Um novo estudo de cientistas chineses defende o uso do consumo e não da produção para contabilizar as emissões globais de carbono. O objetivo é contribuir para tornar a alocação de responsabilidade pela redução de emissões mais justa e equitativa.
Divulgado nesta quarta-feira (29) em Xangai, o estudo intitulado "Research Report on Consumption-based Carbon Emissions - 2024)" (Relatório de Pesquisa sobre Emissões de Carbono Baseadas no Consumo - 2024, em tradução livre) foi realizado em conjunto por cientistas de vários institutos da Academia Chinesa de Ciências (CAS, da sigla em inglês) e da Universidade Tsinghua.
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O relatório apresenta os resultados mais recentes sobre as emissões globais de carbono a partir da perspectiva do consumo. Os cientistas analisaram a evolução das emissões baseadas no consumo (Consumption-Based Accounting - CBA).
Consumo x produção
O CBA é um método de contabilização das emissões de carbono considera as emissões geradas pela produção de bens e serviços consumidos em uma região, independentemente de onde são produzidos. É usado para avaliar a pegada de carbono de um país ou região, considerando o consumo em vez da produção.
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O estudo chinês analisa o CBA em grandes países desenvolvidos e em desenvolvimento de 1990 a 2019, comparando as mudanças nas emissões CBA na China e nos Estados Unidos, com foco na avaliação dos efeitos da transferência de carbono de produtos comerciais chave.
Um dos principais autores do relatório, vice-presidente do Instituto de Pesquisa Avançada de Xangai (SARI, da sigla em inglês) e pesquisador da CAS, Wei Wei, explicou que a contabilidade das emissões de carbono é a base fundamental para a redução global de emissões e a governança das mudanças climáticas.
Wei observou que o método amplamente adotado de contabilidade baseada na produção (Production-Based Accounting - PBA) não considera a contribuição implícita das atividades econômicas - especialmente do comércio internacional - para as emissões de carbono.
O PBA é um método de contabilização das emissões de carbono que foca nas emissões geradas durante a produção de bens e serviços dentro de uma determinada área geográfica, tipicamente um país ou região. Este método mede as emissões no local onde a produção ocorre, independentemente de onde os bens e serviços são consumidos.
O pesquisador chinês comenta que o método CBA pode ajudar a esclarecer como a responsabilidade pela redução das emissões globais pode ser atribuída de forma justa entre produtores e consumidores.
O relatório aponta que, de 1990 a 2019, as emissões CBA dos principais países desenvolvidos foram consistentemente mais altas do que as emissões PBA, enquanto o oposto foi verdadeiro para os principais países em desenvolvimento.
Disparidade entre países do Norte e do Sul Global
Para os não-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que são principalmente países em desenvolvimento, do chamado Sul Global, a diferença entre as emissões CBA e PBA aumentou gradualmente de 1,47 Gt em 1990 para 4,17 Gt em 2019.
Gt é a sigla para gigatonelada, unidade de medida utilizada para contabilizar grandes quantidades de emissões de carbono, especialmente no contexto das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
As emissões CBA dos 38 membros da OCDE, países ricos do Norte Global, foram continuamente mais altas do que as emissões PBA, com a diferença entre as duas aumentando gradualmente de 1,24 Gt em 1990 para 3,64 Gt em 2006 e depois diminuindo para 1,42 Gt em 2019.
País que produz paga o pato
De acordo com o relatório da CAS, a China continua sendo o maior assumidor mundial de emissões de carbono incorporadas no comércio. A diferença entre as emissões PBA e CBA da China aumentou de 0,7 Gt em 1990 para 1,8 Gt em 2019.
Enquanto isso, a intensidade de carbono incorporada nos produtos exportados pela China diminuiu 83,3% durante esse período, mostrando que o país asiático tem fornecido cada vez mais produtos verdes e de baixo carbono ao mundo.
Matérias-primas industriais e produtos verdes intensivos em tecnologia são os principais tipos de produtos comerciais da China. Em 2021, a China suportou 100 milhões de toneladas de emissões líquidas de carbono provenientes do comércio de produtos siderúrgicos e 250 milhões de toneladas do comércio de produtos fotovoltaicos para outros países.
"Para alcançar as metas globais de redução de carbono, todos os países do mundo devem trabalhar juntos para promover o avanço da ciência e da tecnologia", disse Wei, que observou que os países têm responsabilidades comuns de redução de carbono, bem como responsabilidades específicas de cada país.
O documento sugere que ainda existem oportunidades para melhorar os métodos de emissão CBA. O cálculo das pegadas de carbono dos produtos não só requer dados de melhor qualidade, mas também uma gama mais ampla de produtos.
"Além disso, o relatório sugere a criação de uma metodologia CBA que combine abordagens de cima para baixo e de baixo para cima, focando respectivamente nas emissões em nível regional e em nível de produto, com o objetivo de compartilhar a responsabilidade pelas emissões de maneira mais justa e, subsequentemente, reduzir essas emissões", afirmou Wei.
O representante do Centro Nacional de Estratégia e Cooperação Internacional para Mudanças Climáticas, Chai Qimin, avalia que é preciso corrigir a métrica de emissões de carbono.
"A medição global predominante das emissões de carbono é baseada na produção, o que é injusto para o desenvolvimento dos países em desenvolvimento, e este relatório oferece uma nova perspectiva para salvaguardar os direitos e interesses desses países," observou Chai Qimin.
Estudo pioneiro na China
Wei observou que este é o primeiro relatório sobre emissões de carbono baseadas no consumo na China, focado nas emissões de carbono causadas pelo comportamento de consumo humano. O documento pede a integração das emissões de carbono baseadas na produção e no consumo, e uma alocação mais científica das reduções de carbono em diferentes países.
"Esperamos estabelecer um banco de dados completo de emissões de carbono, proporcionando uma base científica melhor para as reduções globais de emissões e a governança das mudanças climáticas. No futuro, otimizaremos ainda mais o método de contabilidade para alcançar uma contabilidade de emissões de carbono com maior precisão, como o uso de satélites para observar o processo de fluxo de carbono," observou Wei.
Compare os métodos PBA e CBA
PBA - produção
- As emissões são contabilizadas no local onde os bens e serviços são produzidos.
- Não considera onde os produtos são consumidos, apenas onde são fabricados ou gerados.
- A responsabilidade pelas emissões é atribuída ao país ou região que produz os bens e serviços, mesmo que esses produtos sejam exportados e consumidos em outro lugar.
- Foca na eficiência e nas práticas de produção local.
- O método é mais simples de aplicar, pois utiliza dados de produção e de emissões diretas de indústrias e atividades econômicas locais.
- Facilita a comparação entre países ou regiões, pois todos são medidos com base em suas próprias atividades produtivas.
- Não considera as emissões associadas ao consumo de produtos importados, o que pode dar uma imagem incompleta das responsabilidades globais de carbono.
- Países podem parecer menos responsáveis por emissões ao importar produtos com alto teor de carbono, transferindo a responsabilidade para os países produtores.
CBA - consumo
- Contabiliza as emissões com base no consumo de bens e serviços, independentemente de onde são produzidos
- É importante para entender a verdadeira pegada de carbono de um país, especialmente em um mundo globalizado onde muitos bens consumidos em um país são produzidos em outro.
- Utilizada para políticas de mitigação de mudanças climáticas, pode ajudar a identificar quais setores e comportamentos de consumo têm maior impacto nas emissões de carbono.
- Permite uma distribuição mais justa das responsabilidades pelas emissões de carbono, atribuindo-as tanto aos produtores quanto aos consumidores. Isso é especialmente relevante no contexto do comércio internacional, onde países desenvolvidos consomem produtos fabricados em países em desenvolvimento??.
- Ao contabilizar as emissões associadas aos produtos importados, a CBA revela a verdadeira pegada de carbono de um país, proporcionando uma imagem mais precisa do impacto ambiental do consumo nacional.
No contexto de políticas de mudança climática, PBA é o método tradicionalmente usado para inventários nacionais de emissões, como aqueles reportados à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, da sigla em inglês). No entanto, há um crescente interesse em métodos como o CBA para proporcionar uma visão mais completa das emissões globais de carbono e responsabilidades compartilhadas.
O que emissão de carbono tem a ver com aquecimento global?
As emissões de carbono, o aquecimento global e as mudanças climáticas estão interligados de maneira direta e significativa. Entenda os principais pontos dessa relação crítica:
Emissões de Carbono
- As emissões de carbono referem-se à liberação de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, resultantes principalmente de atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, desmatamento e processos industriais.
- As principais fontes de emissões incluem transporte, geração de energia, indústria, agricultura e desmatamento.
Aquecimento Global
- Efeito Estufa: Gases como CO2, metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) retêm calor na atmosfera, criando um efeito estufa natural essencial para a vida. No entanto, o aumento das emissões intensifica esse efeito, resultando no aquecimento global e aumento da temperatura média global.
Mudanças Climáticas
- Impacto do Aquecimento Global: As mudanças climáticas são amplamente documentadas e incluem efeitos variados no clima da Terra. Estas consequências são destacadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Consequências
- Eventos Climáticos Extremos: Aumento na frequência e intensidade de ondas de calor, tempestades, secas e inundações.
- Degelo e Elevação do Nível do Mar: Derretimento de geleiras e calotas polares elevam o nível do mar, ameaçando comunidades costeiras.
- Alterações nos Ecossistemas: Mudanças nos padrões de precipitação e temperatura afetam a biodiversidade e provocam migração de espécies.
- Impacto na Agricultura: Afeta a produção agrícola, alterando a disponibilidade de água e a fertilidade do solo.
Evidências Científicas
- Relatórios do IPCC: Fornecem uma base científica sólida ligando diretamente as emissões de carbono ao aquecimento global e às mudanças climáticas. Atividades humanas são apontadas como a principal causa do aumento das temperaturas globais desde meados do século XX.
- Dados de Observação: Medições de temperaturas globais, níveis de CO2 atmosférico e registros de eventos climáticos extremos corroboram essa ligação.
Mitigação e Adaptação
- Redução de Emissões: Essencial para mitigar o aquecimento global, pode ser alcançada através de energias renováveis, eficiência energética, conservação de florestas e práticas agrícolas sustentáveis.
- Adaptação: Além da mitigação, é crucial desenvolver infraestrutura resiliente, sistemas de alerta precoce e políticas de gestão de recursos para se adaptar às mudanças climáticas em curso