De BERLIM | Milhares de pessoas tomaram as ruas da Alemanha neste domingo (11) em mais de 60 cidades para exigir o banimento do Alternativa para a Alemanha (AfD), partido associado ao neonazismo classificado no início do mês como uma organização “comprovadamente extremista de direita” que "ameaça a democracia" pelo Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV), agência de inteligência do governo alemão.
A mobilização nacional foi convocada por mais de 50 organizações civis, incluindo o coletivo Zusammen gegen Rechts ("Juntos contra a Direita") e a campanha Menschenwürde verteidigen – AfD-Verbot Jetzt! (“Defender a dignidade humana – Proibição do AfD já!”). Em Berlim, a principal manifestação ocorreu no Portão de Brandemburgo e reuniu, segundo a polícia, cerca de 4.000 pessoas. Os organizadores estimam 7.500 manifestantes.
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A campanha pelo banimento do AfD já não se limita às ruas. Em diversas cidades alemãs, é possível encontrar adesivos e cartazes com o endereço “afd-verbot.jetzt” em bares, restaurantes, praças e prédios públicos. O símbolo de um "x" rosa e verde –adotado pela campanha – tornou-se parte da paisagem urbana e expressão visível de uma sociedade em alerta.
Manifestação nacional expõe rejeição popular à extrema direita
Além de Berlim, atos ocorreram em Hamburgo (1.500 pessoas), Munique (3.200), Essen (2.500), Hannover (1.600), Leipzig, Dresden, Frankfurt, Bremen, Mainz, Göttingen, Hildesheim, Celle e dezenas de outras cidades – incluindo pequenos municípios como Quedlinburg, Stadthagen e Altötting. Em Celle, uma performance reuniu 250 pessoas para formar a frase “AfD-Verbot Jetzt”, registrada por drones. Em Hamburgo, representantes de movimentos como Omas gegen Rechts ("Vovós contra a diereita), Fridays for Future e da Igreja Protestante do Norte reforçaram o chamado pelo banimento do partido, apontando que apenas essa medida pode conter o avanço de ideias fascistas.
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Os protestos vêm na esteira da decisão do BfV que classificou oficialmente a AfD como uma ameaça à ordem democrática. A nova designação autoriza o uso de métodos de vigilância ampliados, como escutas telefônicas e infiltração de agentes. Apesar da suspensão temporária dessa classificação por uma liminar judicial, o partido passa a ser visto – formal e politicamente – como um risco ao Estado de Direito.
Ligações com o neonazismo e ataque aos direitos fundamentais
O AfD coleciona denúncias por ligações com grupos neonazistas, discursos de ódio e práticas que violam os princípios constitucionais alemães. Em 2024, membros do partido participaram de uma reunião secreta que discutia planos de “remigração” –– termo utilizado por neonazistas para defender a expulsão de milhões de imigrantes e descendentes. A retórica de figuras como Alice Weidel e Björn Höcke inclui expressões abertamente xenófobas e slogans proibidos por sua associação com o regime de Adolf Hitler.
A ala jovem do partido foi oficialmente classificada como extremista, e lideranças como Maximilian Krah e Hannes Gnauck protagonizaram episódios envolvendo a relativização dos crimes da SS, o uso de linguagem nazista e declarações que colocam em xeque os direitos de minorias. A ministra do Interior, Nancy Faeser, afirmou que a AfD promove uma definição de povo “incompatível com a dignidade humana” e discrimina sistematicamente cidadãos com histórico migratório.
Debate sobre proibição avança, mas enfrenta resistência conservadora
A pressão para que o parlamento alemão e governo de Friedrich Merz entrem com um pedido formal de dissolução da legenda cresce. A Constituição alemã, por meio do artigo 21, permite a proibição de partidos que atentam contra a ordem democrática. No entanto, lideranças do CDU, partido de Merz, adotam postura cautelosa. O secretário-geral da legenda, Carsten Linnemann, declarou que um processo judicial seria difícil de vencer e poderia gerar instabilidade. A líder dos Verdes, Britta Haßelmann, rebateu: “Negar os perigos da AfD é uma forma de normalizar um ataque à Constituição”.
Embora juridicamente complexa, a possibilidade de banimento já é discutida abertamente por parlamentares, juristas e membros da sociedade civil. Os organizadores das manifestações afirmam que um partido que atenta contra os direitos humanos, a pluralidade política e a integridade do Estado democrático não pode continuar operando legalmente.
A campanha antifascista na Alemanha ganha força justamente no momento em que o AfD vive seu auge eleitoral – o partido foi o segundo mais votado do país nas eleições gerais de fevereiro. Seu crescimento ocorre em paralelo ao enfraquecimento do chamado Brandmauer — o cordão sanitário político erguido contra a extrema direita — e a uma crise de legitimidade das instituições democráticas.