O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, desembarca na China nesta quarta-feira (24) para encontro com o ministro das Relações Exteriores da China e principal diplomata do país, Wang Yi.
A visita oficial de Blinken ocorre dias depois de declarações duras contra Pequim durante o encontro de chanceleres do Grupo dos Sete (G7), realizado em Capri, na Itália, na semana passada.
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Na ocasião, durante uma coletiva de imprensa, Blinken expressou preocupação com a transferência de armas e insumos para a base industrial de defesa da Rússia e destacou a China como principal contribuinte nesse aspecto.
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O secretário de Estado dos EUA também comentou que Washington está focada em renovar a busca por novos parceiros, especialmente no Indo-Pacífico, sob o pretexto de ampliar a interconexão global da segurança.
"Se a China pretender, por um lado, querer boas relações com a Europa e outros países, não pode, por outro lado, alimentar o que é a maior ameaça à segurança europeia desde o fim da Guerra Fria. E você não precisa apenas tirar isso de mim – isso é o que eu ouvi ao redor da mesa no G7", destacou Blinken.
Confira aqui a declaração completa de Antony Blinken, em inglês.
China reage à fala de Blinken
A declaração de Blinken não ficou sem resposta da diplomacia chinesa. Nesta segunda-feira (22), o Ministério das Relações Exteriores chinês antecipou os cinco pontos que serão abordados por Pequim durante a visita de dois dias, entre 24 e 26 de abril, que o chanceler estadunidense fará à China.
1. Estabelecer a percepção correta nas relações China-EUA. Rejeitar a ideia de rivalidade como tendência predominante. A diplomacia chinesa destaca a necessidade de estabilizar e fortalecer os laços bilaterais, evitar conflitos e manter o diálogo. Também apela aos EUA para honrar compromissos de não buscar uma nova Guerra Fria e colaborar na concretização dos entendimentos de São Francisco. As equipes diplomáticas de ambos os países continuarão as discussões com base em sete princípios orientadores, visando o respeito mútuo e a cooperação em áreas de interesse comum.
"A percepção é sempre o primeiro botão que deve ser colocado corretamente. Se a China e os Estados Unidos são rivais ou parceiros é uma questão fundamental, sobre a qual não deve haver nenhum erro catastrófico. A China acredita sempre que a concorrência dos principais países não é a tendência predominante dos tempos atuais, nem a solução para os problemas enfrentados pela China, os Estados Unidos e o mundo."
2. Fortalecer o diálogo. Desde a cúpula de São Francisco (EU), em novembro passado, foram firmados compromissos em vários campos entre Washington e Pequim. Comunicação em níveis político, econômico, ambiental, militar e cultural foi restaurada, evidenciando mais de 20 mecanismos de consulta estabelecidos. A China reitera sua abertura ao diálogo, mas alerta contra tentativas de comunicação unidirecional ou abordagens baseadas em confronto. Criticam a mentalidade de Guerra Fria dos EUA e sua tentativa de formar alianças contra a China, considerando-a desatualizada e contraproducente.
"O lado dos EUA deve perceber que não pode buscar comunicação apenas por causa da comunicação; não deve dizer uma coisa, mas fazer o oposto; e não deve ter nenhuma ilusão de que pode lidar com a China a partir de uma chamada 'posição de força'. O chamado sistema de alianças dos EUA é um produto da Guerra Fria, e reflete a mentalidade desatualizada da Guerra Fria e o jogo de soma zero, onde um lado prospera às custas dos outros. Os Estados Unidos estão obcecados em trazer seus aliados para pequenos círculos contra a China. O movimento vai contra a tendência dos tempos. Ele não encontrará apoio e não levará a lugar nenhum."
3. Manejar com eficácia desacordos com os EUA. Embora discordâncias persistam, ambas as nações devem evitar que esses desentendimentos dominem suas relações e devem ser gerenciados adequadamente. A China enfatiza suas linhas vermelhas, incluindo Taiwan, democracia, direitos humanos e seu direito ao desenvolvimento, reiterando sua determinação em defender seus interesses de soberania e segurança.
Quanto a Taiwan, é enfatizado que é parte integrante da China e que qualquer movimento em direção à independência é inaceitável. Em relação às questões econômicas, comerciais e tecnológicas, a China critica as medidas dos EUA, considerando-as como coerção econômica e bullying, e se opõe firmemente a qualquer tentativa de interferência nos assuntos do Mar do Sul da China, reafirmando sua soberania sobre as ilhas e águas adjacentes.
"O chamado 'excesso de capacidade' é uma narrativa enganosa exagerada pelo lado dos EUA empacotado em conceitos econômicos. A verdadeira intenção é ajoelhar o desenvolvimento industrial da China e colocar os EUA em uma posição mais vantajosa na concorrência do mercado. É outro exemplo de coerção econômica e bullying. O crescimento das exportações chinesas de veículos elétricos, baterias de lítio e produtos fotovoltaicos nos últimos anos é resultado da divisão internacional de demanda de trabalho e mercado e é propício para o desenvolvimento verde em todo o mundo."
"A China e os EUA estabeleceram mecanismos de consulta sobre assuntos marítimos e assuntos da Ásia-Pacífico, através dos quais o diálogo pode ser realizado entre os dois lados. Dito isto, os EUA não são parte da questão do Mar do Sul da China. Não deve interferir, menos causar problemas."
4. Promover uma cooperação mutuamente benéfica entre China e EUA. Apesar das divergências, nos últimos meses ambos os países avançaram em áreas como combate aos narcóticos, aplicação da lei, ciência e tecnologia, saúde e mudanças climáticas. A cooperação se estendeu também para voos diretos entre os países, intercâmbio empresarial, compromissos entre jovens e interações culturais e esportivas.
Esses esforços destacam os amplos interesses comuns e o potencial de benefício mútuo na cooperação entre as nações. Além disso, a China expressa disposição em cooperar no combate ao fentanil, destacando que é um problema que exige abordagem recíproca por parte dos EUA.
"O fentanil não é um problema da China, nem é causado pela China. Dito isto, a China não ficou de braços cruzados, mas está disposta a ajudar o povo americano. Desde a reunião de São Francisco, o lado chinês combinou suas palavras com ações. Foram feitos progressos na cooperação contra o narcotráfico, graças aos enormes esforços desenvolvidos pelo lado chinês. O lado dos EUA deve abordar as preocupações da China de maneira recíproca."
5. Trabalhar em conjunto para cumprir responsabilidades como países principais. Ambos têm papéis especiais no Conselho de Segurança da ONU e são instados a desempenhar um papel construtivo em questões internacionais, como no Oriente Médio, na Ucrânia e na Península Coreana. A China espera que os EUA ajam de maneira responsável nessas questões.
A China expressa insatisfação com o veto dos EUA à adesão plena da Palestina à ONU, destacando que essa adesão é crucial para a solução de dois Estados. Além disso, insta os EUA a respeitarem o direito internacional e apoiarem o cessar-fogo em Gaza.
Quanto à crise na Ucrânia, a China enfatiza a necessidade de uma solução política e pede que os EUA evitem escaladas e explorem a crise para ganhos próprios.
Também exige que os EUA cessem as sanções arbitrárias contra empresas e indivíduos chineses, ressaltando que a questão ucraniana não deve ser transformada em um problema entre China e EUA.
"A China não criou a crise da Ucrânia, nem a China é parte dela. [...] É importante que o lado dos EUA reflita sobre suas devidos responsabilidades na crise da Ucrânia, não adicione combustível ao fogo ou explore a crise para ganhos egoístas."
Sobre a relação entre China e Rússia, a diplomacia chinesa destaca que as relações entre os dois países não devem ser prejudicadas, nem deve haver incitação ao conflito em grupo, e muito menos atribuição injusta de culpa à China.
"Não deve manchar as relações normais entre a China e a Rússia ou instigar o confronto em bloco, ainda menos caluniador e bode expiatório da China."
Escalada de tensão no Indo-Pacífico
O Ministério das Relações Exteriores da China também pontuou a escalada de tensão no Indo-Pacífico e expressou séria preocupação com os movimentos recentes dos EUA na região, incluindo a trilateral cúpula com Japão e Filipinas.
A China alerta que a implantação de mísseis de alcance médio nas Filipinas e os esforços para avançar submarinos nucleares aumentam as tensões na região e a corrida armamentista. Pequim pede a Washington que respeitem as preocupações de segurança de outros países, evitem incitar tensões e cessem a formação de alianças para conter a China.
"A Ásia-Pacífico não é o quintal de ninguém e não deve ser uma arena para a rivalidade de grandes potências. A China pede que o lado dos EUA respeite as preocupações de segurança de outros países, bem como os esforços dos países regionais para salvaguardar a paz e a estabilidade, superar a mentalidade da Guerra Fria, parar de incitar as tensões militares ou o confronto em bloco e parar de forjar pequenos círculos destinados a conter a China na vizinhança da China."
Direitos Humanos na China
A diplomacia chinesa também respondeu às declarações dos EUA sobre levantar preocupações de direitos humanos durante a visita, de Blinken. Questões relacionadas a Xinjiang, Tibete e Hong Kong são assuntos internos da China e não devem ser consideradas como "questões de direitos humanos". A China rejeita a interferência dos EUA em seus assuntos internos e enfatiza que os direitos humanos não são exclusivos de nenhum país. Os EUA foram instados a resolverem seus próprios problemas de direitos humanos antes de criticarem outros países.
"Os Estados Unidos não devem usar os direitos humanos como desculpa para interferir nos assuntos internos da China. Os direitos humanos não são monopólio de nenhum país. O povo de um país tem a melhor palavra sobre os seus direitos humanos. Os Estados Unidos devem primeiro enfrentar seus próprios problemas de direitos humanos. Não está em posição de dar palestras aos outros."
Assédio a estudantes chineses nos EUA
A diplomacia chinesa também expressou preocupação com o assédio, interrogatório e repatriação de estudantes chineses pelos EUA. Afirmou que o governo estadunidense sobrecarrega o conceito de segurança nacional e viola as próprias declarações sobre facilitar intercâmbios entre os dois países. Isso causa danos significativos aos estudantes.
A China pede aos EUA que parem de envenenar a atmosfera bilateral, cessem de obstruir trocas amigáveis e investiguem adequadamente os casos, protegendo os direitos das vítimas. O governo chinês está comprometido em proteger os direitos legítimos de seus cidadãos.
"A China continuará a pedir ao lado dos EUA que pare de envenenar a atmosfera nas duas sociedades, pare de obstruir as trocas amigáveis entre os dois povos, retificar suas práticas erradas, conduzir investigações completas sobre casos relevantes e fazer as coisas certas para as vítimas. O governo chinês está empenhado em servir os interesses do povo e continuará a tomar medidas para salvaguardar firmemente os direitos legítimos e legais dos cidadãos chineses."
Confira aqui a declaração da diplomacia chinesa na íntegra, em inglês.
Acordos de São Francisco
O Departamento de Assuntos da América do Norte e Oceania do Ministério das Relações Exteriores chinês detacou que a visita do secretário Blinken é parte dos esforços da China e dos Estados Unidos para implementar os entendimentos comuns alcançados pelos dois presidentes em sua reunião em São Francisco: manter o diálogo, gerenciar as diferenças, avançar a cooperação e fortalecer a coordenação em assuntos internacionais.
Os dois lados estão em comunicação sobre a visita. No telefonema entre os dois presidentes em 2 de abril, Joe Biden disse a Xi Jinping que os Estados Unidos enviarão o secretário Blinken para visitar a China.
A diplomacia chinesa ressaltou que, em novembro passado, Xi e Biden realizaram uma reunião histórica em São Francisco (EUA). Eles alcançaram uma série de entendimentos e entregas comuns importantes e estabeleceram uma visão orientada para o futuro em São Francisco.
No início do ano, Xi trocou cartas de felicitações com o presidente Biden por ocasião do 45º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países. Em 27 de março, Xi se reuniu com representantes das comunidades empresariais, estratégicas e acadêmicas dos EUA. Em 2 de abril, conversou com o presidente Biden por telefone, a pedido deste último.
Sob a orientação estratégica dos dois presidentes, as relações China-EUA começaram a se estabilizar. Por outro lado, ainda há fatores negativos significativos na relação bilateral. Os Estados Unidos continuam avançando na estratégia de conter a China, continuam adotando palavras e ações errôneas que interferem nos assuntos internos da China, mancham a imagem da China e minam os interesses da China. A China se opõe resolutamente a tais movimentos e tomou fortes contramedidas.
A diplomacia chinesa informa que Pequim sempre vê e lida com suas relações com Washington de acordo com os três princípios fundamentais de respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha.
Em relação às relações China-EUA em 2024, o lado chinês seguirá três princípios abrangentes: a paz deve ser valorizada, a estabilidade deve ser priorizada e a credibilidade deve ser mantida.