O Vaticano e a China têm avançado no diálogo. Desde a assinatura do Acordo Provisório em 22 de setembro de 2018, todos os bispos católicos do país asiático estão em plena e pública comunhão com o Papa. Não ocorreram mais ordenações episcopais ilegítimas — aquelas realizadas sem o consentimento papal — que haviam causado divisões profundas entre os católicos chineses desde o final dos anos 1950.
A avaliação foi feita pelo Papa Francisco em conversa com jornalistas a bordo do avião papal na última sexta-feira (13) durante retorno de Singapura para Roma. O líder católico expressou satisfação com o andamento do diálogo entre a China e a Santa Sé.
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"Estou feliz com o diálogo com a China. O resultado é bom. Até para a nomeação de bispos se trabalha com boa vontade", afirmou o Pontífice.
Acordo Provisório entre China e Santa Sé
O governo chinês tem expressado nos últimos anos uma disposição crescente para melhorar as relações com o Vaticano, especialmente após a assinatura do Acordo Provisório sobre a Nomeação de Bispos em 2018, que foi renovado em 2020 e 2022. A posição oficial da China em relação ao Vaticano é moldada por princípios-chave que refletem suas políticas internas e considerações diplomáticas.
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Pequim considera o acordo com o Vaticano um passo positivo para resolver questões históricas, particularmente no que diz respeito à nomeação de bispos católicos na China. A China tem enfatizado a importância de continuar o diálogo baseado no respeito mútuo, visando fortalecer a compreensão e a cooperação entre as duas partes.
A China espera que o Vaticano não interfira nos assuntos internos chineses, incluindo questões relacionadas à religião e à gestão das comunidades religiosas. O governo chinês defende que todas as atividades religiosas devem ser conduzidas de forma independente, sem influência externa, e em conformidade com as leis e regulamentos chineses.
Um ponto fundamental para a China é que o Vaticano corte os laços diplomáticos com Taiwan, reconhecendo oficialmente o governo da República Popular da China como o único representante legítimo da China. O reconhecimento da política de "Uma China" é visto como essencial para qualquer avanço significativo nas relações bilaterais.
O governo chinês enfatiza que a religião deve contribuir para a unidade nacional e a estabilidade social, evitando qualquer forma de separatismo ou discordância social. Espera-se que os líderes e fiéis religiosos sejam leais ao Estado chinês, integrando valores patrióticos em suas práticas de fé.
Em várias ocasiões, porta-vozes têm declarado que a China está disposta a trabalhar com o Vaticano para melhorar as relações, desde que sejam respeitados os princípios de soberania e não interferência. O governo expressou contentamento com a renovação do acordo provisório, vendo-o como um sinal de progresso contínuo.
As autoridades reiteram que as atividades religiosas devem ocorrer dentro do quadro legal chinês, e que organizações religiosas estrangeiras não devem interferir nas práticas religiosas domésticas. Há um enfoque na formação de líderes religiosos que sejam politicamente confiáveis e teologicamente competentes dentro do contexto chinês.
Desde o acordo, houve progressos na nomeação conjunta de bispos, o que ajudou a reduzir tensões históricas e a promover a unidade entre os católicos chineses. O governo chinês vê a colaboração na nomeação de bispos como um reconhecimento de sua autoridade sobre assuntos religiosos internos.
Apesar dos avanços, organizações internacionais apontam preocupações sobre restrições à liberdade religiosa na China, incluindo monitoramento e controle de atividades religiosas. A política de "sinicização" busca alinhar práticas religiosas com a cultura e os valores socialistas chineses, o que pode entrar em conflito com tradições religiosas estrangeiras.
Diálogo em construção
Nos últimos seis anos, mesmo com interrupções nas relações devido à pandemia da covid-19, foram realizadas nove novas ordenações episcopais na China. Além disso, oito bispos considerados "não oficiais", ordenados fora dos protocolos governamentais, solicitaram e obtiveram reconhecimento público pelas autoridades de Pequim, reduzindo gradualmente o número de dioceses vagas.
Em 2018 e 2023, bispos chineses participaram das Assembleias do Sínodo dos Bispos em Roma — um marco, já que nas décadas anteriores nenhum bispo da China continental pôde estar presente em eventos como o Concílio Vaticano II. Além disso, grupos de católicos chineses participaram da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, e peregrinos tiveram a oportunidade de ver o Papa em diversas visitas apostólicas.
Esses progressos abriram caminhos para a reconciliação em comunidades eclesiásticas que estiveram divididas por décadas. O Papa Francisco e a Santa Sé têm acompanhado de perto a jornada dos católicos chineses, buscando estar próximos e apoiá-los em seu contexto específico.
Vida eclesial prospera apesar dos desafios
Apesar dos condicionamentos políticos e sociais, a vida eclesial na China segue com normalidade. Dioceses estão recuperando a estabilidade após anos de incertezas.
Recentemente, o bispo Joseph Shen Bin, de Xangai, celebrou o batismo de 41 catecúmenos -pessoas que estão em processo de iniciação na fé cristã, especificamente na Igreja Católica e em algumas outras denominações cristãs - diante de mais de 2.500 fiéis.
Em Shantou, o bispo Joseph Huang Bingzhang, reintegrado à comunhão com o Papa em 2018, participou de ações sociais em preparação para a "Festa da Lua".
Essas iniciativas demonstram que as obras de caridade e evangelização continuam a florescer na China atual. O Papa Francisco valoriza esses esforços, alinhando-se ao sentimento de fé da maioria dos católicos chineses.
Religiões reconhecidas na China
A China reconhece cinco religiões oficiais – Budismo, Taoísmo, Islamismo, Protestantismo e Catolicismo.
De acordo com o World Religion Databr de 2020 da Universidade de Boston, citado pelo relatório do Departamento de Estado dos EUA, cerca de 7,4% dos chineses identificaram-se como cristãos, o que corresponde a cerca de 105 milhões de pessoas.
Uma análise do Pew Research Center dos últimos dados de pesquisas disponíveis, coletados por organizações acadêmicas na China, diz que cerca de 90% dos cristãos na China são protestantes.
Lei sobre religiões na China
Pequim reforçou a supervisão das religiões, incluindo o Islã e o Cristianismo, sob o presidente chinês, Xi Jinping. Em 2015, ele introduziu o conceito de “sinonização da religião”, visto como um esforço para fortalecer a segurança nacional e combater a influência estrangeira.
Discursando numa conferência nacional de trabalho religioso em dezembro de 2021, Xi apelou aos grupos religiosos para estudarem a história do Partido Comunista Chinês e fortalecerem a governação dos assuntos religiosos online.
"A política do partido sobre a liberdade de crença religiosa deve ser implementada “de forma completa, precisa e abrangente”, e as religiões devem adaptar-se ao facto de a China ser um país socialista", disse Xi à época
A Constituição chinesa garante ao povo liberdade de acreditar e não acreditar na religião e há respeito mútuo entre ateus e crentes. As atividades religiosas devem ser realizadas dentro da estrutura constitucional, legal e política. Todas as religiões são iguais, assim como separadas do poder estatal.
O Estado chinês está acima das organizações religiosas. Ninguém pode se aproveitar da religião para realizar ações prejudiciais à ordem social, à saúde dos cidadãos ou ao sistema educacional. Grupos religiosos e atividades religiosas devem ser independentes da dominação de forças estrangeiras. Por exemplo, os católicos chineses não têm relação com o Vaticano.
Na China existe o budismo, o taoísmo, o islamismo, o catolicismo, entre outras religiões. O número da população crente está perto de 200 milhões, e o número de clérigos excede 380 mil. Budistas e taoístas são os mais numerosos entre os crentes religiosos.
Existem aproximadamente 5 mil e 500 grupos religiosos na China, incluindo sete a nível nacional: a Associação Budista da China, a Associação Taoísta da China, a Associação Islâmica da China, a Associação Chinesa de Católicos Patrióticos, o Grupo dos Bispos Católicos Chineses, os Três Cristãos da China - Comissão de Movimentos Auto-Patriotistas e a Associação Cristã da China.
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