O Oriente Médio vive, nas últimas semanas, uma escalada de tensão envolvendo Irã, Israel e Estados Unidos, num cenário que mistura ataques militares, cessar-fogo frágil e um novo impasse nuclear com a ONU.
O episódio mais recente ocorreu neste sábado (28), quando Teerã proibiu a entrada do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, e ordenou a retirada de câmeras de vigilância de suas instalações nucleares, acusando a agência de vazar informações sensíveis para Israel.
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A crise ganhou um ingrediente extra quando Scott Ritter — ex-inspetor de armas da ONU no Iraque entre 1991 e 1998 — acusou Grossi de colaborar diretamente com a campanha de sabotagem de Israel contra o programa nuclear iraniano. Em entrevista à estatal Press TV, Ritter afirmou que dados repassados pela AIEA teriam ajudado Israel e Estados Unidos a localizar instalações secretas e executar assassinatos de cientistas iranianos nos últimos anos.
“Grossi tem o sangue dos cientistas nucleares do Irã em suas mãos”, disse Ritter, que defendeu que o argentino seja impedido de entrar novamente no Irã e que qualquer missão de inspeção sob sua chefia seja cancelada. Ele também defendeu a remoção de Grossi do cargo e a criação de um novo modelo de inspeção com salvaguardas para impedir vazamentos de informações a governos hostis.
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Ritter reforçou que o Irã, como signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), tem o direito garantido pelo Artigo 4 de desenvolver atividades de enriquecimento nuclear para fins pacíficos, questionando a colaboração da AIEA com Israel — que, segundo ele, mantém um arsenal nuclear não declarado e se recusa a aderir ao TNP.
Na sexta-feira (27), o chanceler iraniano, Abbas Araghchi, também criticou Grossi, afirmando que o diretor queria inspecionar instalações nucleares iranianas recentemente bombardeadas por EUA e Israel, algo que, segundo ele, “não faz sentido” e poderia esconder intenções maliciosas.
A escalada
A atual escalada começou a se intensificar em 12 de junho, quando o Conselho de Governadores da AIEA declarou o Irã em “não conformidade” por supostamente ocultar informações sobre material enriquecido. No dia seguinte, Israel lançou uma ofensiva aérea massiva — a operação “Rising Lion” — atingindo complexos nucleares em Natanz, Fordow e residências de altos oficiais iranianos.
Em 21 de junho, os Estados Unidos, sob ordem do presidente Donald Trump, bombardearam as instalações nucleares em Fordow, Natanz e Isfahan, com o ex-presidente afirmando que os alvos foram “completamente obliterados”.
Dois dias depois, em 23 de junho, o Irã retaliou disparando mísseis contra uma base dos EUA no Catar, mas, no mesmo dia, Trump anunciou um “cessar-fogo completo e total” entre Israel e Irã, negociado com apoio do Catar. O cessar-fogo, no entanto, mostrou-se frágil: já em 24 de junho, ambos os lados trocaram novas acusações de violação do acordo após novos lançamentos de foguetes.
Em 26 de junho, o Parlamento iraniano aprovou uma lei suspendendo parte da cooperação com a AIEA, decisão confirmada pelo Conselho Guardião. Dois dias depois, veio a resposta mais contundente: o veto a Grossi e o desligamento de equipamentos de monitoramento internacional.
No balanço, o episódio expõe um ciclo acelerado de ofensiva militar, retaliações cruzadas e uma crise diplomática que ameaça desmontar o frágil sistema de verificação nuclear internacional — reacendendo o alerta para o risco de novos choques na região.