De BERLIM | Uma marcha neonazista planejada para atravessar o bairro de Friedrichshain, na capital alemã Berlim, no último sábado (22), foi bloqueada por uma forte mobilização antifascista e da própria comunidade local. Os manifestantes de extrema direita, a maior parte apoiadores do partido AfD (Alternativa Para a Alemanha), sequer conseguiram completar 50 metros do percurso, pois se depararam com bloqueios massivos organizados por grupos antifascistas e moradores – o que levou os organizadores a cancelarem o ato precocemente.
A manifestação neonazista havia sido convocada por organizações e lideranças da extrema direita, entre elas Ferhat Sentürk, ex-político do AfD, e reuniu cerca 850 pessoas. O grupo pretendia atravessar Friedrichshain, bairro historicamente ligado à esquerda e conhecido por sua resistência a movimentos de extrema direita.
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Nos dias anteriores à marcha, entretanto, moradores do bairro e grupos antifascistas iniciaram uma mobilização ampla para impedir o ato. Cartazes alertando sobre a manifestação foram espalhados nos prédios da região, mensagens circularam por grupos de WhatsApp da vizinhança e organizações como a "Berlin gegen Nazis" ("Berlim contra os nazistas") convocaram contraprotestos massivos. Panfletos alertando sobre o ato neonazista e orientando as pessoas a "se cuidarem" também foram distribuídos entre a vizinhança.
As contramanifestações foram variadas, estrategicamente organizadas e obtiveram êxito. Desde o meio-dia, diferentes grupos ocuparam os pontos-chave do percurso planejado pelos neonazistas. O coletivo "Omas gegen Rechts" ("Vovós contra a direita"), por exemplo, organizou um protesto em Frankfurter Tor, enquanto outros grupos bloquearam cruzamentos por onde passaria o ato dos neonazistas. A força da mobilização fez com que os manifestantes de extrema direita fossem impedidos de avançar, obrigando-os a pôr fim à marcha.
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A polícia de Berlim, que destacou cerca de 1.500 agentes para evitar confrontos diretos, prendeu 85 pessoas ao longo do dia, sendo a maioria delas integrantes da marcha neonazista. Segundo as autoridades, os motivos das prisões incluíram exibição de símbolos inconstitucionais, saudação nazista e desobediência às regras locais de manifestação.
Essa não foi a primeira tentativa de grupos neonazistas de se manifestarem em Friedrichshain. Em dezembro de 2024, uma marcha semelhante também foi frustrada pela mobilização local.
Berlim, a "ilha" antifascista
O contexto político atual da Alemanha dá uma nova dimensão à resistência antifascista em Berlim. A extrema direita tem ganhado cada vez mais espaço no país com o crescimento do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), legenda de discurso ultranacionalista, comprovadamente ligada a grupos neonazistas, que se tornou a segunda maior força política do Bundestag (o parlamento alemão) nas eleições legislativas antecipadas de fevereiro.
Em contraste, Berlim reafirmou seu histórico de resistência, sendo a cidade onde o partido de esquerda Die Linke alcançou sua recuperação histórica e foi a legenda mais votada.
A mobilização de sábado foi um reflexo da forte presença da esquerda e da organização comunitária que caracteriza Berlim. A rápida resposta da população ao chamado antifascista mostra que, apesar do avanço da extrema direita em nível nacional, a capital alemã segue sendo um bastião da resistência e um exemplo de como a ação coletiva pode impedir o avanço de movimentos ultranacionalistas que remetem ao passado mais sombrio da Alemanha.