As mudanças climáticas e seus impactos sobre as populações, principalmente das cidades, com eventos climáticos extremos como as fortes chuvas e enchentes que atingem o Rio Grande do Sul, desconhecem fronteiras e também causam impactos do outro lado do mundo, como na China.
Por lá, o arquiteto e urbanista chinês, Kongjian Yu teve uma ideia que pode ajudar a adiar o fim do mundo: as cidades-esponjas. Se essa inovação não resolve todos os efeitos dramáticos da emergência climática sobre vidas humanas, pode, no mínimo, contribuir para reduzir os estragos das enchentes na vida das pessoas atingidas.
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O conceito de Kongjian propõe transformar áreas urbanas em espaços que absorvem e drenam a água da chuva de forma natural, similar ao funcionamento de uma floresta. Quando colocadas em práticas são capazes de reter cerca de 70% da água de chuva.
A ideia é que as cidades aprendam a absorver a chuva, neutralizar enchentes e, ao mesmo tempo, tornar suas ruas mais verdes. Em depoimento ao Fórum Econômico Mundial, em 2019, Kongjian prega que a humanidade precisa limitar os níveis perigosos das águas das enchentes, que na China são sinal de alerta em 250 cidades.
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"Podemos fazer amizade com as enchentes. As cidades-esponja permitem que o fluxo natural retorne. Usamos um sistema de áreas úmidas, um sistema esponjoso para reter a água em vez de drená-la", explica.
Experiência chinesa
Com o impacto devastador de chuvas torrenciais cada vez mais frequentes, como as que castigaram a região de Pequim-Tianjin-Hebei durante a passagem do tufão Doksuri, em julho de 2023, e causaram inundações que resultaram na morte de 20 pessoas, a China tem intensificado os esforços contínuos para fortalecer suas defesas contra desastres naturais.
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Uma das estratégias do governo chinês tem sido a construção de cidades-esponja para mitigar o impacto de chuvas torrenciais. Essas cidades absorvem, armazenam, filtram e purificam a água da chuva. Quando necessário, liberam e utilizam a água armazenada.
Em 2014, o Ministério da Habitação e Desenvolvimento Urbano-Rural emitiu as Diretrizes Técnicas Piloto para a Construção de Cidades Esponja, designando Pequim entre as cidades-piloto para esse conceito.
As diretrizes têm o objetivo de criar cidades com a capacidade de se adaptar a mudanças ambientais e responder efetivamente a desastres naturais, funcionando de forma semelhante a esponjas. Departamentos governamentais, incluindo planejamento urbano, drenagem, transporte e paisagismo, estão envolvidos na orientação do processo.
O guia afirma que, para construir tais cidades, esforços devem ser feitos para evitar o rápido crescimento urbano e fornecer áreas adequadas de espaços verdes, juntamente com calçadas feitas de materiais permeáveis.
Outros esforços devem incluir a conexão de sistemas de água, como rios, lagos, áreas úmidas, lagoas e canais, com redes de drenagem pluvial urbana e sistemas de descarga de água da chuva excedente, de acordo com as diretrizes.
O ministério afirmou que ao longo dos anos surgiram problemas, com algumas cidades interpretando erroneamente a construção de cidades esponja. Esses problemas poderiam dificultar os esforços para fortalecer a resiliência contra desastres, de acordo com um comunicado divulgado pelo ministério no ano passado.
Há problemas na construção de sistemas de filtragem de água, independentemente das condições geológicas, no estabelecimento de limites de zonas de drenagem com base apenas em divisões administrativas e na adição apressada de sistemas de drenagem após a conclusão dos planos de projetos de prédios, estradas e jardins.
Construção ecológica
Atualmente há 90 cidades-esponjas pilotos na China que inspiraram mais de dez províncias a adotar projetos de demonstração. O conceito se tornou um componente essencial do desenvolvimento urbano de alta qualidade e um padrão em construção urbana no país que continuará a ser uma parte crucial do avanço da construção ecológica.
Durante a Conferência Internacional de Desenvolvimento de Cidades-Esponjas, realizada às margens da Conferência Internacional de Comércio Tecnológico de Zhongguancun, em Pequim, capital nacional chinesa, no dia dia 29 de abril de 2024, especialistas chineses e estrangeiros discutiram cenários de aplicação inovadora em cidades esponja.
A proposta do evento foi divulgar conquistas científicas e tecnológicas, compartilhar experiências de sucesso e assinar acordos de cooperação técnica para promover o desenvolvimento das cidades esponja tanto na China quanto em outros países para criar ecossistemas urbanos mais verdes, resilientes e habitáveis.
Na conferência, o presidente da Associação de Fornecimento e Drenagem de Água Urbana da China, Zhang Linwei, destacou que o conceito de cidades-esponja, após dez anos de desenvolvimento, alcançou resultados significativos.
"Os padrões nacionais para o planejamento, construção, inspeção e avaliação de cidades esponja foram estabelecidos e continuam a ser aprimorados, com o padrão de construção de cidades esponja de 2019 sendo divulgado e discutido globalmente pela Associação Internacional da Água, tornando-se o primeiro padrão chinês a ser traduzido e distribuído internacionalmente", comentou Zhang.
Exemplo de Pequim
Neste evento no mês passado, o diretor do Departamento de Água de Pequim, Liu Bin, afirmou que, nos últimos anos, a cidade tem priorizado a construção de cidades esponja como uma medida crucial para aperfeiçoar os sistemas de prevenção e redução de desastres urbanos e aumentar a capacidade de resiliência.
No processo de aliviar funções não essenciais da capital, construir sistemas de drenagem e prevenção de inundações, desenvolver áreas funcionais importantes, atualizar a cidade, lutar por águas mais limpas e construir infraestrutura conveniente, Pequim fortaleceu de forma abrangente o planejamento, design e construção de cidades esponja.
"Até agora, quase seis mil projetos de cidades-esponja foram completados, com a área de cidades esponja construídas nos distritos urbanos aumentando rapidamente para mais de 35%. A região do subcentro urbano de Pequim, que é uma área piloto de cidade esponja, conseguiu que 85% da precipitação fosse absorvida e utilizada localmente", disse Liu.
Como funcionam as cidades-esponjas?
A "cidade-esponja" é um conceito inovador de urbanismo que busca aumentar a capacidade de uma cidade de absorver e gerenciar a água da chuva de maneira natural, ajudando a prevenir enchentes e promovendo a sustentabilidade ambiental. Confira como funciona:
- Superfícies Permeáveis: As cidades-esponja utilizam materiais permeáveis em calçadas, praças e outros espaços públicos. Esses materiais permitem que a água da chuva infiltre-se no solo, reduzindo o escoamento superficial que pode causar enchentes.
- Áreas Verdes: O aumento de áreas verdes, como parques, jardins e telhados verdes, ajuda a absorver a água da chuva. As plantas e o solo nestas áreas ajudam a captar e filtrar a água, melhorando a qualidade da água enquanto reduzem o volume de escoamento.
- Biorretenção: Instalações de biorretenção, como jardins de chuva e valas de infiltração, são projetadas para reter água da chuva temporariamente e filtrá-la lentamente de volta ao solo ou para o sistema de drenagem, limpa de impurezas.
- Sistemas de Áreas Úmidas: A criação ou restauração de áreas úmidas dentro dos limites urbanos funciona como uma esponja natural, armazenando água durante períodos de chuva intensa e liberando-a gradualmente.
- Infraestrutura de Armazenamento de Água: Algumas cidades-esponja também incluem infraestruturas como tanques e reservatórios para coletar excesso de água da chuva, que pode ser usada para irrigação ou outras necessidades urbanas durante períodos de seca.
- Planejamento Integrado: Todo o planejamento urbano e arquitetônico das cidades-esponja é feito considerando o ciclo natural da água, buscando integrar soluções que promovam sua gestão eficiente e sustentável.
Esses métodos não apenas reduzem o risco de enchentes, mas também contribuem para o resfriamento das cidades, a melhoria da qualidade do ar e a promoção da biodiversidade. O conceito de cidade-esponja é uma abordagem proativa para lidar com os desafios das mudanças climáticas e o aumento da urbanização.