CHINA EM FOCO

Ásia virou um barril de pólvora e pode ser palco da próxima guerra mundial

Um dos mais importantes e renomados especialistas chineses em política externa, Zheng Yongnian, adverte que a região está destinada a se tornar campo de batalha do próximo conflito de escala global

Créditos: Fotomontagem (PLA e GoogleMaps) - Ásia-Pacífico pode ser a região do próximo coflito mundial
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No Mar do Sul da China, as tensões continuam a escalar entre a China e as Filipinas, com os Estados Unidos também envolvidos na disputa. Nesse cenário, um dos maiores e mais respeitados especialistas chineses em política externa, Zheng Yongnian, adverte que a região Ásia-Pacífico virou um barril de pólvora e está destinada a se tornar o campo de batalha da próxima guerra mundial.

WeChat - Zheng Yongnian adverte que a região Ásia-Pacífico virou um barril de pólvora e está destinada a se tornar o campo de batalha da próxima guerra mundial.

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O professor Zheng, que atualmente é diretor honorário do Instituto de Pesquisa Política e Econômica da Universidade de Xangai Jiao Tong, considerada uma das mais antigas e prestigiadas da China, fez essa análise em um artigo publicado no WeChat (equivalente ao WhatsUp na China) no último dia 23 de agosto.

Intitulado, em tradução livre do chinês para o português, como "A Terceira Guerra Mundial e seu 'Barril de Pólvora' na Ásia | Diário de Reflexões x Zheng Yongnian", o texto aborda o crescente risco de guerra na Ásia, impulsionado por mudanças geopolíticas e pela intensificação da rivalidade entre as grandes potências.

A OTAN, aponta Zheng, com apoio dos EUA, tem redirecionado sua atenção para a Ásia, especialmente em relação à China, numa tentativa de conter sua influência. Esse rearranjo geopolítico está transformando o continente asiático em um possível epicentro de futuros conflitos globais e não o Oriente Médio ou a Europa Oriental.

"De qualquer ângulo que se observe, a região Ásia-Pacífico está destinada a se tornar o campo de batalha da próxima guerra mundial. A razão é simples: ela possui todos os elementos que levam a uma guerra mundial, que podem ser descritos assim: interesses econômicos + Estados Unidos + uma versão asiática da "OTAN" + modernização militar + nacionalismo", escreveu o professor.

Os Estados Unidos, observa o professor, estão se tornando um importante organizador da guerra na Ásia, e a principal razão para planejarem a guerra está nos enormes interesses econômicos que podem obter no continente asiático.

"Se considerarmos que os Estados Unidos não podem digerir seus graves problemas internos através de uma revolução, a guerra externa torna-se mais provável. Desde os tempos modernos, as revoluções internas e as guerras externas têm sido os meios mais eficazes de resolver problemas, e não há razão para subestimar a possibilidade de os Estados Unidos iniciarem uma guerra para resolver seus problemas internos", comenta.

Para o professor Zheng, os Estados Unidos têm conduzido uma guerra de percepção na Europa, moldando a chamada "teoria da ameaça chinesa" e incitando confrontos de bloco. Nesse contexto, Washington usa outros países, como as Filipinas, como "agentes" na Ásia para conter a China.

Escaramuças entre chineses e filipinos

Durante coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta segunda-feira (2), a porta-voz Mao Ning comentou sobre as escaramuças entre embarcações chinesas e filipinas nesse cenário de tensões em alta no Mar do Sul da China.

A porta-voz foi questionada pela AFP sobre as reiteradas declarações de autoridades chineses de que as recentes colisões entre navios da guarda costeira chinesa e filipina no Mar do Sul da China são inteiramente culpa das Filipinas.

O jornalista pontuou que ambos os lados divulgaram agora imagens de vídeo das colisões relevantes nos últimos dias, mas esses vídeos parecem mostrar claramente a frente do navio da guarda costeira chinesa colidindo com a lateral ou traseira de um navio da guarda costeira filipina.

Mao esclareceu que a área de recife Xianbin Jiao, também conhecida como Ayungin Shoal, faz parte do Nansha Qundao - nome chinês para as Ilhas Spratly, um arquipélago localizado no Mar do Sul da China disputado por vários países, incluindo China, Filipinas, Vietnã e Malásia, devido à sua importância estratégica e aos recursos naturais que podem existir na região, como petróleo e gás.

A porta-voz informou que no último sábado, 31 de agosto, o navio da Guarda Costeira das Filipinas, que estava ancorando ilegalmente na lagoa de Xianbin Jiao há semanas, agiu de forma pouco profissional e perigosa ao abalroar deliberadamente o navio da Guarda Costeira da China que estava lá para salvaguardar a soberania e os direitos legais da China, resultando na colisão dos navios. O lado chinês respondeu com as medidas necessárias de acordo com a lei, o que foi totalmente justificado, legal e irrepreensível.

"Os movimentos das Filipinas infringem gravemente a soberania da China e violam o direito internacional e a Declaração sobre a Conduta das Partes no Mar da China Meridional (DOC). A China pede às Filipinas que retirem imediatamente o navio ancorado ilegalmente na lagoa e parem as atividades de infração e provocações imediatamente", afirmou Mao.

A porta-voz disse ainda que a China continuará a tomar medidas resolutas de acordo com a lei para salvaguardar nossa soberania territorial e direitos e interesses marítimos, e defender a santidade e eficácia da DOC. Enquanto isso, ela informa que o país asiático está pronto para manter o diálogo e a comunicação com as Filipinas por meio de canais diplomáticos para abordar adequadamente as questões relevantes e colocar a situação marítima sob controle.

Escalada das tensões no Mar do Sul da China

O navio da Guarda Costeira das Filipinas MRRV-9701, que estava ilegalmente estacionado em Xianbin Jiao, na China, levantou âncora no sábado e conduziu manobras contínuas, causando problemas na lagoa de Xianbin Jiao.

O navio 5205 da Guarda Costeira da China (CCG, da sigla em inglês) tomou medidas, incluindo advertências verbais, monitoramento e controle de acordo com a lei e os regulamentos.

Logo após a colisão, no sábado, o Departamento de Estado dos EUA emitiu um comunicado no qual apoia as Filipinas nesse episódio. A texto alega que as ações da China para proteger seus próprios interesses eram "escalatórias".

Aliados dos EUA, incluindo a Austrália, seguiram o exemplo ao fazer uma declaração que critica a ação chinesa. O Japão também fez uma resposta de alto perfil visando a China sobre um incidente anterior de colisão China-Filipinas em Xianbin Jiao.

A Europa não ficou de fora, com uma declaração emitida pelo Serviço Europeu de Ação Externa, da Comunidade Europeia, que condenou as "ações perigosas" da China, no domingo (1).

Enquanto continuam a apoiar as ações provocativas de Manila no Mar da China Meridional, EUA e aliados intensificam movimentos para difamar a China, num movimento que fortalece a análise do professor Zheng Yongnian.

Outro especialista chinês, diretor do Centro de Pesquisa Naval Mundial no Instituto Nacional de Estudos do Mar do Sul da China, localizado na província de Hainan, Chen Xiangmiao, comentou ao jornal chinês Global Times desta segunda-feira que as Filipinas pretendem internacionalizar a questão alavancando a aliança para enganar o público.

"Ao se envolver com essas partes não envolvidas, incluindo fazer algumas trocas fora da mesa, as Filipinas buscam 'aumentar seu poder de barganha e presença marítima'. Os EUA são o verdadeiro 'mentor' por trás da tensão no Mar do Sul da China, instruindo Manila a causar problemas, mas evitando um cenário que saia do controle, e também são os EUA que mobilizaram seus aliados próximos para apoiar as Filipinas", analisa Chen.

As respostas rápidas dos EUA e seus aliados após o incidente de sábado demonstraram totalmente sua coordenação próxima nesta campanha de desinformação contra a China e seu objetivo final de desestabilizar o Mar do Sul da China Meridional e impulsionar a Estratégia Indo-Pacífica dos EUA.

Mar do Sul da China durante visita de Jake Sullivan a Pequim

Xinhua - Xi Jinping recebe Jack Sullivan em Pequim

Durante as recentes reuniões em Pequim com Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, o Mar do Sul da China foi discutido como uma questão paralela. Para a China, a prioridade é a questão de Taiwan e não as Filipinas.

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Mesmo que de modo secundário, o principal diplomata chinês, o chanceler Wang Yi, alertou os EUA contra o apoio às ações filipinas na região. Em resposta, Sullivan expressou preocupações com as "atividades desestabilizadoras" da China.

Em uma coletiva de imprensa em 29 de agosto, o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, coronel Wu Qian, acusou as Filipinas de abrir uma "caixa de Pandora" ao posicionar um navio em um recife disputado.

Washington usa Manila para conter Pequim

Academia Militar das Filipinas - Samuel Paparo, comandante do Comando Indo-Pacífico dos EUA, se reuniu com o general Romeo Brawner Jr., chefe do Estado-Maior das Forças Armadas das Filipinas

Há uma escalada de tensões na região com o protagonismo dos EUA. No dia 29 de agosto, o almirante Samuel Paparo, comandante do Comando Indo-Pacífico dos EUA, se reuniu com o general Romeo Brawner Jr., chefe do Estado-Maior das Forças Armadas das Filipinas, e com o contra-almirante Caesar Valencia, superintendente da Academia Militar das Filipinas.

Na ocasião, conforme noticia a AFP, Paparo garantiu que as forças dos EUA estão prontas para agir diante das crescentes agressões no Mar do Sul da China. O almirante, que comanda o maior contingente de combate fora dos EUA, não detalhou as opções de contingência disponíveis, mas ressaltou que qualquer ação seria realizada em conjunto com as Filipinas, aliada do tratado. As "táticas de zona cinzenta" da China, como bloqueios e abalroamentos, são uma preocupação crescente nas águas disputadas.

Os Estados Unidos também anunciaram investimentos para expandir a Base Aérea de Basa no norte das Filipinas, onde em abril, um sistema de mísseis balísticos de médio alcance foi instalado e mantido após exercícios militares. O governo filipino ampliou o número de bases militares disponíveis para as forças dos EUA de cinco para nove, algumas próximas aos disputados recifes das ilhas Nansha Qundao.