Mais de 300 médicos, que atuam em hospitais da França, iniciaram, nesta quarta-feira (5), uma greve de fome. Os profissionais são estrangeiros e foram diplomados em países que não pertencem à União Europeia (UE).
O protesto foi motivado por promessas do governo não cumpridas. Em janeiro de 2024, as autoridades federais francesas anunciaram a rápida regularização dos diplomas dos estrangeiros. Até agora nada aconteceu nesse sentido.
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Além disso, a situação impacta diretamente em seus salários, nos locais de exercício da profissão e na estabilidade do emprego.
O médico argelino Abdelhalim Bensaidi é o porta-voz do movimento. Ele está empregado há seis anos como especialista em diabetes, em um hospital público de Nanterre, na região de Paris.
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Bensaidi é formado em medicina pela Universidade de Orã, na Argélia, e possui quatro especializações com diplomas de Estado fornecidos por universidades francesas. Apesar da qualificação, tem contrato de trabalho temporário e salário inferior ao de um colega francês na mesma posição, de acordo com reportagem da RFI.
Em janeiro de 2024, o então primeiro-ministro Gabriel Attal e o presidente Emmanuel Macron prometeram a cerca de 5 mil profissionais de saúde estrangeiros que atuam na França como médicos, cirurgiões-dentistas, farmacêuticos e parteiras, mas com diplomas de países de fora da União Europeia, que seus casos seriam rapidamente avaliados e reconhecidos pelo Ministério da Saúde.
A equiparação dos diplomas estrangeiros com os de médicos franceses e de países da UE é imprescindível para que esses profissionais tenham acesso a empregos estáveis, possam se candidatar a postos de trabalho e recebam salários compatíveis com seu grau de especialização e tempo de experiência.
Reprovações sem justificativas
“Usamos todos os meios, todos os recursos”, inclusive judiciais, destacou Bensaidi, em entrevista à rádio France Inter. Para obter a regularização, os profissionais estrangeiros precisam passar por provas de verificação de conhecimento.
O problema é que, na última sessão, 20% vagas que seriam destinadas a eles não foram preenchidas. “Houve pessoas que foram rejeitadas mesmo tendo obtido notas acima da média”, protestou Bensaidi, que denunciou uma decisão “arbitrária”.
“Estamos em uma situação precária inaceitável”, ressaltou o médico. Para uma posição equivalente, o salário de um médico com diploma não europeu é três vezes menor do que o de um profissional francês e ainda com emprego estável.
Além disso, esses profissionais não têm garantias de poder permanecer no país, pois seus contratos são renovados a cada seis meses.
“Ouvimos promessas do presidente da República e do ex-primeiro-ministro, mas não vemos resultados práticos. Nós é que garantimos o funcionamento de alguns hospitais e só queremos ser reconhecidos pelo nosso verdadeiro valor”, desabafou Bensaidi.
Os médicos estrangeiros marcaram para este sábado (8) uma manifestação em frente à sede do Ministério da Saúde, em Paris.
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