Dois diplomatas no final de suas carreiras, o chinês Xie Zhenhua e o estadunidense John Kerry, utilizam sua relação próxima em negociações para elaborar o documento final da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP28.
Xie é representante especial da China para Assuntos de Mudança Climática e Kerry enviado especial Presidencial para o Clima dos EUA.
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Ambos têm atuado nos bastidores desde o início da COP28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, desde o dia 30 de novembro e que termina no próximo dia 12, terça-feira, para buscar um consenso entre negociadores de quase 200 países.
A missão de ambos é chegar a um acordo em um plano para reduzir combustíveis fósseis e criar um mercado viável para créditos de carbono.
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Xie, aos 75 anos, sofreu um derrame este ano e está se aposentando. Kerry, completa 80 anos nesta segunda-feira (11) e avisa que não vai parar de trabalhar.
Os dois têm uma longa história juntos. Mantiveram contato mesmo quando as relações entre China e EUA estavam congeladas e forjaram uma amizade improvável. Esta COP28 provavelmente será a última atuação deles juntos.
Mas para além da conferência deste ano, os dois negociadores do clima esperam que o relacionamento que construíram em torno da mudança climática possa resistir aos altos e baixos da diplomacia EUA-China.
Super emissores de gases do efeito estufa
Os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, China e EUA, abordam a situação de maneira diferente.
A China se posiciona entre os países em desenvolvimento que culpam a mudança climática por décadas de emissões de países ricos. Tornou-se de longe o maior produtor mundial de painéis solares e baterias e abraçou veículos elétricos, mas ainda constrói dezenas de usinas de carvão.
Os EUA intensificaram seus esforços para lidar com a mudança climática sob a administração Biden, em parte para contrariar o domínio da China em tecnologia verde.
A mudança climática continua sendo uma questão política espinhosa, prejudicando a credibilidade dos EUA nas negociações, assim como sua posição como um dos maiores produtores mundiais de combustíveis fósseis.
Nesta COP28, as duas superpotências pressionam por um acordo para reduzir as emissões de metano, um potente gás de efeito estufa.
Ambas apoiaram esforços para triplicar a energia renovável até 2030 e concordaram em tornar suas próximas metas climáticas abrangentes a toda a economia, incluindo todos os gases de efeito estufa até 2035.
Um acordo anterior feito por Kerry e Xie preparou o terreno para o histórico acordo climático adotado em Paris em 2015.
Conta para os países ricos
Um compromisso no início deste ano entre os EUA e a China poderia suavizar a divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento que tem impedido algum progresso na mudança climática. Países em desenvolvimento, juntamente com a China, há muito pedem US$ 100 bilhões em financiamento para o clima de nações ricas.
Um ponto de discórdia era que a China, oficialmente considerada um país em desenvolvimento, poderia ter acessado esse dinheiro. Ela concordou em não fazer isso. Também se comprometeu com cerca de US$ 100 bilhões para seus próprios projetos climáticos no exterior. Países desenvolvidos atingiram sua meta de US$ 100 bilhões no ano passado.
China e EUA frente a frente
Nos amplos terrenos da conferência climática deste ano, os pavilhões dos EUA e da China estão um em frente ao outro, tornando-os um centro de atividade enquanto os negociadores pressionam por acordos nos últimos dias da conferência. Os dois homens conversaram várias vezes, e Kerry estava no pavilhão chinês no sábado.
Kerry e Xie lidaram com vários contratempos antes de chegarem aos seus acordos finais. Pequim suspendeu uma variedade de conversas de alto nível, incluindo sobre mudança climática, após a viagem da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a Taiwan em 2022.
As relações EUA-China só se estabilizaram após a cúpula entre os presidentes Xi Jinping e Joe Biden em Bali, Indonésia, em novembro do ano passado, mas foram descarriladas novamente quando Xie, o negociador climático, sofreu um derrame no início de 2023 e um suposto balão espião chinês atravessou os EUA.
Foram necessários meses de intensa diplomacia entre Washington e Pequim durante o verão para trazer ambos os lados à mesa novamente. A visita de Kerry a Pequim em julho ajudou a “destravar o que estava preso”, ele comentou na época, mas não resultou em uma declaração.
Apesar da cooperação, as negociações climáticas entre os EUA e a China não têm sido fáceis. Kerry é um negociador persistente e cheio de energia, enquanto Xie é equilibrado e atento às absurdidades das coisas, segundo pessoas familiarizadas com as discussões.
O mundo aguarda o resultado final desta costura conduzida pelos dois amigos improváveis. Até a próxima terça-feira (12), quando termina a COP28, o produto final dessa parceria será divulgado em forma de relatório final do evento.
Com informações da Xinhua e WSJ