De BERLIM | Faltando poucos dias para as eleições antecipadas na Alemanha, que ocorrem no próximo domingo (23), as pesquisas apontam um cenário de fragmentação política e ascensão da extrema direita. A nova composição do Bundestag (Parlamento alemão) e o novo chefe de governo serão definidos em meio à crise política que levou à dissolução da Câmara Baixa, após o colapso do governo liderado pelo chanceler Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD).
Segundo a pesquisa divulgada pelo instituto Forsa nesta sexta-feira (21), o bloco conservador CDU/CSU, liderado por Friedrich Merz, lidera com 29% das intenções de voto, um crescimento de 4,9 pontos percentuais em relação às últimas eleições, realizadas em 2021.
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Em segundo lugar, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que possui ligações comprovadas com grupos neonazistas, registra 21% — um avanço de 10,6 pontos com relação ao último pleito. O SPD aparece em terceiro, com apenas 15%, uma queda de 10,7 pontos se comparado com a eleição anterior. Os Verdes (Die Grüne) somam 13% (-1,7), enquanto A Esquerda (Die Linke) tem 8% (+3,1), o Partido Liberal Democrático (FDP) alcança 5% (-6,4) e o BSW, 3% (+3,0). Os demais partidos somam 6%.
Veja o gráfico com as intenções de voto:
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Em termos de distribuição de cadeiras no Bundestag, o bloco CDU/CSU deve ocupar 201 assentos, seguido pelo AfD com 145. O SPD terá 90 deputados, os Verdes 90, A Esquerda 53, o FDP 33 e o BSW, 19. Ao todo, são 630 cadeiras em disputa.
Confira:
Na corrida para o cargo de chanceler, que na Alemanha equivale à função de um primeiro-ministro, Friedrich Merz lidera com 32%, seguido por Robert Habeck (Verdes) com 21%. Olaf Scholz aparece com apenas 18%, enquanto Alice Weidel, líder do AfD, é a escolha de 14% dos entrevistados.
Acompanhe:
Crise política e ascensão da extrema direita
O pleito antecipado ocorre após a dissolução do parlamento pelo presidente Frank-Walter Steinmeier, em dezembro de 2024, após a derrota de Olaf Scholz em uma moção de confiança. O colapso da coalizão “semáforo” — formada por SPD, Verdes e FDP — foi desencadeado pela demissão de Christian Lindner, então ministro das Finanças, devido a divergências sobre a política econômica. A saída do FDP do governo resultou na perda da maioria parlamentar, levando Scholz a buscar o voto de confiança, do qual saiu derrotado.
O impasse político abriu espaço para o crescimento do AfD, partido de extrema direita conhecido por seu discurso xenofóbico, racista e ultranacionalista, com ligações comprovadas com grupos neonazistas. Monitorado pelo serviço de inteligência alemão (BfV) desde 2021 por ameaçar a ordem democrática, o AfD conquistou vitórias regionais históricas em 2024, incluindo a liderança na Turíngia — a primeira de um partido de extrema direita desde o regime nazista — e o segundo lugar na Saxônia e em Brandemburgo.
O descontentamento com a economia, a inflação e a política migratória impulsionou o apoio ao AfD, que se apresenta como alternativa ao status quo. “Algo novo está começando”, declarou o parlamentar Bernd Baumann após o partido apoiar uma moção anti-imigração no Bundestag, proposta pelo CDU/CSU e aprovada graças aos votos da legenda extremista.
A quebra do “brandmauer” — o cordão sanitário que isolava o AfD dos partidos tradicionais — gerou ampla indignação. A ex-chanceler Angela Merkel, que é do bloco CDU/CSU, criticou duramente seu correligionário Friedrich Merz, afirmando que a colaboração com o AfD “permite conscientemente uma maioria com os votos da extrema direita”, rompendo uma tradição democrática do pós-guerra.
Protestos e possíveis coalizões
A aproximação entre CDU e AfD gerou protestos massivos em várias cidades alemãs. Em Berlim, mais de 100 mil pessoas participaram recentemente de atos contra a extrema direita e contra a colaboração entre o CDU/CSU e o AfD.
O próprio CDU, entretanto, tem negado que formará um governo com o AfD – apesar de ter aceitado o apoio da sigla extremista para aprovar uma moção anti-imigração no parlamento.
Diante da fragmentação política, a coalizão mais provável para garantir maioria no Bundestag seria uma aliança entre CDU/CSU, Verdes e FDP — conhecida como coalizão “Jamaica” devido às cores dos partidos. Caso algumas das siglas recusem integrar o governo, o CDU/CSU teria que negociar com os sociais-democratas do SPD para formar uma “grande coalizão”, cenário que já ocorreu em governos anteriores.
Na Alemanha, o governo é formado com base em uma maioria absoluta no Bundestag, que corresponde a pelo menos 368 dos 736 assentos. Caso nenhum partido alcance esse número, é necessário formar uma coalizão com outras siglas para indicar o chanceler, chefe de governo do país.