O presidente da China, Xi Jinping, chegou nesta segunda-feira (20) a Moscou para uma visita de Estado a convite do presidente russo, Vladimir Putin. Na pauta do encontro de três dias está, entre outros temas, a Guerra da Ucrânia.
O assunto que gera mais expectativa no resto do mundo é o conflito entre Rússia e Ucrânia. Embora o Ocidente acuse sistematicamente Pequim pelos laços comerciais que mantém com Moscou, esse relacionamento não visa apoiar o Kremlin na guerra, mas tem uma lógica razoável que está de acordo com os interesses dos dois países.
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Na visão de Pequim, enquanto o comércio exterior da China estiver de acordo com as regras comerciais globais e com as necessidades de ambos os lados, o Ocidente não está em posição de apontar o dedo para a cooperação econômica normal entre os dois países.
No último dia 24, o governo chinês publicou o plano de paz de 12 pontos para encerrar a Guerra da Ucrânia. O documento foi publicado na data em que o conflito completou um ano e apresentou o posicionamento de Pequim sobre os caminhos para a busca da paz na região.
Cooperação ganha-ganha
As trocas entre os dois chefes de Estado são a bússola e a âncora das relações China-Rússia, baseadas em um novo modelo de desenvolvimento, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha.
Os dois lados estão comprometidos com a construção de um mundo multipolar, defendem e praticam o verdadeiro multilateralismo e chegaram a um importante consenso estratégico para melhorar as relações China-Rússia, salvaguardar a segurança e a estabilidade regionais e construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade.
Em março de 2013, Xi escolheu a Rússia para sua primeira viagem ao exterior como presidente chinês. Dez anos depois, a Rússia é o primeiro destino do presidente chinês após ser reeleito para o terceiro mandato.
Relações comerciais
Ao longo dessa década de Xi, houve aumento da confiança política mútua entre a China e a Rússia e a cooperação econômica e comercial bilateral entrou em um caminho acelerado. Esse ímpeto se manifestou principalmente no rápido crescimento do comércio bilateral de bens e na crescente presença de investimentos chineses na Rússia. O comércio bilateral entre a China e a Rússia em 2022 aumentou 34,3% em relação ao ano anterior, para um recorde de 1,28 trilhão de yuans (US$ 190 bilhões).
Dada a atual taxa de crescimento do comércio China-Rússia, espera-se que os dois países possam elevar o comércio bilateral para a referência de US$ 200 bilhões antes do esperado. Moscou e Pequim estabeleceram a meta de atingir a marca de referência de US$ 200 bilhões até 2024 para o comércio bilateral.
A expectativa é que a visita de Estado, descrita como uma viagem de amizade, cooperação e paz, não se concentre apenas nas relações diplomáticas bilaterais e nos principais problemas internacionais de interesse comum, mas também ofereça uma espiada na futura cooperação econômica e comercial entre as duas potências vizinhas.
Ciência e tecnologia
Os dois lados podem consolidar a cooperação em áreas-chave como energia e setores de ciência e tecnologia. A exportação de produtos mecânicos e elétricos da China para a Rússia aumentou 9%, produtos de alta tecnologia aumentaram 51% e automóveis e peças aumentaram 45%. por cento ano a ano. O papel de "pedra angular" da energia no comércio bilateral foi ainda mais destacado. A Rússia é a principal fonte de importações da China em petróleo, gás natural e carvão.
O rápido aumento nas exportações de automóveis, produtos mecânicos e eletrônicos da China para a Rússia e o aumento nas exportações de energia e agrícolas da Rússia para a China são evidências suficientes para indicar que ainda há espaço e potencial consideráveis para o aprofundamento das relações comerciais entre os dois países, o que é determinada pela estrutura comercial altamente complementar dos dois lados.
Sistema financeiro
Uma vez que cada vez mais empresas tendem a usar yuan e rublos para assinar contratos, Pequim e Moscou podem continuar a aprofundar a cooperação financeira bilateral, especialmente nas áreas de serviços financeiros, como a promoção da liquidação em moeda local de transações de commodities China-Rússia e a cooperação bilateral em moeda digital.
Em 2022, a proporção do comércio de energia entre a China e a Rússia liquidada em suas próprias moedas aumentou 64%, com aumento também observado na proporção de yuans nas reservas internacionais da Rússia. A Rússia já se tornou o terceiro maior mercado para transações offshore de yuans.
Nova Rota da Seda
A China e a Rússia também podem fortalecer a cooperação para projetos de infraestrutura sob a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês) com o objetivo de facilitar a conectividade para logística regional e cadeias de suprimentos, como o Corredor Econômico China-Mongólia-Rússia. Além de aprofundar a União Econômica da Eurásia e ajudar os dois países a alcançar os respectivos objetivos desenvolvimento e revitalização.
Os dois países aumentaram o apoio mútuo em questões relacionadas aos interesses fundamentais de cada um. Eles conduziram coordenação e cooperação dentro de marcos multilaterais, incluindo a Organização de Cooperação de Shanghai, a Conferência sobre Medidas de Integração e Construção de Confiança na Ásia e o Brics, e protegeram os interesses de segurança regionais, assim como os interesses comuns dos países em desenvolvimento e dos mercados emergentes.
A expectativa é que os dois presidentes possam estreitar ainda mais os laços de cooperação política, econômica, comercial, cultural e de relacionamento interpessoal, além de progressos nos laços bilaterais na nova era e maior contribuição para o desenvolvimento mundial.
Xi publica artigo na mídia russa
Como de praxe, ao chegar para uma visita oficial a um outro país, Xi Jinping veiculou um artigo que dá o tom do que esperar do encontro com Vladimir Putin. Intitulado "Avançar para abrir um novo capítulo da amizade, cooperação e desenvolvimento comum China-Rússia" o texto foi publicado nesta segunda-feira (20) no jornal russo Russian Gazette e no site da agência de notícias RIA Novosti. Confira aqui o texto completo em inglês.
"A China e a Rússia são os maiores vizinhos um do outro e parceiros estratégicos abrangentes de coordenação. Somos os dois maiores países do mundo e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Ambos os países defendem uma política externa independente e veem nosso relacionamento como uma alta prioridade em nossa diplomacia."
Xi Jinping
Putin publica artigo no Diário do Povo
As relações Rússia-China fornecem um exemplo de cooperação harmoniosa e construtiva entre os principais países, escreveu o presidente russo, Vladimir Putin, nesta segunda-feira (20) no jornal chinês Diário do Povo, pouco antes da visita de Estado do presidente chinês Xi Jinping à Rússia.
No artigo intitulado 'Rússia e China: uma parceria vinculada ao futuro", Putin se dirigiu ao povo chinês amigo e espera que suas conversas com Xi "dêem um novo impulso poderoso" à cooperação bilateral em sua totalidade. Confira aqui o texto completo em inglês.
"A firme amizade entre a Rússia e a China está cada vez mais forte para o benefício e no interesse de nossos países e povos. O progresso feito no desenvolvimento dos laços bilaterais é impressionante, e as relações Rússia-China atingiram o nível mais alto de sua história e estão ganhando ainda mais força."
Vladimir Putin
China critica decisão de Tribunal da Haia contra Putin
Nesta segunda-feira (20) o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Wang Wenbin comentou sobre a recente emissão do Tribunal Penal Internacional (TPI) de um mandado de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin.
Wang ponderou, durante coletiva de imprens que o TPI deveria manter uma postura objetiva, respeitar a imunidade dos chefes de Estado da jurisdição sob o direito internacional, exercer suas funções e poderes com prudência de acordo com a lei e evitar a politização e a duplicidade de critérios.
"A China sempre considerou que o diálogo e a negociação são a saída fundamental para a crise na Ucrânia. A comunidade internacional deve desempenhar um papel construtivo na solução pacífica da crise e fazer mais para promover negociações de paz, aliviar tensões e mediar disputas", afirmou.
Com informações da Xinhua, Diário do Povo e Global Times