O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, está em viagem oficial à China que teve início nesta terça-feira (27) e prossegue até a próxima quinta-feira (29). Pelo lado de Washington, as conversas têm como objetivo amenizar as tensões entre as duas maiores potências econômicas do mundo antes das eleições presidenciais nos EUA, marcadas para 5 de novembro.
Já o lado chinês quer implementar os entendimentos comuns alcançados pelos presidentes da China, Xi Jinping, e dos EUA, Joe Biden, em reunião em São Francisco (EUA) no ano passado.
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Nesta terça-feira, o principal diplomata da China, Wang Yi, ministro das Relações Exteriores chinês e diretor do Gabinete da Comissão Central do Partido Comunista da China (PCCh) para Assuntos Exteriores, se reuniu com Sullivan em Pequim.
Wang descreveu os vínculos sino-estadunidenses como cruciais para o cenário global, destacando que essas relações enfrentaram altos e baixos. Ele expressou o desejo de que as relações avancem para um desenvolvimento estável, saudável e sustentável.
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O diplomata chinês disse que cumprir os entendimentos comuns alcançados pelos dois chefes de estado em São Francisco (EUA) é a principal tarefa da nova rodada de comunicação estratégica China-EUA. O encontro ocorre enquanto as duas maiores economias do mundo esperam manter seu canal de comunicação em um esforço para "estabilizar" as relações bilaterais.
Reconhecendo a relação conturbada ao longo dos últimos anos, Wang disse que espera que a nova rodada de diálogo China-EUA possa promover as relações bilaterais seguindo a "visão de São Francisco" e "superar distrações, remover obstáculos" e permitir que se desenvolva de maneira "estável, saudável e sustentável".
A viagem de três dias de Sullivan à capital chinesa marca seu quinto encontro com Wang. Eles se encontraram pela última vez em janeiro em Bangkok, Tailândia, dois meses depois de o presidente chinês, Xi Jinping, se reunir com o presidente dos EUA, Joe Biden, em São Francisco (EUA). Os dois chefes de Estado engajaram-se em trocas "cândidas", ao mesmo tempo em que traçavam o rumo para as relações China-EUA.
Wang enfatizou que a principal missão das conversas desta vez é dar continuidade ao espírito alcançado pelos dois presidentes em São Francisco. Ele também garantiu o curso geral para o desenvolvimento da relação com os EUA: "respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha."
Antes de uma reunião privada, Sullivan mencionou que discutiriam pontos de concordância e discordância que precisam ser "gerenciados de forma eficaz e substancial."
Sullivan concordou que as duas grandes economias devem colaborar em áreas que beneficiem ambos os lados e evitar que a "competição" se transforme em "conflito". O oficial dos EUA ecoou o pensamento, dizendo que esperava colocar em prática o consenso alcançado pelos dois presidentes.
Esta é a primeira visita de um assessor de segurança nacional dos EUA a Pequim desde 2016. Sullivan tem mantido diálogos regulares com Wang com o objetivo de gerenciar a competição entre as superpotências. As próximas grandes reuniões internacionais, como o fórum da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico no Peru e a cúpula do G20 no Brasil em novembro, poderão ser palcos para um encontro final entre Biden e Xi.
Nova rodada de comunicação estratégia China-EUA
No domingo (25), o Ministério das Relações Exteriores da China divulgou comunicado sobre a visita de Sullivan, que marca uma nova rodada de comunicação estratégica sino-estadunidense e destaca como a primeira de Sullivan à China e a primeira de um assessor de segurança nacional dos EUA em oito anos.
Durante uma coletiva de imprensa, foi mencionado que este encontro é um seguimento dos acordos estabelecidos entre os presidentes de ambos os países em sua reunião em São Francisco. Desde então, Wang Yi e Sullivan já realizaram três rodadas de diálogos estratégicos em Viena, Malta e Bangkok, que foram descritos como construtivos e produtivos.
Os diálogos vão abordar as relações bilaterais, questões sensíveis e situações de conflito internacional e regional. Particular atenção será dada à questão de Taiwan, identificada pela China como a principal linha vermelha nas relações com os EUA. Os EUA são instados a respeitar o princípio da "Uma só China" e a evitar medidas que possam apoiar a "independência de Taiwan".
Além disso, serão discutidos os impactos das ações de Washington em áreas como tarifas e controle de exportações, que a China considera prejudiciais aos seus direitos legítimos. Pequim também pressionará por uma colaboração mais efetiva nos intercâmbios de pessoas e na gestão política de questões internacionais e regionais, ressaltando sua política externa baseada no respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha.
O diálogo também incluirá temas como a situação no Mar do Sul da China e o conflito no Oriente Médio, onde a China se posiciona como promotor da paz e da justiça. Em resposta às críticas dos EUA de que a China seria uma ameaça à ordem internacional, o oficial reiterou o compromisso do país com o desenvolvimento pacífico e a cooperação internacional, negando aspirações hegemônicas ou colonialistas.
Críticas internas à medidas contra a China
A visita de Sullivan à China ocorre enquanto o governo dos EUA deve anunciar planos de implementação para tarifas adicionais em alguns produtos chineses. A medida tem enfrentado crescente crítica tanto da China quanto das indústrias domésticas dos EUA, devido a preocupações com os custos crescentes.
A Reuters informou nesta segunda-feira (26) que o governo dos EUA espera revelar os planos financeiros de implementação para aumentos significativos de tarifas em certas importações chinesas esta semana. No entanto, a medida enfrenta crescente oposição, já que fabricantes estadunidenses de veículos elétricos (VEs) e equipamentos de utilidade elétrica pediram para que as tarifas sejam reduzidas, adiadas ou até mesmo abandonadas, segundo a matéria.
O governo dos EUA adiou a data inicial para as tarifas, incluindo uma tarifa de 100% sobre VEs chineses, que deveriam entrar em vigor em 1º de agosto, devido à ampla oposição das indústrias dos EUA.
Na visão de analistas chineses ouvidos pelo jornal chinês Global Times, a intensificação das críticas às pesadas tarifas do governo dos EUA destaca os problemas e riscos causados pela repressão política e irracional de Washington contra a China, que prejudicará as indústrias dos EUA e minará a recuperação econômica global.
O professor da Universidade de Assuntos Exteriores da China, Li Haidong, disse que as preocupações das indústrias relevantes dos EUA são realistas e razoáveis, pois elas suportarão os custos adicionais derivados dos aumentos tarifários.
"O resultado das políticas tóxicas dos EUA é que as indústrias relevantes nos EUA terão enormes prejuízos. Hoje, muitas indústrias e consumidores dos EUA percebem que os custos mais altos das tarifas adicionais são suportados pelos próprios EUA", disse Li.
"A abordagem dos EUA em relação à China sempre careceu de sinceridade", observou Li. O professor observou que o problema fundamental é a tentativa de Washington de transformar questões econômicas em questões geopolíticas e de segurança, a fim de agradar à hostilidade anti-China.
Além dos enormes custos para as indústrias e consumidores dos EUA, essas medidas protecionistas terão um impacto negativo na economia global como um todo, enquanto a economia mundial enfrenta desafios crescentes, pontuou Li. "Sem dúvida, as tarifas adicionais dos EUA sobre produtos chineses tornaram-se um obstáculo para a recuperação econômica global", afirmou.
China nas Eleições dos EUA
No final de seu mandato, Joe Biden tem priorizado a diplomacia direta para influenciar o presidente Xi Jinping, visando manter as tensões controladas. A vice-presidenta Kamala Harris, candidata democrata à reeleição, provavelmente adotaria uma abordagem semelhante.
Analistas ligados ao ex-presidente republicano e atual candidato à Casa Branca, Donald Trump, criticam essa estratégia por considerá-la branda diante da política externa assertiva da China. Sullivan busca expandir diálogos militares até o nível de comando de teatro, uma medida que Washington espera prevenir conflitos em locais estratégicos como o estreito de Taiwan.
Os EUA também pressionam por mais ações chinesas internas para coibir o desenvolvimento de substâncias que podem ser convertidas em fentanil, e por um entendimento sobre padrões de segurança para inteligência artificial.
Pequim, por sua vez, planeja manifestar desaprovação às tarifas dos EUA sobre uma variedade de produtos manufaturados e aos controles de exportação que visam os fabricantes chineses de chips, além de discutir suas reivindicações sobre Taiwan.
O ministério das Relações Exteriores da China enfatizou que focará em expressar preocupações sérias e fazer demandas significativas relacionadas à questão de Taiwan e à segurança estratégica do país. Ambos os países também estão atentos à possibilidade de que o conflito em Gaza escale para um confronto regional mais amplo.
Enquanto isso, na esfera política de Washington, Harris, ao aceitar a nomeação democrata, afirmou que assegurará que os EUA, e não a China, vença a competição do século 21. Ela tem reforçado as relações dos EUA com os vizinhos da China, enquanto Trump promete tarifas abrangentes e apoio aos aliados asiáticos sob uma possível nova administração republicana. A inteligência dos EUA indica que a China não tem preferência no resultado das próximas eleições.