A gigante chinesa Huawei, maior fornecedora de equipamentos de telecomunicações do mundo, conseguiu driblar as sanções impostas pelos Estados Unidos, crescer e manter sua posição no mercado global.
Nesta sexta-feira (1), a empresa anunciou um aumento de 29,5% em sua receita nos primeiros nove meses de 2024, totalizando 585,9 bilhões de yuans (82,3 bilhões de dólares ou aproximadamente 410,1 bilhões de reais).
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O crescimento da Huawei foi impulsionado pelo aumento das vendas de smartphones no mercado doméstico da empresa, a China. No mesmo período de 2023, a receita havia sido de 452,3 bilhões de yuans (63,3 bilhões de dólares ou cerca de 316,6 bilhões de reais).
Mesmo com o crescimento de receita, o lucro líquido da Huawei caiu 13,7%, somando 62,9 bilhões de yuans (8,8 bilhões de dólares ou aproximadamente 44 bilhões de reais), em comparação aos 72,9 bilhões de yuans do ano anterior (10,2 bilhões de dólares ou cerca de 51 bilhões de reais). A empresa não detalhou o desempenho de seus diferentes segmentos de negócios.
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A recuperação nas vendas reflete o retorno da Huawei ao mercado premium de smartphones 5G, que está em vias de registrar seu primeiro crescimento anual em vendas na China em cinco anos.
Admiração do CEO da Huawei pelos EUA
Apesar de ser alvo de medidas protecionistas impostas por Washington há mais de uma década, o fundador e CEO da Huawei, Ren Zhengfei, de 80 anos, expressou sua admiração pela “abertura e inclusão” da comunidade tecnológica dos Estados Unidos. No entanto, afirmou que nesse cenário a sua empresa “não teve escolha” senão desenvolver as próprias ferramentas.
Os elogios de Ren sobre os Estados Unidos foram feitos no dia 14 de outubro passado durante um seminário realizado antes da Competição Internacional de Programação Universitária (International Collegiate Programming Contest | ICPC, da sigla em inglês). As declarações do CEO da Huawei foram divulgadas na quinta-feira (31) no site da organização.
No evento, Ren respondeu a perguntas de participantes de diversos países, como Japão, França, Romênia e Estados Unidos e compartilhou suas ideias sobre temas como educação, inteligência artificial (IA), competição entre grandes potências, empreendedorismo jovem e desenvolvimento de negócios.
Em resposta a uma pergunta de um participante dos EUA sobre como a Huawei alcançou seus feitos tecnológicos, apesar da competição entre grandes nações, Ren disse que, apesar da competição global, as teorias são abertas, pois a pesquisa científica não tem fronteiras nacionais, embora as empresas nem sempre revelem publicamente seus projetos e tecnologias.
Ren destacou a transformação dos EUA nos últimos 200 anos, de um país atrasado para uma potência global em ciência e tecnologia, o que ele atribui à abertura e inclusão. Ele mencionou que talentos globais convergiram no país, o que levou diversidade cultural, social e tecnológica que impulsionou o destaque do país.
"Os EUA têm sido um exemplo para todas as nações e empresas ao demonstrar a necessidade de abertura; se um país se fecha, corre o risco de ficar para trás. A Huawei deve aprender com a abertura e inclusão dos EUA", ressaltou Ren.
Sobre as sanções impostas à Huawei pelos EUA nos últimos anos, Ren observou que a maioria das empresas não está sujeita a essas sanções. "A abertura e a inovação são o padrão no mundo", disse.
Ren acrescentou que as empresas devem utilizar as boas tecnologias e ferramentas dos EUA, mas, como a Huawei não pode usá-las, ela não tem opção senão criar suas próprias ferramentas.
Sanções dos EUA contra a Huawei
Com sede em Shenzhen, a Huawei está proibida de adquirir hardware, software e serviços de fornecedores de alta tecnologia dos EUA desde maio de 2019, quando foi incluída na lista negativa comercial de Washington.
Restrições comerciais adicionais, impostas pelo governo dos EUA em 2020, limitaram ainda mais o acesso da Huawei a semicondutores avançados desenvolvidos ou produzidos com tecnologia americana, independentemente do local de fabricação.
Desde então, a Huawei se transformou em uma força central no movimento de autossuficiência da China, desenvolvendo desde chips de inteligência artificial até sistemas operacionais.
Estratégias para driblar as sanções dos EUA
A Huawei conseguiu crescer e manter sua posição no mercado global por meio de diversas estratégias que permitiram à empresa sobreviver às medidas de Washington e continuar inovando e expandindo sua presença em mercados estratégicos.
- Diversificação de Negócios: A empresa ampliou sua atuação para além dos smartphones, investindo em áreas como computação em nuvem, serviços digitais e componentes para automóveis. Em 2023, a receita da Huawei aumentou 9,6%, alcançando 704,2 bilhões de yuans (aproximadamente 97,4 bilhões de dólares), impulsionada pelo crescimento nesses setores.
- Foco no Mercado Doméstico: Com as restrições no mercado internacional, a Huawei concentrou esforços na China, onde a demanda por seus produtos e serviços permaneceu robusta. Em 2023, a receita proveniente do mercado chinês representou quase 70% do total da empresa.
- Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): A Huawei aumentou significativamente seus investimentos em P&D para reduzir a dependência de tecnologias estrangeiras. Em 2023, a empresa destinou 164,7 bilhões de yuans (cerca de 22,8 bilhões de dólares) para P&D, correspondendo a quase um quarto de sua receita anual.
- Desenvolvimento de Tecnologias Próprias: A empresa avançou no desenvolvimento de chips e sistemas operacionais próprios, diminuindo a dependência de fornecedores estrangeiros. O lançamento do smartphone Mate 60 Pro, equipado com um chip de 7 nanômetros desenvolvido internamente, exemplifica esse progresso.
- Resiliência Organizacional: A Huawei implementou mudanças estruturais e otimizou suas operações para enfrentar os desafios impostos pelas sanções, demonstrando capacidade de adaptação e resiliência em um ambiente adverso.
Linha do tempo das sanções contra a Huawei
A Huawei enfrenta há mais de uma década uma série de sanções impostas pelos Estados Unidos e seus aliados que são frequentemente justificadas por razões de segurança nacional e a influência tecnológica da Huawei no cenário global.
2012
- O Congresso dos EUA publicou um relatório acusando a Huawei e a ZTE de representarem ameaças à segurança nacional, alegando possíveis vínculos com o governo chinês para espionagem.
2019
- Em maio, o então presidente Donald Trump assinou um decreto proibindo empresas dos EUA de utilizarem equipamentos de telecomunicações de empresas que representassem risco à segurança nacional, incluindo a Huawei.
- No mesmo mês, o Departamento de Comércio dos EUA adicionou a Huawei à "Lista de Entidades", restringindo seu acesso a tecnologias e componentes estadunidenses.
2020
- Em agosto, os EUA ampliaram as restrições, proibindo a venda de chips fabricados com tecnologia estadunidense para a Huawei, afetando significativamente sua capacidade de produzir smartphones avançados
2021
- Em novembro, o presidente Joe Biden sancionou a Lei de Equipamentos Seguros, impedindo que empresas consideradas ameaças à segurança nacional, como Huawei e ZTE, recebessem novas licenças para seus equipamentos nos EUA.
2024
- Em julho, a administração Biden revogou oito licenças que permitiam a algumas empresas fornecer produtos à Huawei, intensificando as restrições comerciais.
- Em outubro, o governo dos EUA pressionou aliados, incluindo Japão, Coreia do Sul e Países Baixos, a restringirem exportações de tecnologias relacionadas a chips para a China, visando conter o avanço tecnológico da Huawei.
Embora as sanções dos EUA continuem desafiando a Huawei, a fala do fundador e CEO Ren Zhengfei destaca o paradoxo entre sua admiração pela abertura e inovação tecnológica estadunidense e as restrições comerciais impostas a sua empresa.
Em um cenário global que valoriza a inclusão e o desenvolvimento científico, o CEO sugere que o fechamento de portas pode ser, ironicamente, o maior obstáculo para o avanço conjunto.
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