O ministro da Defesa da China, Li Shangfu, durante discurso na Cúpula de Segurança da Ásia, em Singapura, neste domingo (4), soou o alarme sobre os desafios de segurança "sem precedentes" enfrentados pela Ásia-Pacífico. O também Conselheiro de Estado falou sobre a iniciativa de segurança da China no 20º Diálogo de Shangri-La.
A declaração de Li foi feita horas depois de um incidente no Estreito de Taiwan, quando Washington acusou um navio de guerra chinês de cortar na frente de um navio estadunidense que participava de um exercício conjunto com a marinha canadense, forçando a embarcação da marinha dos EUA a desacelerar para evitar uma colisão.
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O discurso do ministro de Defesa chinês foi feito no dia seguinte ao do secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que no mesmo fórum afirmou que uma guerra por Taiwan seria “devastadora” e afetaria a economia global “de maneiras que não podemos imaginar”.
Críticas veladas a Washington
O ministro chinês teceu críticas veladas a Washington, sem citar diretamente os EUA.
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"As pessoas não podem deixar de fazer estas perguntas: Quem está perturbando a paz na região? Quais são as causas raiz do caos e da instabilidade? E contra o que devemos ficar vigilantes e nos proteger?", disse Li.
Para Li, tais perguntas devem ser respondidas em prol da segurança, estabilidade e futuro da Ásia-Pacífico. Ele também observando que "um país" incitou "revoluções coloridas" e guerras por procuração em diferentes regiões, criando caos e turbulência e simplesmente se retirando, deixando uma bagunça para trás e que tais fatos nunca deveriam ser permitidas na região Ásia-Pacífico.
"Hoje, o que a Ásia-Pacífico precisa são grandes porções de cooperação aberta e inclusiva, não pequenos grupos que visam apenas seus próprios interesses e são exclusivos. Nunca devemos esquecer as catástrofes causadas pelas duas guerras mundiais e a Guerra Fria. E nunca devemos permitir que tais tragédias ocorram novamente", destacou o ministro.
Iniciativa Global de Segurança da China
Em resposta às ameaças emergentes de segurança, a China propôs a Iniciativa Global de Segurança (GSI, da sigla em inglês), que defende a promoção de uma segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável, e a exploração de um novo caminho para a segurança, caracterizado pelo diálogo em vez de confronto, parceria em vez de aliança e ganha-ganha em vez de soma zero.
Ao expor a GSI, Li afirmou que a China é "fortemente" contra impor sua própria vontade sobre os outros, colocar seus próprios interesses acima dos interesses dos outros e buscar sua segurança às custas dos outros.
Ele explicou que o respeito mútuo deve prevalecer sobre o bullying e a hegemonia, a justiça e a equidade devem transcender a lei da selva, os conflitos e confrontos devem ser eliminados por meio da confiança mútua e da consulta, e a confrontação entre blocos deve ser evitada com abertura e inclusão.
Como parte da implementação da GSI, a China divulgou uma posição de 12 pontos sobre a solução política da crise na Ucrânia e recentemente enviou um representante especial para visitar a Europa e buscar o terreno comum mais amplo possível entre a comunidade internacional para resolver a crise.
Além disso, após as conversas em abril, na cidade de Pequim, a Arábia Saudita e o Irã restabeleceram as relações diplomáticas, e sua aproximação levou a uma reação em cadeia de reconciliação no Oriente Médio.
Citando esses exemplos, Li afirmou que a China leva a sério as preocupações legítimas de segurança de outros países, está comprometida em promover a governança global de segurança, defende a justiça e a equidade, e se compromete a superar diferenças e fortalecer a solidariedade.
'A modernização chinesa contribui para a paz mundial'
A China tem seguido um caminho chinês para a modernização, cuja característica é o desenvolvimento pacífico, um conceito consagrado na Constituição chinesa.
Li disse que as conquistas que a China alcançou resultam do trabalho árduo, da diligência e da criatividade de mais de um bilhão de chineses, não de agressão, expansão ou saqueio.
A China adota uma política de defesa nacional de natureza defensiva e se esforça para salvaguardar a segurança mundial e regional, afirmou ele.
Desde 2008, a China enviou mais de 139 navios de guerra, fornecendo proteção a mais de sete mil navios chineses e estrangeiros. Em abril, navios da Marinha do Exército Popular de Libertação (PLA, da sigla em inglês) evacuaram do Porto de Sudão 940 cidadãos chineses e mais de 230 cidadãos estrangeiros.
Ao longo dos anos, a China enviou mais de 50 mil capacetes azuis para operações de manutenção da paz da Organização das Nações Unidas (ONU), tornando-se o maior contribuinte de tropas entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
Li disse que 16 membros do serviço militar do PLA não retornaram para casa de suas missões, e mais de dois mil capacetes azuis chineses estão atualmente em serviço em sete áreas de missão.
Ele citou uma frase escrita por um soldado chinês em sua missão:
"Se as pessoas perguntarem por que ir a lugares tão perigosos para manter a paz, por favor digam a elas que alguém deve dar um passo à frente para salvaguardar os fundamentos da civilização humana. Isso é um compromisso solene feito pelas forças armadas chinesas para o mundo", afirmou Li.
Ele observou que a China tem o melhor histórico de paz entre os principais países. "Desde a fundação da República Popular da China há mais de 70 anos, nunca iniciamos um conflito, ocupamos um centímetro de terra estrangeira ou travamos uma guerra por procuração."
A China está pronta para trabalhar com todas as outras partes para construir sistemas de segurança e fortalecimento da confiança, promover regras de segurança mais equitativas, melhorar mecanismos de segurança multilaterais e realizar uma cooperação em defesa e segurança mais eficaz, acrescentou Li.
'Os interesses centrais da China nunca serão sacrificados'
Embora a China esteja comprometida com o caminho do desenvolvimento pacífico, ela nunca hesitará em defender seus direitos e interesses legítimos, muito menos em sacrificar os interesses centrais da nação, enfatizou Li.
Observando que a questão de Taiwan é o cerne dos interesses centrais da China, ele afirmou que ela não tolera interferência de forças estrangeiras e alertou que qualquer ato que obscureça ou esvazie o princípio de uma China só é "absurdo e perigoso".
"A China deve e será reunificada. Se alguém ousar separar Taiwan da China, as Forças Armadas chinesas não hesitarão nem por um segundo. Não teremos medo de oponentes e defenderemos resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial, independentemente de qualquer custo", alertou Li.
Quando se trata da relação entre China e Estados Unidos, Li reconheceu que os últimos anos têm sido de baixa recorde desde o estabelecimento dos laços diplomáticos entre os dois países.
Ele alertou que um conflito ou confronto severo entre China e Estados Unidos será "um desastre insuportável" para o mundo e instou o lado americano a agir com sinceridade, corresponder às palavras com ações e tomar medidas concretas para impedir o deterioramento das relações.
"A maneira correta para China e Estados Unidos conviverem é seguindo os três princípios de respeito mútuo, convivência pacífica e cooperação de benefício mútuo", finalizou.