Um antigo ditado sobre conclaves resume bem o clima de incerteza que marca a escolha de um novo papa: "Quem entra como papa, sai como cardeal". Em outras palavras, favoritos nem sempre vencem. Foi o que aconteceu em 2013, quando muitos apostavam na eleição do cardeal italiano Angelo Scola. Mas quem apareceu na sacada da Basílica de São Pedro foi Jorge Bergoglio, o argentino que o mundo passou a conhecer como Papa Francisco.
Agora, com a cadeira de São Pedro novamente vaga, o cenário é ainda mais aberto. Durante seu pontificado, Francisco mudou a cara do colégio de cardeais, nomeando representantes de regiões antes pouco influentes no Vaticano, como Tonga, Haiti e Papua-Nova Guiné. Isso torna a eleição menos previsível e reforça a dúvida principal: a Igreja vai manter o caminho de reformas iniciado por Francisco ou optar por um rumo mais conservador?
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Confira abaixo cinco dos nomes mais cotados para ser o novo Papa e suas respectivas inclinações.
Pietro Parolin, 70 anos. Moderado.
Italiano e com longa trajetória no Vaticano, o cardeal Pietro Parolin atuou como secretário de Estado sob o pontificado de Francisco, com quem manteve estreita colaboração. De perfil moderado, Parolin é considerado menos progressista do que o atual papa, especialmente em temas ligados à comunidade LGBT+. Em 2015, ao comentar a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Irlanda, classificou o resultado do referendo como uma "derrota para a humanidade". No último sábado, participou de uma reunião com o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, ocasião em que, segundo o Vaticano, houve um intercâmbio de opiniões entre as autoridades.
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Luis Antonio Tagle, 67 anos. Progressista.
O cardeal filipino Luis Antonio Tagle surge como um nome forte caso o Colégio de Cardeais decida eleger um papa asiático. Apontado como herdeiro do espírito reformista de Francisco, ele já foi apelidado de “Francisco da Ásia” e é um dos nomes mais jovens na corrida pelo papado. Nomeado por Bento XVI em 2012, Tagle é reconhecido por suas posturas abertas à inclusão de fiéis LGBT+ e de pessoas divorciadas. Apesar de adotar uma linha liberal em muitos aspectos, mantém posição contrária à legalização do aborto. Sua eleição representaria uma continuidade das reformas iniciadas por Francisco e um marco histórico para o Sudeste Asiático.
Péter Erdö, 72 anos. Conservador.
O cardeal húngaro Péter Erdö representa a ala conservadora da Igreja e tem seu nome frequentemente mencionado entre os possíveis sucessores de Francisco. Contrário à comunhão para divorciados e à bênção de casais do mesmo sexo, Erdö também expressa preocupações com os efeitos da migração em massa na estabilidade dos países receptores, embora reconheça o direito ao refúgio por fome ou guerra. Com perfil tradicionalista e foco na Europa, é visto como alguém capaz de estabelecer pontes com outras religiões. Foi cogitado no conclave de 2013 e conta com a simpatia do primeiro-ministro Viktor Orbán.
Peter Turkson, 76 anos. Progressista.
Natural de Gana, o cardeal Peter Turkson esteve entre os cotados no conclave anterior e volta a ser mencionado entre os favoritos. Ex-líder do Pontifício Conselho Justiça e Paz, Turkson é próximo da ala reformista da Igreja e defende posições progressistas, como o debate sobre o celibato clerical e maior inclusão de fiéis LGBT+. Também se destaca por sua atuação em pautas sociais como mudanças climáticas, combate à pobreza e justiça global. No entanto, polêmicas do passado — como declarações controversas sobre abusos sexuais na África e críticas ao islamismo — podem dificultar sua candidatura.
Pierbattista Pizzaballa, 60 anos. Progressita.
Atual Patriarca Latino de Jerusalém, Pizzaballa foi elevado ao cardinalato por Francisco em 2023 e é responsável pela Igreja Católica em territórios como Israel, Palestina, Jordânia e Chipre. Com mais de 30 anos de atuação na Terra Santa, fala hebraico fluentemente e já afirmou manter diálogos com o Hamas "por necessidade". Seu nome ganha força entre os cardeais italianos, que veem nele a possibilidade de retorno de um compatriota ao trono de Pedro. Defensor do diálogo inter-religioso e da justiça social, é uma figura respeitada nas negociações no Oriente Médio.