IGREJA CATÓLICA

Klaus Raupp analisa expectativas sobre pontificado progressista de Leão XIV

Ao Fórum Onze e Meia, teólogo comentou sobre Doutrina Social da Igreja e como a comunidade dos EUA recebeu a eleição de Robert Francis Prevost

Robert Prevost, o Papa Leão XIV.Créditos: Vatican News/Reprodução
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O Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (12) recebeu o mestre em Teologia Sistemática pela PUC do Rio Grande do Sul e membro sênior da Fundação The Economy of Francesco ("Economia de Francisco", em português, criada pelo Papa Francisco em 2019), Klaus Raupp. Ele analisou as expectativas para o papado de Leão XIV, como a comunidade dos Estados Unidos recebeu a eleição do novo pontífice e como ele deve conduzir os posicionamentos da Igreja Católica nos próximos anos. 

Em relação às expectativas sobre Leão XIV dar continuidade ao legado de Papa Francisco, que ficou marcado pela aproximação da Igreja com causas sociais e populações vulneráveis, condutas progressistas e ações de solidariedade, Raupp comentou que o pronunciamento do novo papa neste sábado (10) "confirma que ele [Papa Leão XIV] quer dar sequência ao espírito da preocupação da igreja com as questões sociais"

"Ele é um impulsionador, assim como Francisco foi, do Conselho Vaticano Segundo", afirmou o teólogo. Raupp também falou sobre a escolha de Robert Francis Prevost pelo nome de "Leão XIV", numa referência a Leão XIII, papa que revolucionou a igreja ao defender que a instituição deveria ser um agente de transformação social. 

Raupp, que se dedica aos estudos da Doutrina Social da Igreja, ainda explicou que se trata de uma prática "muito mais informativa de valores" que deveria ser apropriada pelo campo democrático para disputar espaço com a extrema direita e líderes religiosos como Silas Malafaia. Para o teólogo, o campo progressista deve atrair o povo que está sendo "enganado" pela extrema direita através de ferramentas do campo religioso. Ele acrescentou que é com esse olhar que ele observa a chegada de Leão XIV. 

Raupp também comentou sobre como a eleição do novo papa, que é dos Estados Unidos, mas viveu por 40 anos no Peru, sendo missionário agostiniano, foi recebida pela comunidade estadunidense. Ele relembrou que Steve Bannon, ex-assessor político de Trump, chegou a se mostrar preocupado com a eleição de Prevost antes mesmo do Conclave, e que isso pode ser interpretado como um "bom sinal". 

Para o teólogo, a eleição de Leão XIV foi uma surpresa para os estadunidenses. Ele relembrou que, após o anúncio, Donald Trump convocou uma rápida coletiva numa forma de dizer que tudo estava "sob controle" já que Prevost é dos Estados Unidos. 

"[Trump] já se apressou a dizer que "nós vamos conversar com ele", "a nossa diplomacia já está em contato". Mas não tem como esquecer que ele mesmo [Prevost], em meses anteriores, havia feito uma crítica séria não só ao ato de Trump com o Bukele, mas ao modo como eles reagem, como a gente diz na expressão, tirando sarro, fazendo 'mockery'".

Raupp afirmou, então, que a "reação média" foi de uma "estranheza inicial", do mesmo jeito que Papa Francisco gerou. O teólogo relembrou que Francisco tinha uma postura diplomática, com capacidade de se comunicar bem de acordo com o público que o ouvia, e foi assim que ele discursou durante visita a um congresso na Filadélfia, alertando para subserviência da economia à tecnocracia

"Então, ele traz a verdade que ele quer trazer, o conteúdo que ele quer trazer, mas chegando da forma como as pessoas recebam melhor. Eu espero isso do Leão XIV", disse Raupp.

Sul Global 

"Eu acho que a gente está com dois papas que trazem mais a perspectiva do Norte e Sul, e nesse momento em que o Sul Global ganha bastante atenção e força. Então, esse é o meu ponto também, a função do meu tipo de fala, eu diria, que é a gente se conscientizar, não ficar querendo buscar ideais", acrescentou o teólogo. 

Por fim, Raupp relembrou, em relação às expectativas de um papado progressista de Leão XIV, que ele chegou a citar Papa Francisco duas vezes durante discurso no sábado (10) e falou em paz, justiça, diálogo, encontro e amor incondicional. "Quer dizer, se ele insistir nisso na prática, se ele trouxer, como ele disse na manhã de sábado, por exemplo, um documento que nos oriente sobre a questão do trabalho, do mundo do trabalho diante da inteligência artificial, ele já sinalizou isso", afirmou. 

Confira a entrevista completa do teólogo Klaus Raupp ao Fórum Onze e Meia

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