antony Blinken para examinar o papel em evolução da China na arena internacional.

LEIA TAMBÉM: Sul Global aplaude os benefícios das reformas da China e seu futuro

A "teoria da mesa e menu" de Blinken é uma metáfora para descrever a dinâmica de poder e influência nas relações internacionais. Segundo ele, os países têm duas opções na ordem global: estar "à mesa" onde as decisões são tomadas ou estar "no menu", sendo um alvo ou afetado pelas decisões tomadas por outros.

Essa teoria reflete a visão de que é preferível que as nações participem ativamente no cenário global, ajudando a moldar as regras e políticas, do que ficarem à margem, sujeitas às consequências das ações e decisões dos que estão no controle.

A metáfora sugere que, para exercer influência e proteger seus próprios interesses, um país precisa estar diretamente envolvido nos processos diplomáticos e nas instituições internacionais que regulam a ordem mundial.

Se uma nação não tiver um papel proativo, pode acabar sofrendo os impactos de decisões que não ajudou a moldar. Blinken usa essa abordagem para defender a necessidade de os Estados Unidos continuarem engajados e liderando no cenário global, especialmente diante da ascensão de novas potências, como a China.

Papeis diferentes da China e dos EUA

Diante dessa perspectiva, Einar Tangen enfatizou que o papel da China na ordem global é fundamentalmente diferente dos EUA. Ele destacou a dependência histórica dos EUA no imperialismo, guerras e exploração de outras nações e contraste com o foco da China no desenvolvimento interno, paz e comércio.

Comentarista e analista estadunidense especializado em questões relacionadas à China, economia global e relações internacionais, Tangen atua no Instituto Taihe, um think tank independente focado em pesquisa e análise de políticas globais.

Ele é considerado um defensor da posição chinesa no cenário global, especialmente no que diz respeito à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês), a Nova Rota da Seda, e à crescente influência da potência asiática em instituições internacionais como o BRICS e o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, da sigla em inglês).

China emerge como potência global

Já o jornalista italiano Roberto Savio, fundador do Inter Press Service (IPS), descreveu as mudanças históricas ao observar a reemergência da China como uma potência global. Ele apontou que as dinâmicas de poder global estão em transição, com a influência dos EUA em declínio e a multipolaridade em ascensão.

"Crises mundiais como as mudanças climáticas e o declínio populacional exigem cooperação global, no entanto, os EUA permanecem presos em políticas ultrapassadas", disse Savio.

Savio também destacou a importância da diversidade de ideologias e governança e propôs que a cooperação entre nações com culturas e ideologias diferentes é essencial para resolver problemas globais.

A IPS é uma agência de notícias internacional fundada em 1964 que tem como foco principal cobrir temas relacionados ao desenvolvimento global, com ênfase em questões sociais, econômicas e ambientais, especialmente no contexto do Sul Global. O objetivo é dar visibilidade a regiões, povos e causas que costumam ser marginalizados pela mídia tradicional, como pobreza, direitos humanos, mudanças climáticas, igualdade de gênero e cooperação internacional.

Diplomacia multilateral chinesa

Sous Yara, porta-voz do Partido do Povo Cambojano, enfatizou a importância da diplomacia multilateral da China e sua ascensão pacífica, especialmente por meio de iniciativas como a Nova Rota da Seda.

Yara destacou que a abordagem da China se concentra no respeito mútuo, confiança e cooperação, sem imposição ideológica. Ele apontou que as contribuições da China, incluindo a Iniciativa de Desenvolvimento Global, promovem conectividade e colaboração, ajudando a reduzir lacunas entre as nações.

Para o Camboja e o Sudeste Asiático, a liderança da China promove uma política externa equilibrada e relações comerciais, enfatizando a resolução pacífica de diferenças e a prosperidade coletiva.

O relacionamento China-África tem sido um modelo de cooperação Sul-Sul. Fred M'membe, presidente do Partido Socialista da Zâmbia, destacou o relacionamento histórico entre China e África ao ressaltar o apoio da China à libertação, soberania e independência da África.

M'membe destacou que a China trata os países africanos com respeito e igualdade, diferentemente da abordagem condescendente de algumas nações ocidentais. M'membe apoiou a visão da China de cooperação global e multipolaridade, sugerindo que as ações da China oferecem um contraste marcante à mentalidade dos EUA de "se você não está na mesa, está no cardápio".

Assista ao programa

Siga os perfis da Revista Fórum e da jornalista Iara Vidal no Bluesky