CHINA EM FOCO

China participa pela primeira vez na história de exercícios militares ao lado dos EUA no Brasil

Simultaneamente, potência asiática realiza atividade militar com a Rússia, onde também ocorre a primeira reunião de altos funcionários do BRICS responsáveis por questões de segurança

Créditos: Fotomontagem (Marinha do Brasil/Flickr) - Brasil é anfitrião do primeiro exercício militar com tropas da China e dos EUA lado a lado
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Ocorre no Brasil a participação, pela primeira vez na história, de tropas da China e dos Estados Unidos lado a lado para um exercício militar. As duas potências mundiais participam da Operação Formosa 2024, que está sendo realizada pela Marinha brasileira no estado de Goiás, no Planalto Central.

A participação de tropas chinesas em conjunto com militares estadunidenses marca um passo importante na cooperação militar internacional do Brasil.

A Operação Formosa 2024, além do Brasil, país anfitrião; da China, que estreia a presença no evento; e dos Estados Unidos, envolve também outros oito países que participam como observadores do treinamento: México, África do Sul, Argentina, Itália, Paquistão, República do Congo, França e Nigéria.

Operação Formosa 2024

A Operação Formosa é um exercício anual multinacional coordenado pela Marinha do Brasil no Campo de Instrução de Formosa (CIF), em Goiás. Este ano o treinamento ocorre entre os dias 4 e 17 de setembro. Trata-se de um dos maiores exercícios militares da América Latina, realizado desde 1988.

A operação ocorre próximo à cidade de Formosa, no estado de Goiás, e não tem relação com Taiwan, que oficialmente usou o mesmo nome em 1895.

Esse evento promove a troca de experiências com Fuzileiros Navais brasileiros, seguindo manuais internacionais de operações militares.

As manobras envolvem jatos de combate, helicópteros, carros de combate, veículos blindados e anfíbios, artilharia, além de lançadores de mísseis e foguetes reais utilizados no CIF, localizado 80 km de Brasília.

Em 2023, observadores dos EUA e China já haviam acompanhado a operação da Marinha do Brasil, mas a inclusão formal de tropas em 2024 marca um salto significativo.

“Na Operação Formosa 2024 temos pela primeira vez a participação de parcelas de tropa constituída de ambas nações amigas”, disse um comunicado da Marinha do Brasil, sobre a participação de militares chineses e estadunidenses, sem informar as quantidades enviadas por cada país.

De acordo com o jornal South China Morning Post, o Ministério da Defesa chinês destacou que o objetivo da participação no exercício é aprofundar a amizade e cooperação entre os militares, além de aumentar a capacidade de enfrentar riscos de segurança.

China e Rússia na operação Oceano 24

Do outro lado do mundo, simultaneamente, a China também está envolvida em exercícios militares com a Rússia em uma demonstração da crescente presença da potência asiática no cenário militar global.

O exercício naval Oceano-24, em conjunto com a Rússia, é considerado o maior já realizado desde a Guerra Fria. Envolve 400 embarcações e 120 aviões em manobras no Pacífico e no Ártico.

Liderada por Moscou, a iniciativa tem o objetivo restaurar a reputação da Marinha russa após perdas no mar Negro e reforçar a cooperação militar entre China e Rússia, que têm se aproximado desde 2022.

Segurança nos BRICS

Durante os dois exercícios militares simultâneos com a participação de tropas chinesas em territórios brasileiro e russo, foi realizada nesta quarta-feira (11), na Rússia, em São Petersburgo, a 14ª reunião de altos funcionários do BRICS responsáveis por questões de segurança e conselheiros de segurança nacional.

O principal diplomata da China, Wang Yi, participou do evento, que é a primeira reunião de altos funcionários do BRICS responsáveis por questões de segurança/conselheiros de segurança nacional após a histórica expansão do grupo.

Durante a reunião, Wang, que também é membro do Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e ministro das Relações Exteriores do país, deu as boas-vindas aos novos membros que se juntaram à família BRICS - Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

"O mundo hoje está entrando em um novo período de turbulência e transformação, com várias ameaças à segurança entrelaçando-se e ressoando. Nesse contexto, é de especial importância que os países do BRICS discutam planos de cooperação e busquem soluções pacíficas em conjunto", observou o chanceler chinês.

Wang propôs quatro iniciativas para que os países do BRICS enfrentem conjuntamente as ameaças à segurança.

  1. Praticar a coexistência pacífica: Os países do BRICS devem liderar a prática da coexistência pacífica, mantendo a independência e autonomia nas suas decisões e relações internacionais.
     
  2. Adesão ao verdadeiro multilateralismo: O grupo deve rejeitar o excepcionalismo e os padrões duplos, promovendo uma ordem global baseada em regras justas e que beneficiem todas as nações igualmente.
     
  3. Promoção da resolução política de questões críticas: Os países do BRICS devem promover a resolução pacífica de questões críticas e respeitar as preocupações legítimas uns dos outros no cenário internacional.
     
  4. Defender a justiça no palco internacional: O BRICS deve liderar a defesa da justiça e lidar de forma equitativa com os assuntos globais, promovendo um mundo multipolar igualitário e uma globalização econômica inclusiva e benéfica para todos.

BRICS amplia escopo

Cui Heng, pesquisador do Centro de Estudos Russos da Universidade Normal do Leste da China, disse ao jornal chinês Global Times que essa reunião do BRICS em São Petersburgo aborda questões de segurança de interesse comum em resposta ao aumento das ameaças e riscos à segurança, o que indica que o bloco está se expandindo além das questões econômicas para explorar um escopo mais amplo de cooperação multilateral.

"À medida que o Sul Global desempenha um papel cada vez mais importante nos assuntos internacionais, particularmente em segurança e desenvolvimento, China e Rússia, juntamente com outros membros do BRICS, buscam aprofundar os laços com essas nações para aumentar a influência internacional, ao mesmo tempo que enfrentam os desafios vindos dos países ocidentais", observou Cui.

Stanislav Byshok, especialista da Faculdade de Ciência Política da Universidade Estatal de Moscou, disse também ao Global Times que uma questão chave para a reunião é como apoiar uns aos outros, apesar das barreiras existentes, acrescentando que são esperadas iniciativas de paz para abordar o conflito em curso entre Rússia e Ucrânia.

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