PÔQUER

Trump move as peças para possível ataque ao Irã

Se ceder no enriquecimento de urânio, regime em Teerã corre risco de cair

O porta-aviões Nimitz navega em direção ao Oriente Médio.
Em movimento.O porta-aviões Nimitz navega em direção ao Oriente Médio.Créditos: US Navy
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O porta-aviões USS Nimitz, baseado no Oceano Pacífico, está se movendo do mar da China em direção ao Oriente Médio, num movimento antecipado para se juntar a outra esquadra que já está na região, comandada pelo USS Carl Vinson.

Ao mesmo tempo, monitores de tráfego aéreo alegam ter registrado um movimento incomum de aviões de reabastecimento nos Estados Unidos, o que em geral precede ações militares duradouras do país.

São indícios de que o governo Trump pode se envolver no conflito contra o Irã, como quer Israel.

Mesmo sob duras críticas de aliados, como o jornalista Tucker Carlson e Steve Bannon, Trump parece inclinado a atender ao desejo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de atacar o Irã, aplaudido pela linha dura de seu governo que inclui comentaristas sionistas da Fox News.

Carlson e Bannon alegam que Trump prometeu durante a campanha não iniciar guerras, deixar o Oriente Médio e investir o dinheiro torrado em aventuras militares nos Estados Unidos.

Jogador de pôquer

Trump vem jogando pôquer com o Irã. Deu prazo de 60 dias para o regime dos aiatolás desistir do enriquecimento de urânio, mas marcou uma sexta rodada de negociações que acabou cancelada depois do ataque de Israel.

Tudo indica que tenha sido uma jogada planejada, para dar a Israel a vantagem da surpresa.

Para sobreviver no cargo, Netanyahu precisa de uma vitória decisiva sobre o Irã, mas não dispõe das bombas de penetração de última geração necessárias a atacar estruturas existentes nas profundezas de Teerã e em outras regiões montanhosas do país.

Os Estados Unidos tem dezenas de bases militares no Oriente Médio: Barein, Kuwait, Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Síria e Israel.

Trump fez um alerta aos moradores de Teerã para que deixem a cidade. O êxodo começou há dois dias, também porque este é um período de férias em que iranianos viajam para fora da capital.

Mesma tática do Líbano

Israel está usando no Irã a mesma tática que aplicou no Líbano contra o Hezbollah, assassinando lideranças em prédios civis e atacando infraestrutura vital e simbólica, como a emissora estatal de TV do Irã.

O golpe final foi a destruição de instalações subterrâneas onde foi morto o líder do movimento, Hassan Nasrallah.

A grande dúvida dos israelenses é sobre onde o Irã está guardando seu urânio enriquecido a 60%, que poderia ser usado em uma "bomba suja".

Foi Trump em seu primeiro mandato quem retirou os EUA do acordo nuclear com o Irã, incentivado por Israel, acabando com os limites formais de enriquecimento de urânio a menos de 4%.

Um eventual ataque dos EUA ao Irã pode provocar o bloqueio do estreito de Ormuz, por onde passa um em cada cinco barris de petróleo exportados pelos países do Golfo Pérsico.

O movimento de porta-aviões em direção ao Irã dispensaria o envolvimento de bases dos EUA na região no ataque, evitando assim que elas sofram retaliação do Irã.

Mesmo sob pressão e ameaça existencial, o regime dos aiatolás tem adotado a cautela típica dos persas, planejando sempre para o longo prazo.

É pouco provável, no entanto, que aceite algum acordo em que abra mão do enriquecimento de urânio, como quer Trump, o que seria uma derrota política capaz de abalar profundamente a popularidade do regime.

O Irã nega que tenha a pretensão de construir a bomba atômica mas alega que tem direito a enriquecer urânio para uso em produção de energia elétrica e para fins medicinais.

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