A mídia ocidental, incluindo a brasileira, além de muitos perfis em redes sociais, repercutiram uma fake news noticiada pelo jornal britânico The Guardian de que o governo chinês teria censurado uma fotografia de duas atletas chinesas se abraçando após uma corrida. Isso porque, de acordo com o veículo, os números de corrida das mulheres formaram inadvertidamente uma referência aos protestos ocorridos na Praça Tiananmen, ou da Paz Celestial, em 1989, em Pequim: 4 de junho, que em inglês seria 6/4 (o mês seguido do dia).
Lin Yuwei e Wu Yanni, representantes da China na final dos 100 metros com barreiras feminino, se abraçaram após a corrida nos Jogos Asiáticos em Hangzhou. Lin conquistou a medalha de ouro na competição com um tempo de 12,74 segundos. Uma fotografia das duas mulheres em perfil mostrou o número da pista de Lin, 6, ao lado do número da pista de Wu, 4.
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Basta uma simples pesquisa nas redes sociais e plataformas chinesas, como a Baidu e o Weibo (o X, antigo Twitter, da China) para desfazer a mentira. Aliás, a foto usada pelo The Guardian para ilustrar a matéria inverídica é creditada à Agência Xinhua, principal veículo de mídia da China.
Não houve massacre na Praça da Paz Celestial
Até mesmo a ocorrência de um "massacre" na Praça Tiananmen, no dia 4 de junho de 1989, é controversa. A versão mais confiável é a de que cerca de 200 ou 300 pessoas morreram em confrontos em várias partes de Pequim naquela ocasião, metade eram soldados e policiais.
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Dias após os eventos na capital nacional da China, em 13 de junho de 1989, o repórter do NY Times, Nicholas Kristof - que estava em Pequim à época - reportou: "A televisão estatal até mostrou imagens de estudantes marchando pacificamente para longe da [Praça da Paz Celestial] logo após o amanhecer como prova de que eles [manifestantes] não foram massacrados."
Naquele texto, Kristof também desmentiu um estudante manifestante não identificado que havia alegado, em um artigo sensacionalista, que soldados chineses com metralhadoras simplesmente abriram fogo contra manifestantes pacíficos na Praça da Paz Celestial.
Em 2009, quando completou uma década dos protestos em Pequim, o repórter da BBC News James Miles, que era correspondente da rede britânica em Pequim, escreveu: "Fui um dos jornalistas estrangeiros que testemunhou os eventos naquela noite. Não houve massacre na Praça da Paz Celestial". No mesmo texto, veiculado no dia 2 de junho de 2009, todavia, ele afirma que houve mortes na capital chinesa.
Outro jornalista estrangeiro que nega a ocorrência do massacre na Praça da Paz Celestial é Graham Earnshaw. Àquela época ele estava em Pequim, onde atuava como correspondente pela Reuters, no local dos protestos, na noite de 3 de junho. Ele não saiu da praça até a manhã de 4 de junho. Ele escreveu em suas memórias que os militares chegaram, negociaram com os estudantes e fizeram com que todos (incluindo ele próprio) saíssem pacificamente, e que ninguém morreu na praça.