CHINA EM FOCO | ESPECIAL DUAS SESSÕES

Se relações dos EUA com a China não mudarem haverá conflito e confronto

Alerta foi feito pelo chanceler chinês, Qin Gang, em coletiva de imprensa; ele também abordou temas como modernização chinesa, relações com a Rússia, guerra da Ucrânia, questão de Taiwan e Iniciativa Cinturão e Rota

Créditos: Xinhua - Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, em coletiva de imprensa em Pequim
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"Se os EUA não pisarem no freio, mas continuarem a acelerar no caminho errado, nenhuma barreira poderá impedir o descarrilamento e certamente haverá conflito e confronto". Esse alerta foi feito pelo ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, em uma entrevista coletiva concedida nesta terça-feira (7) às margens da primeira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN), na capital chinesa, Pequim. 

Durante a conversa com os jornalistas, o chanceler tratou de diversos temas: modernização chinesa, relações com os Estados Unidos e com a Rússia e os Estados Unidos, guerra da Ucrânia, questão de Taiwan e Iniciativa Cinturão e Rota.

Imagem da China nos EUA está distorcida

O chanceler, que já foi embaixador da China nos EUA, avalia que a percepção e as opiniões dos EUA em relação à China estão seriamente distorcidas. "A China espera que os Estados Unidos explorem o caminho certo para se dar bem com a China para o benefício de ambos os países e do mundo inteiro", ponderou.

Qin observou que os Estados Unidos consideram a China como principal rival e maior desafio geopolítico. O resultado, avalia, é que as relações bilaterais "foram inteiramente desviadas de uma trilha racional e sólida".

"Quem vai arcar com as consequências catastróficas?", perguntou. "Essa competição é uma aposta imprudente em que o que está em jogo são os interesses fundamentais dos dois povos e até mesmo o futuro da humanidade. Naturalmente, a China se opõe firmemente a tudo isso."

Balão da discórdia 

Questionado sobre o incidente recente com um dirigível chinês não tripulado, Qin disse que os Estados Unidos violaram o direito internacional e criaram uma crise diplomática que poderia ter sido evitada. 

"Os Estados Unidos falam muito sobre seguir regras. Mas imagine dois atletas competindo em uma corrida olímpica. Se um atleta, ao invés de se concentrar em dar o melhor de si, tentar sempre tropeçar ou mesmo machucar o outro, isso não é competição justa, mas confronto malicioso e falta", comparou Qin.

O chanceler analisou que o chamado "estabelecer grades de proteção" e "não buscar conflito" significa simplesmente que a China não deve responder com palavras ou ações quando caluniada ou atacada, observou ele. "Isso é simplesmente impossível!"

América Grande de novo

Qin comentou que, se os EUA têm a ambição de se tornar grandes novamente, também devem ter uma mente aberta para o desenvolvimento de outros países. "A contenção e a repressão não tornarão a América grande e não impedirão o rejuvenescimento da China", disse o ministro das Relações Exteriores chinês.

"O relacionamento China e EUA deve ser determinado pelos interesses comuns e responsabilidades compartilhadas dos dois países e pela amizade entre os povos chinês e estadunidense, e não pela política interna dos EUA ou pelo neo-macarthismo histérico", pontuou.

"Esperamos que o governo dos EUA ouça os apelos dos dois povos, livre-se de sua ansiedade estratégica de 'ameaçar a inflação', abandone a mentalidade de 'soma zero' da Guerra Fria e se recuse a ser sequestrado pelo 'politicamente correto'", disse.

O ministro das Relações Exteriores chinês pediu ainda aos EUA que honrem seus compromissos e trabalhem com a China para explorar a maneira certa de se relacionarem para o benefício de ambos os países e do mundo inteiro.

Construtora da paz

Xinhua 

A China sempre será uma construtora da paz mundial, uma contribuinte para o desenvolvimento global e uma defensora da ordem internacional, afirmou o chanceler chinês durante a entrevista. 

"Como o mundo está passando por grandes mudanças não vistas em um século, a China continuará a perseguir a política externa independente de paz e a implementar a estratégia mutuamente benéfica de abertura."
Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang

Modernização não é ocidentalização

A modernização chinesa oferece soluções para muitos desafios enfrentados pelo desenvolvimento humano, pontuou Qin. "Alcançar a modernização de um país de mais de 1,4 bilhão de pessoas será um feito sem precedentes na história da humanidade, de profundo significado global em si mesmo", observou. 

"Isso acaba com o mito de que modernização é ocidentalização. Cria uma nova forma de avanço humano e fornece uma importante fonte de inspiração para o mundo, especialmente para os países em desenvolvimento."
Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang

O sucesso da China prova que todo país tem o direito e a capacidade de escolher o próprio caminho e de manter o futuro firmemente em suas próprias mãos, afirmou Qin. "A modernização chinesa forneceu importantes inspirações para outros países, colocando as pessoas em primeiro lugar e como a modernização da prosperidade comum para todos", disse. 

Além disso, destacou o chanceler, a modernização chinesa não é buscada por meio de guerra, colonização ou pilhagem. Ele listou que o processo de modernização da China é dedicado à paz, ao desenvolvimento, à cooperação e ao benefício mútuo e comprometido com a harmonia entre a humanidade e a natureza, o que proporciona um novo caminho diferente da modernização ocidental, comparou.

O chanceler também destacou a importância da abertura e inclusão da modernização. "É importante incentivar o intercâmbio e o aprendizado mútuo, para que todos os países floresçam e prosperem juntos", acrescentou.

O sucesso da China também prova que apenas lutando pela unidade podemos reunir forças, declarou. Ele acrescentou que as divergências partidárias, as conversas vazias e as frequentes mudanças políticas, como visto em alguns países, farão apenas do melhor projeto uma ilusão e um castelo no ar.

Questão de Taiwan

Como resolver a questão de Taiwan é um assunto do povo chinês e nenhum outro país tem o direito de interferir nisso, declarou o chanceler. "Trabalharemos com a maior sinceridade e envidaremos todos os esforços para alcançar a reunificação pacífica, mas nos reservaremos a opção de tomar todas as medidas necessárias", acrescentou.

A questão de Taiwan está no cerne dos interesses centrais da China, a base da fundação política das relações China-EUA e a primeira linha vermelha que não deve ser cruzada, alertou. 

"Por que os EUA falam longamente sobre respeitar a soberania e a integridade territorial na Ucrânia enquanto desrespeitam a soberania e a integridade territorial da China na questão de Taiwan? Por que os EUA continuam professando a manutenção da paz e estabilidade regional enquanto formulam secretamente um plano para a 'destruição de Taiwan'?", questionou Qin.

Os EUA têm responsabilidades inegáveis por causar a questão de Taiwan, acusou o diplomata. Ele instou o lado dos EUA a parar de conter a China explorando a questão de Taiwan e retornar ao princípio do princípio de Uma Só China.

Para a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, a ameaça real são as forças separatistas pela independência de Taiwan, a âncora sólida é o princípio de Uma Só China e as verdadeiras barreiras são os três comunicados conjuntos China-EUA, apontou Qin.

O ministro das Relações Exteriores alertou que o tratamento incorreto da questão de Taiwan abalará os próprios alicerces das relações China-EUA.

Laços China-Rússia

A relação entre a China e a Rússia é baseada nos princípios de não aliança, não confronto e não direcionamento de terceiros, ressaltou o diplomata. "Com a China e a Rússia trabalhando juntas, o mundo terá a força motriz em direção à multipolaridade e maior democracia nas relações internacionais, e o equilíbrio estratégico global e a estabilidade serão mais bem assegurados", acrescentou.

Qin garantiu que a relação China-Rússia não é uma ameaça para nenhum país, nem está sujeita a qualquer interferência ou discórdia semeada por terceiros. Ele observou que os dois países encontraram um caminho de relações entre os principais países com confiança estratégica e boa vizinhança e que o relacionamento sino-russo é um bom exemplo para um novo tipo de relações internacionais.

Quanto mais instável o mundo se torna, mais imperativo é para a China e a Rússia avançarem firmemente em suas relações, observou.

Quanto à moeda que será usada no comércio sino-russo, Qin explicou que quaisquer moedas, eficientes, seguras e confiáveis, devem ser usadas. Ele acrescentou que as moedas não devem ser trunfos para sanções unilaterais, muito menos um disfarce para intimidação ou coerção.

Crise na Ucrânia

Xinhua

Qin pediu "calma, racionalidade e diálogo" para resolver a crise na Ucrânia, que classificou como uma tragédia que poderia ter sido evitada.

O chanceler  disse que a crise na Ucrânia chegou a um momento crítico e acrescentou que as hostilidades param e a paz é restaurada e o processo de solução política começa, ou mais combustível é adicionado às chamas e a crise se expande e fica fora de controle.

"Conflito, sanções e pressão não resolverão o problema. O que é preciso é calma, razão e diálogo. O processo de negociações de paz deve começar o mais rápido possível e as legítimas preocupações de segurança de todas as partes devem ser respeitadas. Este é o direito formal de alcançar uma segurança duradoura na Europa."
Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang

Qin ponderou que a crise na Ucrânia tem uma história e causa complexas, e é uma erupção dos problemas construídos na governança de segurança da Europa. "A China sempre faz seu próprio julgamento de forma independente com base nos méritos da questão. Entre a paz e a guerra, escolhemos a paz. Entre o diálogo e as sanções, escolhemos o diálogo. Entre esfriar a situação e alimentar as chamas, escolhemos o primeiro", afirmou.

"A China não criou a crise. Não faz parte da crise e não fornece armas para nenhum dos lados. O que a China fez para merecer ser culpada, ou mesmo sancionada e ameaçada? Isso é absolutamente inaceitável", lamentou.

Qin afirmou ainda que os esforços para as negociações de paz foram repetidamente prejudicados e acrescentou que parece haver "uma mão invisível" pressionando pelo prolongamento e escalada do conflito e usando a crise da Ucrânia para servir a certa agenda geopolítica.

Iniciativa Cinturão e Rota

A Iniciativa do Cinturão e Rota é um bem público de alta qualidade iniciado pela China e construído em conjunto por todos os parceiros, cujos benefícios são compartilhados pelo mundo, comentou Qin. Ele acrescentou que nunca é a China que deve ser acusada de criar a chamada dívida armadilhas.

A Iniciativa do Cinturão e Rota atraiu a participação de mais de três quartos dos países do mundo e 32 organizações internacionais, criou cerca de 420 mil empregos em países ao longo das rotas e ajudou a tirar quase 40 milhões de pessoas da pobreza na última década, listou.

Olhar de uma chinesa que fala português sobre as Duas Sessões

Reprodução Twitter

A jornalista Isabela Shi, da Rádio China Internacional, é uma chinesa que fala português e está acompanhando as Duas Sessões, em Pequim. Ela fez um registro sobre a primeira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN), o legislativo da China, que com a participação dos 2.977 deputados e deputadas realizou a primeira sessão anual no domingo (5). Direto do Grande Salão do Povo, Isabela mostra detalhes sobre a democracia com características chinesas e aponta qual será a expectativa sobre a economia do país, a partir do relatório de trabalho do governo. 

Com informações da Xinhua e CGTN