CRISE POLÍTICA

Alemanha: Merz enfrenta segunda votação para chanceler após derrota histórica no parlamento

O revés precoce de Merz — algo inédito na história da Alemanha pós-guerra — surpreendeu o país e seus vizinhos europeus, desencadeando reuniões de crise no parlamento alemão

O líder conservador Friedrich Merz.Créditos: RALF HIRSCHBERGER / AFP
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O líder conservador da Alemanha, Friedrich Merz, enfrentará uma segunda votação no parlamento nesta terça-feira (6) em sua tentativa de se tornar chanceler, após perder a primeira rodada em um revés histórico e surpreendente.

Mesmo que consiga se tornar o 10º chanceler da Alemanha no pós-guerra, a derrota inicial abalou fortemente Merz, que prometeu restaurar a estabilidade em Berlim após meio ano de turbulência política.

Merz, de 69 anos, cuja aliança CDU/CSU venceu as eleições em fevereiro, firmou um acordo de governo de coalizão com os sociais-democratas (SPD) de centro-esquerda, do atual chanceler Olaf Scholz.

Mas a votação secreta na câmara baixa, que era esperada como uma formalidade, se transformou em desastre para Merz quando ele não conseguiu alcançar a maioria absoluta exigida entre os 630 parlamentares, ficando a seis votos de distância.

O resultado sinalizou descontentamento dentro da “grande coalizão” formada pelos dois maiores partidos do país, que foram forçados a uma aliança de governo desconfortável.

O revés precoce de Merz — algo inédito na história da Alemanha pós-guerra — surpreendeu o país e seus vizinhos europeus, desencadeando reuniões de crise no Bundestag.

Horas depois, o líder parlamentar da CDU, Jens Spahn, afirmou que todos os partidos, exceto o ultradireitista AfD, decidiram “prosseguir com uma segunda rodada hoje às 15h15 (horário local)”.

Merz prometeu reanimar a economia em dificuldades e fortalecer o papel de Berlim na Europa, em meio às rápidas mudanças desde o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Trump tem pressionado duramente os aliados europeus, reclamando dos baixos gastos com a OTAN e impondo tarifas especialmente prejudiciais à Alemanha, potência exportadora.

Spahn enfatizou a urgência de um novo governo assumir, diante da turbulência econômica e geopolítica.

“Toda a Europa, talvez até o mundo inteiro, está assistindo a essa segunda rodada de votação”, afirmou Spahn, pedindo aos parlamentares que “tenham consciência dessa responsabilidade especial”.

Fracasso sem precedentes

Merz, que possui sólida experiência no setor empresarial, mas nunca ocupou cargo de liderança governamental, declarou na segunda-feira: “Vivemos tempos de profundas transformações, de grandes rupturas... e de enorme incerteza.

“E é por isso que sabemos que é nossa obrigação histórica fazer essa coalizão dar certo”, acrescentou.

Para se tornar chanceler, Merz precisa obter maioria absoluta de 316 votos na votação secreta.

Mas, na primeira votação desta terça, ele recebeu apoio de apenas 310 parlamentares. Outros 307 votaram contra, três se abstiveram, nove estavam ausentes e houve um voto inválido.

De acordo com a constituição, uma segunda votação deve ocorrer em até 14 dias.

Se essa também fracassar, uma terceira fase acontece, na qual uma maioria simples — mais votos favoráveis do que contrários — seria suficiente para eleger Merz.

“Merz muito provavelmente ainda será eleito chanceler no final”, escreveu o analista Holger Schmieding, do banco Berenberg.

“Mas, mesmo assim, o fracasso sem precedentes na primeira rodada já representa um péssimo começo para ele. Mostra que ele não pode contar totalmente com seus dois partidos de coalizão.

“Isso vai gerar dúvidas sobre sua capacidade de levar adiante sua agenda, prejudicando sua autoridade doméstica e internacional, ao menos inicialmente.”

A analista da Capital Economics, Franziska Palmas, também avaliou que o revés “provavelmente não impedirá Merz e a Grande Coalizão de assumirem o poder nos próximos dias ou semanas.

“No entanto, deixa Merz seriamente enfraquecido e sugere que as esperanças de maior estabilidade na política alemã podem ser frustradas, e que o governo pode enfrentar dificuldades para avançar com sua agenda econômica.”

Extrema direita

O partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) — maior partido de oposição, que obteve um resultado recorde de mais de 20% na eleição — comemorou a derrota surpresa de Merz.

“Merz deve se retirar e abrir caminho para uma nova eleição geral”, disse a copresidente do AfD, Alice Weidel, chamando o resultado da primeira rodada de “um bom dia para a Alemanha”.

Caso o resultado seja mantido, Olaf Scholz permanecerá no cargo de chanceler interino por enquanto.

O desfecho abalou o calendário político em Berlim.

O presidente Frank-Walter Steinmeier estava prestes a empossar o novo gabinete na tarde desta terça, e Merz havia planejado visitas a Paris e Varsóvia na quarta-feira.

© Agence France-Presse

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