Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recupera de uma pneumonia e precisou adiar a visita oficial à China a convite do presidente chinês, Xi Jinping, a comitiva paralela de empresários brasileiros já cumpre agenda na potência asiática desde a semana passada. Liderado pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, o grupo com representantes do setor de agronegócio mantém as reuniões e visitas técnicas previstas para o setor até quarta-feira (29).
“Nós antecipamos a vinda do Mapa porque tínhamos as questões técnicas do agronegócio, principalmente acerca da liberação das exportações da carne bovina, o que já conseguimos responder e os demais acordos importantes serão assinado quando for remarcada a agenda presidencial”, comentou Fávaro.
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Pelas redes sociais, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anunciou na última quinta-feira (23) o retorno das importações chinesas de carne bovina brasileira. Com o fim do embargo, quatro novas plantas frigoríficas do Brasil poderão passar a exportar para o país asiático.
O ministro brasileiro fez o anúncio do fim do embargo após se reunir com o ministro da Administração Geral da Aduana Chinesa (GACC, da sigla em inglês), Yu Jianhua.
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Fávaro disse que o cancelamento da visita adiou a assinatura de acordos de cooperação entre os países. A diplomacia brasileira havia informado a expectativa de ao menos 20 acordos serem firmados, em setores distintos da economia.
Nesta segunda-feira (27), a equipe técnica do Mapa participa do evento China-Brazil Momentum e do Fórum China – Brasil de Desenvolvimento Sustentável; na terça-feira (28), estão programadas visitas técnicas para reforçar as parcerias e cooperações técnico-científicas voltadas para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro; na sequência, ocorre o Seminário Brasil-China e encontros setoriais.
Semicondutores
O assessor especial da Presidência da República Celso Amorim, principal conselheiro para política externa do presidente Lula, afirmou que o Brasil não vê o mundo dividido entre China e Estados Unidos e não tem vetos prévios a negócios com os chineses, nem no sensível setor de semicondutores, um dos focos da crescente tensão entre Pequim e Washington.
"Não temos nenhuma preferência por uma fábrica de semicondutores chinesa. Mas se eles (chineses) oferecerem boas condições, não vejo porque a gente recusar. Não temos medo do lobo mau", disse o embaixador em entrevista à agência Reuters na última quarta-feira (22).
"Se eles (EUA) quiserem, podem propor maiores e melhores condições e pronto, e escolheremos o deles", completou Amorim.
O ex-chanceler observa que o interesse é em quem oferecer mais e melhor - mesmo com os recados velados do governo dos EUA ao mundo de que quem se associar à produção de microeletrônicos chineses pode ter problemas no mercado dos EUA.
"Nós não compartilhamos nenhuma ideia, nem de um lado e nem do outro. Nem a ideia de um comunismo internacional, nem a guerra das democracias contra as autocracias", disse. "Não vemos o mundo assim dividido."
Celso Amorim
O ex-chanceler também citou o interesse do Brasil em ampliar a cooperação com a China em áreas como economia verde (os países estão negociando um fundo de investimento verde bilateral), economia digital, satélites —deve ser assinado um acordo para produção do equipamento sino-brasileiro CBERS6 — comunicações e microeletrônica.
De acordo com informações do governo brasileiro, entre 15 e 20 acordos de diferentes tipos estão sendo negociados. Entram ainda temas como mudanças climáticas, abertura do mercado para novas plantas de carnes de aves e suínos, cooperação em ciência e tecnologia, sem contar acordos entre empresas privadas ou com estados.
Nova data
O governo da China informou que mantém contato com o governo brasileiro para o reagendamento da visita de Lula. A segunda quinzena de maio é uma das datas estudadas para a nova viagem. “Nós compreendemos e respeitamos essa decisão”, disse um porta-voz da chancelaria chinesa.
China avança nas políticas de abertura e impulsiona a economia global
A China segue comprometida com a política de abertura, sendo uma importante impulsionadora da economia global e um confiável fornecedor para cadeias industriais e de suprimentos.
Essas foram as principais conclusões de lideranças políticas e empresariais e especialistas econômicos que participaram do Fórum de Desenvolvimento da China 2023 (CDF, da sigla em inglês) neste domingo (26), em formato presencial, em Pequim.
Com o tema "Recuperação econômica: oportunidades e cooperação", o CDF 2023 foi organizado pelo Centro de Pesquisa de Desenvolvimento do Conselho de Estado.
O presidente chinês, Xi Jinping, enviou uma carta que foi lida durante a solenidade de abertura do evento. A mensagem destaca que a facilitação da recuperação econômica global requer consenso e cooperação.
"Atualmente, mudanças importantes como não vistas em um século estão se acelerando em todo o mundo, conflitos e distúrbios regionais são frequentes e a recuperação econômica global é lenta", afirmou Xi.
A Iniciativa de Desenvolvimento Global proposta pela China recebeu amplo apoio e resposta ativa da comunidade internacional, ressaltou o presidente chinês.
"O país expandirá constantemente a abertura institucional em relação a regras, regulamentos, gestão e padrões, e trabalhará com todos os países e todas as partes para compartilhar as oportunidades de sua abertura institucional."
Presidente Xi Jinping
Otimismo
Especialistas econômicos e líderes empresariais que participaram do CDF 2023 mostraram otimismo sobre as perspectivas de crescimento econômico da China em 2023.
O economista-chefe da KPMG China, Kevin Kang, comentou o relatório de trabalho do governo chinês que revelou uma meta de expansão de cerca de 5% para a economia do país este ano. Ele observou que a meta é obviamente maior do que o crescimento estimado da maioria das principais economias.
"Espera-se que o setor de consumo da China acelere sua recuperação, e a inovação tecnológica e a transformação verde do país estão impulsionando o investimento em manufatura", observou Kang.
À medida que o país acelera seu ritmo de recuperação e o crescimento no exterior desacelera, a economia chinesa deve emergir novamente como um importante impulsionador do crescimento econômico global, acrescentou.
O vice-presidente do Centro de Intercâmbio Econômico Internacional da China, Zhu Min, acredita que a meta de crescimento de cerca de 5% é prudente e sustentável, em um cenário de crescente incerteza na economia global.
Zhu citou fatores como a estabilização do mercado imobiliário, a retomada do consumo e o investimento robusto na indústria manufatureira de alta tecnologia, que contribuirão para a meta.
Embora muitos estudiosos, analistas e líderes empresariais tenham falado de múltiplos desafios no ambiente global mais amplo, eles também afirmaram que a China deveria ter confiança para lidar com os desafios externos.
"A China já está profundamente inserida na cadeia de valor internacional e se tornou um centro de manufatura global e uma 'fábrica mundial', como resultado de mais de 40 anos de reforma e abertura", observou o ex-vice-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Yi Xiaozhun.
China avança no desenvolvimento de nanochips
Em meio à disputa entre China e Estados Unidos pela vanguarda no desenvolvimento de nanochips, a gigante chinesa de tecnologia Huawei desenvolveu ferramentas de automação de design eletrônico (EDA, da sigla em inglês) para chips produzidos com tecnologia de 14 nanômetros e acima com parceiros domésticos. Trata-se de um grande avanço para a indústria de semicondutores da potência asiática.
Apelidado de "berço" dos circuitos integrados, o EDA é um software amplamente utilizado no setor e significativo para todo o processo de projeto de chips.
A Huawei conseguiu a localização de ferramentas EDA acima de 14 nm no campo de chips e concluirá a verificação abrangente este ano. O anúncio foi feito pelo presidente da big tech Xu Zhijun no dia 28 de fevereiro.
Xu também informou que a empresa desenvolveu 78 ferramentas relacionadas a hardware e software de chip.
A China há muito conta com empresas americanas como Cadence e Synopsys para ferramentas de automação de design eletrônico de ponta.
Os chips produzidos no nível de 14 nm foram introduzidos pela primeira vez em smartphones em meados da década de 2010 e estão duas a três gerações atrás da tecnologia de ponta, mas ainda marcam um avanço.
O progresso faz parte de um esforço mais amplo da Huawei para desenvolver ferramentas de desenvolvimento doméstico para hardware, software e chips em meio às restrições governamentais dos EUA.
Xu mencionou ainda que, embora a empresa tenha alcançado muitos avanços em ferramentas de desenvolvimento de produtos nos últimos três anos, ela ainda enfrenta desafios formidáveis, portanto, a Huawei redobrará os esforços para atrair mais talentos globais para alcançar um avanço estratégico na área.
Com informações da Xinhua e da CGTN