Quem imaginaria que o alho, cujo nome científico é Allium sativum, uma planta herbácea da família Amaryllidaceae, amplamente cultivada e utilizada tanto na culinária quanto na medicina tradicional, seria uma ameaça à segurança de uma superpotência?
Pois é exatamente o que diz o senador estadunidense pela Flórida Rick Scott, do Partido Republicano, que considera o alho cultivado na China uma ameaça à segurança dos EUA.
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Nesta semana, o político trumpista divulgou mais uma declaração na qual afirma que o alho cultivado na China chinês é uma "grande ameaça" à segurança alimentar nos Estados Unidos.
Ele pediu a inclusão do alho da China na Lista de Produtos Produzidos por Trabalho Infantil ou Trabalho Forçado e a abertura de uma investigação com base na Seção 301.
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A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou o Ato de Autorização de Defesa Nacional (NDAA) para o ano fiscal de 2025, que inclui uma proibição do alho chinês em lojas militares.
China faz chacota da "ameaça do alho"
Durante coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, a porta-voz Mao Ning comentou a declaração de Scott de forma bem-humorada para expor o ridículo da situação.
Mao citou a reação dos internautas chineses à declaração desse político dos EUA e como eles riram dessa acusação absurda.
“Duvido que o alho tenha imaginado, algum dia, que seria acusado de representar uma ‘grande ameaça’ para os EUA. De drones a guindastes, de refrigeradores a alhos, cada vez mais produtos fabricados na China estão sendo acusados pelos EUA de ‘representar riscos à segurança nacional’”, comentou.
A porta-voz também fez uma provocação ao questionar se os EUA apresentaram alguma evidência confiável ou justificativa para essas acusações? Ela mesma sugere uma resposta: são apenas uma maneira de justificar o protecionismo de Washington e o abuso do poder estatal para conter o desenvolvimento da China e promover o desacoplamento e a ruptura das cadeias de suprimentos.
“Deixe-me enfatizar que ampliar de forma exagerada o conceito de segurança nacional, politizar e transformar questões de comércio e tecnologia em armas apenas aumentará os riscos de segurança nas cadeias globais de suprimento e indústria. Isso não beneficiará ninguém. Instamos alguns políticos dos EUA a buscarem mais racionalidade e bom senso, para evitar se exporem ao ridículo público,” finalizou.
A declaração absurda do senador trumpista
O senador trumpista Rick Scott intensificou sua campanha contra o alho importado da China. No dia 10 de dezembro ele enviou cartas a autoridades federais dos EUA em que pede investigações junto ao Departamento de Agricultura, ao Representante Comercial dos EUA e ao Escritório de Assuntos Internacionais do Trabalho.
Scott alega que o alho chinês é cultivado em esgoto humano, branqueado e produzido sob condições precárias, incluindo trabalho infantil e escravo.
O senador também pediu uma investigação sob a Seção 301 para avaliar práticas comerciais desleais da China e defendeu a inclusão do alho chinês na lista de produtos ligados a trabalho forçado.
A iniciativa faz parte de um esforço contínuo de Scott para restringir a entrada de produtos chineses considerados de baixa qualidade nos mercados estadunidenses.
Ao jornal birtânico Independent, a Embaixada da China em Washington rebateu as acusações, classificando-as como infundadas e motivadas por razões políticas.
Segundo o porta-voz da diplomacia chinesa nos EUA, a China “enfatiza a segurança alimentar” e rejeita as alegações de trabalho forçado ou infantil.
“Nos opomos ao uso exagerado do conceito de segurança nacional para difamar produtos chineses”, afirmou o porta-voz.
Ameaça do alho vira piada nas redes chinesas
A reação dos internautas chineses às acusações feitas pelo senador Rick Scott, que alegou que o alho chinês representa uma "grande ameaça" à segurança nacional dos Estados Unidos, foi de incredulidade e zombaria.
Comentários nas redes sociais chinesas destacaram o absurdo das declarações, com muitos usuários ironizando a ideia de que algo tão simples como o alho poderia representar um perigo para uma superpotência.
Muitos internautas trataram as acusações como absurdas e transformaram a situação em piadas. Comentários como “Será que o alho sabe que é uma ameaça tão séria?” e “Do drones ao alho, tudo na China é perigoso para os EUA” foram amplamente compartilhados.
Alguns usuários apontaram que a acusação reflete uma tentativa de justificar o protecionismo americano, usando segurança nacional como desculpa para impor restrições a produtos chineses. Frases como “Quando você não consegue competir, apenas diga que é uma ameaça” foram comuns.
Comentários sugeriram que a acusação é uma nova forma de atacar a China sem evidências concretas, destacando que tais alegações servem mais como propaganda do que como uma preocupação genuína.
Muitos usuários chineses interpretaram as declarações como reconhecimento indireto da superioridade dos produtos chineses no mercado global. “Se até nosso alho é uma ameaça, imagine nossas outras conquistas” foi um sentimento recorrente.
Essa mistura de humor, crítica e orgulho mostra como o público chinês percebe tais acusações absurdas como uma extensão das tensões políticas e comerciais entre os dois países, em vez de questões legítimas relacionadas à segurança ou saúde.
Congresso dos EUA leva a sério "perigo do alho"
A despeito do ridículo da acusação feita pelo senador trumpista, o Congresso dos EUA levou a sério a ameaça do alho chinês. Na última quarta-feira (11), a Câmara dos Representantes aprovou uma legislação que inclui a proibição de produtos como tecnologia de navegação a laser e alho oriundos da China.
A medida faz parte do Ato de Autorização de Defesa Nacional (NDAA, a sigla em inglês) de 2025, um pacote de US$ 884 bilhões, que deve ser sancionado pelo presidente Joe Biden até o final do ano.
Principais pontos da legislação:
- Proibição de lidar chinês: O projeto veta o uso de tecnologias de detecção de luz e alcance (lidar) fabricadas ou com software desenvolvido na China pelo Pentágono. Essa tecnologia é considerada central na estratégia chinesa de alcançar superioridade tecnológica.
- Restrições a produtos agrícolas chineses: A venda de alho fresco ou refrigerado da China será proibida em comissarias militares, citando preocupações de segurança agrícola e práticas comerciais anticompetitivas.
- Medidas contra empresas tecnológicas chinesas: O Pentágono está proibido de contratar serviços de empresas de ensino online e fornecedoras de semicondutores ligadas à Huawei, devido a preocupações com segurança de dados.
- Ampliação da base industrial de defesa no Indo-Pacífico: O NDAA autoriza a construção de uma instalação de manufatura avançada próxima a bases militares na região do Indo-Pacífico para apoiar atividades de defesa.
- Estudos focados na China: A legislação comissiona relatórios sobre práticas comerciais chinesas, como as vantagens competitivas do Shanghai Shipping Exchange, além de análises sobre o setor de biotecnologia e evasão de regulamentações de segurança nacional.
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