GAZA

Advogada brasileira entra em greve de fome e adere onda de solidariedade à Palestina

A ativista Maíra Pinheiro aderiu ao movimento Hunger Strike Gaza, que se intensificou após Israel bloquear entrada de ajuda humanitária no norte de Gaza, onde milhares passam fome

Maíra junto de imagem de Shireen Abu Akleh, jornalista da Al Jazeera executada pelas forças israelenses em 2022, no campo de refugiados de JeninCréditos: Arquivo Pessoal
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No último mês, Israel tem imposto um cerco cruel à região norte de Gaza. Além de bombardeios violentos e de ondas de assassinatos, as forças militares israelenses também tem impedido a entrada de ajuda humanitária, colocando milhares de palestinos em situação de fome grave em regiões como o campo de refugiados de Jabaliya ou nas cidades de Beit Hanoun e Beit Lahia.

Esse aprofundamento do genocídio em Gaza tem mobilizado milhares de ativistas pró-palestina ao redor do mundo. Na esteira destes acontecimentos, o Movimento Juventude Livre da Jordânia - país vizinho à Palestina - decidiu iniciar uma campanha chamada Hunger Strike Gaza, que convoca pessoas ao redor do mundo todo a entrarem em greve de fome contra a violência israelense. 

O objetivo da iniciativa é pressionar pela entrada de ajuda humanitária no norte de Gaza. 

Desde outubro do ano passado, Israel assassinou 43 mil pessoas, deixou mais de 10 mil desaparecidos e 102 mil pessoas feridas apenas em Gaza.

A advogada criminalista especialista em direitos humanos e das mulheres Maíra Pinheiro decidiu aderir ao movimento e está há quatro dias em jejum na defesa da causa palestina. Em conversa exclusiva com a Fórum, a ativista decidiu explicar um pouco mais da iniciativa.

Maíra em Belém, na Cisjordânia

"Tudo isso torna o que está acontecendo lá muito urgente e faz com que seja muito sofrido acompanhar. A decisão de aderir a uma greve de fome veio da necessidade de ter que lidar com todo o pesar, o luto, a raiva, o ódio, a frustração que vem de acompanhar isso à distância", explica.

Maíra foi à Palestina em julho deste ano e atuou prestando apoio aos brasileiros que vieram de Gaza na operação de resgate coordenada pelo governo brasileiro em novembro de 2023.

"Eu estive na Palestina em julho desse ano. Fui para lá para participar da Escola de Verão de Direito Internacional da Al-Haq, que é uma organização de direitos humanos extremamente relevante, que atua no país desde 1979. Isso aprofundou ainda mais o meu compromisso e a minha compreensão de que a solidariedade internacional é imprescindível", explica.

Na visão da ativista, o genocídio operado em Gaza deve servir de alerta não somente para a comunidade internacional, mas também para a população brasileira.

"E eu tenho o entendimento de que o genocídio em Gaza é a questão mais urgente dos nossos tempos", afirma Maíra. "Os parâmetros do que Estados podem praticar contra indivíduos e grupos de pessoas classificados de forma genocida estão sendo atualizados para pior todos os dia. As repercussões não vão se restringir à Palestina", explica.

A história não sou eu. A história são as pessoas de Gaza, principalmente do norte de Gaza, o que elas estão passando

"Aqui no Brasil, um lugar em que o nosso paradigma de segurança pública ainda é tão profundamente marcado por uma lógica de guerra contra o povo, não deveria parecer estranho ou distante o que está acontecendo lá", afirma."A gente fala aqui que a juventude negra brasileira está sofrendo um genocídio. agora tem um genocídio televisionado, transmitido ao vivo, as pessoas trancadas num lugar do tamanho da Zona Leste de São Paulo, morrendo de fome, de bomba, com emprego de armas de alta tecnologia que são verdadeiramente distópicas", completa.

Maíra reforça o objetivo da campanha: "O objetivo da greve é a entrada de ajuda humanitária no norte de Gaza. Desde primeiro de outubro que não chega nenhum caminhão na região. Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde mandou alguns suprimentos médicos para o hospital Kamal Adwan, mas o local onde esses suprimentos foram estocados foi bombardeado por Israel no dia seguinte. E desde então o hospital foi bombardeado outras vezes, ferindo profissionais de saúde e pacientes".

Ela ressalta que está tendo acompanhamento de profissionais de saúde e que não vai entrar em greve de fome "até morrer". Ela conclui. "É óbvio que a gente faz essas coisas para chamar atenção, para chamar a visibilidade para a causa, mas a história não sou eu. A história são as pessoas de Gaza, principalmente do norte de Gaza, o que elas estão passando".

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