Este ano marca o 75º aniversário da fundação da República Popular da China. O país busca consolidar a tendência de recuperação econômica por meio da promoção de um crescimento qualitativo eficaz e quantitativamente razoável, a melhoria do bem-estar da população e a manutenção da estabilidade social. Mas também está de olho em colocar em prática iniciativas relacionadas ao soft power.
Nesta terça-feira (5), durante a reunião de abertura da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN), o mais alto órgão da legislatura nacional da potência asiática, o primeiro-ministro, Li Qiang, em nome do Conselho de Estado, apresentou o relatório de trabalho do governo.
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O documento lista as realizações de 2023 e as tarefas previstas para 2024 e será deliberado pelos 2.871 deputados e deputadas que participam da APN até o dia 11 de março, quando ocorre o encerramento da sessão.
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Enriquecer a vida espiritual e cultural do povo
O texto anuncia uma ampla estratégia para enriquecer a vida espiritual e cultural do povo chinês. O país se compromete a desenvolver as ciências sociais e filosofia, a imprensa, radiodifusão, cinema, televisão, literatura, artes, e a arquivologia, além de impulsionar a estratégia nacional de digitalização cultural.
As atividades de leitura serão expandidas entre a população, e haverá um esforço para melhorar a saúde da internet, com a promoção de uma cultura cibernética que valorize o progresso e a bondade.
De forma inovadora, a China pretende executar projetos culturais que beneficiem diretamente o povo e aumentar o acesso gratuito a espaços culturais públicos, ao mesmo tempo em que dinamiza as indústrias culturais.
Está prevista a realização do quarto censo nacional de vestígios culturais, com o objetivo de fortalecer a preservação e o uso adequado desses recursos.
O país também focará na proteção, preservação e transmissão do patrimônio cultural imaterial, além de ampliar os intercâmbios culturais internacionais e a capacidade de difusão cultural global.
No âmbito esportivo, a China intensificará as reformas e se preparará adequadamente para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024, com planos de construir e utilizar instalações esportivas acessíveis à população e promover atividades que fortaleçam a saúde da comunidade.
Este conjunto de medidas destaca o compromisso do país em promover o bem-estar cultural e espiritual de seus cidadãos, projetando uma visão abrangente de progresso e desenvolvimento cultural.
Por que o soft power?
Soft power é um termo cunhado pelo cientista político estadunidense Joseph Nye na década de 1980 para descrever a capacidade de um país de influenciar e persuadir outros países a fazerem o que ele deseja através da atração e apelo, em vez de coação ou pagamento (hard power).
O soft power envolve a utilização de meios culturais, ideológicos, e políticos para promover os interesses de uma nação no cenário internacional, criando uma imagem positiva e atraente que naturalmente atrai outros países e povos.
Os principais veículos do soft power incluem a cultura (música, filmes, literatura, arte), valores políticos (democracia, liberdade de expressão, direitos humanos), e políticas externas percebidas como legítimas e morais.
Universidades, marcas e produtos também podem ser instrumentos de soft power, assim como iniciativas diplomáticas que enfatizam a cooperação e assistência internacional.
O soft power é fundamental na diplomacia contemporânea, pois permite que as nações alcancem seus objetivos globais de uma maneira mais sutil e, frequentemente, mais eficaz, ao cultivar uma rede de alianças e parcerias baseadas na admiração mútua e interesses compartilhados.
O soft power chinês no Brasil
Todos os lares brasileiros devem ter, no mínimo, um produto industrializado ‘made in China’: roupas, calçados, eletroeletrônicos, brinquedos, utensílios etc. Já na lista de itens culturais, como filmes, séries e música, a cesta brasileira é escassa, quando não vazia, de produções chinesas.
Diante de sua posição como a segunda maior economia mundial, a China reconhece essa defasagem cultural.
Em meio às complexidades da geopolítica global — que incluem desafios no comércio internacional, questões de segurança e soberania nacional, e a necessidade de responder a ameaças explícitas e implícitas com a seriedade do poder coercitivo (hard power) —, o gigante asiático está ciente da necessidade de suavizar sua imagem internacional.
Para ampliar seu prestígio e sucesso além de suas fronteiras, a China vê como imperativo apostar na estratégia do soft power, o poder de influência e persuasão, com o objetivo de moldar positivamente a percepção global sobre o país.
Soft power no projeto nacional de desenvolvimento
O investimento em soft power pela China consta nas entrelinhas do relatório do 19º Comitê Central do PCCh entregue ao 20º Congresso Nacional do PCCh, realizado entre 16 e 22 de outubro de 2022.
O tema foi abordado de forma específica no 14º Plano Quinquenal (2021-2025) para o Desenvolvimento Econômico e Social Nacional e Visão 2035 da República Popular da China.