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Pequim, que publicou seu próprio plano de paz, mantém-se próxima a Moscou e não deseja vê-la isolada internacionalmente.
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A Rússia não foi convidada para o evento em Jidá, onde se espera que a Ucrânia busque um apoio internacional mais amplo.
Mais de 30 países foram convidados para a conferência de dois dias em Jidá, na Arábia Saudita, neste fim de semana, dias 5 e 6, onde é provável que a Ucrânia busque mais apoio internacional. A Rússia, que recentemente se retirou de um acordo para proteger as exportações de grãos ucranianos, não foi convidada.
No entanto, a China e várias nações em desenvolvimento - incluindo seus parceiros do Brics, Índia, Brasil e África do Sul - que provavelmente serão mais afetados pelas ações da Rússia, estão entre os convidados.
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O Brasil, a Índia e a África do Sul têm mantido uma posição neutra durante a guerra, mas mantêm uma relação próxima com a Rússia.
Nesta sexta-feira (4), Pequim confirmou que enviará Li Hui, seu enviado especial para assuntos da Eurásia. Wang Yiwei, professor de relações internacionais da Universidade Renmin, disse que a presença de Li, que realizou uma missão de paz na Europa em maio, indica o comprometimento da China em encontrar uma solução pacífica.
"Pequim também pode evitar que o evento se transforme em "uma ocasião multilateral liderada pelo Ocidente e anti-Rússia para isolar a Rússia", acrescentou ele.
Wang disse que, se o evento tiver apenas o propósito de endossar a Ucrânia e isolar a Rússia, "não acredita que funcionará".
No entanto, ele acrescentou que "a China muitas vezes consegue atuar como uma ponte para transmitir as posições de ambos os lados" e poderia buscar pontos em comum com outros países e trabalhar com a Rússia para concordar com um cessar-fogo imediato.
Rússia critica evento
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia criticou duramente a conferência na última quarta-feira (2), chamando-a de uma tentativa de formar uma "coalizão anti-russa".
Andriy Yermak, chefe do escritório presidencial da Ucrânia, disse que o evento discutiria a fórmula de paz de 10 pontos de Kiev, que exige uma retirada completa da Rússia e a restauração de seus territórios ocupados, incluindo a Crimeia.
Gedaliah Afterman, chefe do programa de política asiática no Instituto de Diplomacia e Relações Exteriores Abba Eban da Universidade Reichman de Israel, disse que a participação da China cultivaria sua reputação como mediadora global.
"A China se posicionou estrategicamente como um intermediário potencial entre Rússia e Ucrânia... O sucesso nessa empreitada poderia avançar os relacionamentos da China com importantes países europeus, como França e Alemanha, e fortalecer ainda mais sua posição já significativa no Oriente Médio e entre as nações do Sul Global", disse ele.
"Isso é especialmente crucial, já que as tensões com os Estados Unidos e outros países ocidentais têm aumentado", acrescentou.
Proposta da China
A China apresentou sua própria proposta de paz de 12 pontos para resolver a crise na Ucrânia em fevereiro, pedindo um cessar-fogo. No entanto, ainda não conseguiu convencer os países europeus, que a veem como aliada da Rússia, e a turnê europeia de Li em maio parece não ter avançado muito.
Leia também: Guerra da Ucrânia: Enviado especial da China quer criar condições para a paz
Victor Gao, vice-presidente do think tank baseado em Pequim, Centro de China e Globalização, disse que a China espera usar a cúpula para avançar com sua própria proposta de paz, mas está aberta a outras propostas de paz.
Gao, que também é conselheiro da empresa petrolífera saudita Aramco, afirmou que a participação da China no evento é um reconhecimento dos esforços de paz da própria Arábia Saudita.
O Wall Street Journal, citando diplomatas ocidentais, informou que a escolha da Arábia Saudita para sediar o evento é um esforço para influenciar a China.
EUA tentar aparar arestas com Arábia Saudita
Acredita-se que o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, tenha discutido a conferência de paz durante uma visita a Riad na semana passada, destinada a reparar as relações de Washington com o reino, e ele também deve comparecer à conferência de paz.
A Arábia Saudita manteve relações amistosas tanto com Moscou quanto com Pequim, mesmo quando sua relação com os EUA piorou, e Washington reclamou que a decisão da Arábia Saudita de reduzir sua produção de petróleo beneficiou a Rússia, outro grande exportador de petróleo, ao elevar os preços.
"A relação próxima, principalmente baseada em petróleo e energia, da Arábia Saudita com a Rússia se aprofundou após a guerra na Ucrânia. Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita continua sendo uma aliada dos EUA capaz de entender os interesses e posições dos EUA, ao mesmo tempo que fortalece sua parceria estratégica com a China", disse Yossi Mann, chefe do programa do Oriente Médio da Universidade Reichman.
"A posição única de Riad a tornou um jogador influente entre as superpotências Rússia, Estados Unidos e China, apesar das tensões crescentes", comentou Mann.
Gao disse que a política externa de Riad significa que é improvável que a conferência se torne uma ocasião anti-russa. "A Arábia Saudita não fará algo que seja considerado pela Rússia como anti-Rússia, porque isso não está em seus interesses fundamentais. Eu não acredito que a Arábia Saudita se tornará uma marionete dos Estados Unidos para ajudá-los a alcançar seus objetivos estratégicos", afirmou.
Nesta sexta-feira, a agência de notícias estatal russa RIA Novosti, citando fontes do Ministério das Relações Exteriores, relatou que Riad informou Moscou que lhe fornecerá os resultados da conferência.
Com informações do SCMP