A crise entre o governo da Califórnia e a gestão de Donald Trump escalou nesta quinta-feira (12) durante uma coletiva de imprensa da secretária de Segurança Interna, Kristi Noem. Durante a coletiva, o senador democrata Alex Padilla tentou fazer alguns questionamentos sobre a operação de agentes federais no estado da Califórnia. No entanto, ele foi impedido e preso por agentes do FBI.
Em vídeo que circula pelas redes, o senador Padilla se dirige à secretária Noem: "Eu sou o senador Alex Padilla. Tenho perguntas para o secretária." Logo em seguida, agentes federais retiram o parlamentar à força, o jogam no chão e o algemam. "No chão, no chão, mãos atrás das costas", grita um agente. Os policiais dobram um dos braços de Padilla, colocam uma algema e dizem: "Outra mão, senhor? Outra mão."
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Após ser algemado, o senador democrata se dirige aos jornalistas presentes e declara: "Há muita preocupação, há muita tensão, há muita ansiedade. Eu encorajo todos a protestar pacificamente, assim como eu estava calmo e pacificamente ouvindo aquela coletiva de imprensa e me preparando, tentando fazer uma pergunta."
A crise entre o estado da Califórnia e o governo de Trump teve início na semana passada, quando agentes federais desembarcaram no estado para perseguir e prender imigrantes. Desde então, dezenas de manifestações tomaram conta da Califórnia — e hoje também ocorrem em outras localidades.
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Durante a coletiva, a secretária de Segurança Interna do governo Trump voltou a atacar o governador Gavin Newsom: "Os agentes federais continuarão a realizar operações nesta cidade. Não vamos embora. Estamos aqui para libertar a cidade da liderança socialista e onerosa que este governador e este prefeito colocaram neste país."
“Democracia está sob ataque”: governador da Califórnia convoca todos a enfrentarem Trump
Após ver seu estado ser invadido por forças federais, o governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, publicou, por meio de suas redes sociais, um chamado à população dos EUA.
Em suas postagens, Newsom afirmou que as ações de Donald Trump contra a Califórnia “são um laboratório” do que ele pode fazer com o restante do país.
Além disso, o governador destacou que, mais do que a soberania do território californiano, o que está em jogo é o futuro da democracia nos Estados Unidos, que, segundo ele, pode estar em risco e próxima do fim.
“A democracia está sendo atacada diante de nossos olhos — o momento que temíamos chegou. O Estado de direito tem cada vez mais dado lugar ao governo de Don. Os pais fundadores não viveram e morreram para ver esse momento. É hora de todos nós nos levantarmos”, declarou o governador da Califórnia.
Trump mobiliza fuzileiros navais e aumenta tensão nos protestos de Los Angeles
Centenas de fuzileiros navais são esperados em Los Angeles nesta terça-feira (10), após o presidente americano, Donald Trump, ordenar sua mobilização em resposta aos protestos contra as prisões dos imigrantes, apesar das objeções das autoridades estaduais.
Os 700 soldados de elite se juntarão aos 4.000 soldados da Guarda Nacional, ampliando a militarização da tensa situação na segunda maior cidade dos Estados Unidos. Los Angeles é lar de milhões de residentes estrangeiros e uma grande comunidade latina.
As manifestações, agora em seu quinto dia, têm sido em grande parte pacíficas, mas foram marcadas por confrontos esporádicos e violentos com a polícia.
Os distúrbios foram desencadeados na semana passada pela repentina intensificação da campanha de Trump para localizar e deportar imigrantes que entram de maneira irregular no país, com batidas policiais em seus locais de trabalho.
No bairro de Little Tokyo, no centro de Los Angeles, houve um confronto entre dezenas de manifestantes e os agentes antidistúrbios fortemente equipados na noite de segunda-feira. Alguns manifestantes lançaram sinalizadores contra as forças de segurança, que responderam com gás lacrimogêneo.
As autoridades da Califórnia enfatizam que a maioria dos manifestantes era pacífica e que o estado é capaz de manter a ordem sem a intervenção federal.
Os fuzileiros navais "não deveriam ser enviados a solo americano para confrontar seus próprios compatriotas e realizar a fantasia insana de um presidente ditatorial. Isso é antiamericano", disse o governador democrata Gavin Newsom na segunda-feira no X.
Trump chamou os manifestantes de Los Angeles de "agitadores e insurgentes profissionais".
"Se eu não tivesse enviado tropas para Los Angeles nas últimas três noites, esta cidade outrora grandiosa e bela estaria em chamas agora", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social nesta terça-feira.
Alcatrão e penas
Trump pediu a prisão de Newsom, enquanto o presidente da Câmara de Representantes, o republicano Mike Johnson, declarou nesta terça-feira que o governador da Califórnia "deveria ser coberto por alcatrão e penas", em referência a uma antiga técnica de punição pública.
Mais cedo, manifestantes que marchavam com cartazes feitos à mão gritavam "Fora ICE de Los Angeles!" e "Fora Guarda Nacional!", em referência aos agentes de imigração e aos reservistas.
Uma pequena comerciante da cidade, cujo estabelecimento foi pichado durante os protestos, apoiou as táticas agressivas de Trump.
"Acho que o vandalismo precisa acabar", disse ela à AFP, sem se identificar.
Outros ficaram horrorizados.
"Eles deveriam nos proteger, mas, na realidade, foram enviados para nos atacar", disse Kelly Diemer, de 47 anos, à AFP. "Isso não é mais uma democracia".
Dezenas de manifestantes foram presos nos últimos dias em Los Angeles, em San Francisco e em outras cidades americanas.
"Incrivelmente incomum"
O uso de militares por Trump é uma medida "incrivelmente incomum" para um presidente dos Estados Unidos, disse à AFP Rachel VanLandingham, professora da Faculdade de Direito de Southwestern em Los Angeles e ex-tenente-coronel da Força Aérea dos EUA.
A Guarda Nacional, uma força armada de reserva, é normalmente controlada por governadores estaduais e geralmente é usada em solo americano em resposta a desastres naturais.
Seus reservistas não são mobilizados por um presidente contra a vontade de um governador estadual desde 1965, no auge do movimento pelos direitos civis.
O envio de tropas regulares, como os fuzileiros navais, para solo americano é ainda mais incomum. A legislação americana proíbe amplamente o uso do exército como força policial, exceto em caso de insurreição.
Crescem as especulações de que Trump poderia invocar a Lei da Insurreição, que lhe daria liberdade para usar tropas regulares em todo o país.
Trump "está tentando usar declarações de emergência para justificar primeiro trazer a Guarda Nacional e, em seguida, mobilizar os fuzileiros navais", disse à AFP Frank Bowman, professor de direito da Universidade de Missouri.
O acadêmico apontou que a "suspeita" é que o presidente busca alimentar a ideia de que "há uma emergência genuína e uma verdadeira insurreição contra as autoridades, o que lhe permite começar a usar ainda mais força".
O estado da Califórnia entrou com uma ação judicial para bloquear o uso de tropas da Guarda Nacional e Newsom disse que apresentaria outra ação judicial contestando o envio dos fuzileiros navais.
© Agence France-Presse
Com informações dos Los Angeles Times