RÚSSIA X UCRÂNIA

Excluídos, europeus realizam conferência de emergência sobre a Ucrânia em Paris

Enquanto isso, Donald Trump prepara negociações de paz com o presidente russo Vladimir Putin na Arábia Saudita

Os presidentes Donald Trump (EUA), Emmanuel Macron (França) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia).Créditos: Divulgação/Presidência da Ucrânia
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Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o continente europeu tem sido um palco de disputas geopolíticas. Estados Unidos e União Soviética emergiram como protagonistas do conflito, enquanto potências tradicionais como Inglaterra e França assumiram papéis secundários — enquanto a Alemanha acabou derrotada, destruída e dominada.

A queda do Muro de Berlim (1989) e a dissolução da URSS (1991) marcaram o fim desse cenário, com a crescente expansão da OTAN para regiões do antigo bloco socialista, agora sob hegemonia dos EUA.

Com a reeleição de Donald Trump (2024), passamos a ver uma inflexão significativa na política externa dos EUA em relação aos seus aliados europeus. Desde sua posse, Trump adotou um tom desafiador, esnobando líderes europeus e priorizando figuras alinhadas, como Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália.

Trump deixou claro que considera os europeus um fardo pesado para os EUA e uma das causas do declínio do país, criticando abertamente e constantemente as relações comerciais que ele considera “injustas” e exigindo que os membros da OTAN elevem seus investimentos militares para pelo menos 5% do PIB. Essa postura foi reforçada com ameaças de aplicação de tarifas e até a tomada de territórios — como no caso da Groenlândia.

Se não bastassem as ameaças e cobranças explícitas que testam a paciência e o orgulho dos europeus, Trump passou a buscar negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia — sem a presença europeia e nem mesmo ucraniana, o que mais desagradou os europeus.

Com Trump ignorando os europeus e chantageando os ucranianos em troca de recursos minerais estratégicos, seus principais assessores aumentam a tensão com constantes provocações e falas polêmicas.

Há algumas semanas, Elon Musk promoveu uma entrevista com Alice Weidel, líder da extrema-direita alemã — considerada ingerência no processo eleitoral. Na cúpula da OTAN, o novo Secretário de Defesa dos EUA, Peter Hegseth, chocou o mundo ao indicar que a Ucrânia deveria ceder os territórios ocupados por Putin aos russos.

Por sua vez, o vice-presidente JD Vance, na Conferência sobre Inteligência Artificial em Paris e, em seguida, na Conferência de Segurança de Munique, acusou os europeus de censura, com “regulamentações massivas que criaram remoção de conteúdo e o policiamento da chamada desinformação”. A “cereja do bolo” teria sido a fala do representante especial dos EUA para a Ucrânia, Keith Kellogg, que, ainda na Conferência de Segurança de Munique, disse que “não via a Europa na mesa de negociação para a Ucrânia”.

Com uma velocidade impressionante, o governo Trump já havia organizado uma primeira rodada de negociações pela paz diretamente com Putin, a ser realizada na Arábia Saudita. Enquanto seu Secretário de Estado, Marco Rubio, chega a Riad, o governo estadunidense cobra por carta o deslocamento de tropas de paz europeias para a Ucrânia.

Ainda em Munique, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convocou os líderes europeus a formarem o que chamou de “forças armadas europeias” e negou a proposta de Trump de trocar ajuda militar por 50% do controle de minerais raros do país. Mais do que isso, o líder ucraniano defendeu que “nenhuma decisão sobre a Ucrânia sem a Ucrânia. Nenhuma decisão sobre a Europa sem a Europa”.

Como consequência, foi convocada uma reunião extraordinária em Paris nesta segunda-feira (17) para tratar da questão ucraniana, com a presença dos líderes da Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Espanha, Polônia e Dinamarca, além da presidente da Comissão Europeia, do presidente do Conselho Europeu e do secretário-geral da OTAN.

Apesar da saída da UE, o premiê britânico Starmer demonstrou buscar o apaziguamento entre os europeus e o governo Trump e disse estar pronto para enviar tropas de paz para o Leste. Por outro lado, Von der Leyen, Macron, Scholz e Tusk demandam mais autonomia e protagonismo para os europeus — ainda que concordem com a necessidade de maiores investimentos na OTAN.

Alguns líderes defendem a entrada da Ucrânia na OTAN — proposta distante de ser consensual. Após a entrada da Finlândia e da Suécia na aliança militar, uma possível adesão ucraniana seria vista como cruzar uma linha vermelha para Putin, que deseja uma Ucrânia neutra.

A guerra da Ucrânia, para além das movimentações da UE e da OTAN, alterou decisivamente os fluxos de capitais para a indústria armamentista e para a agricultura, assim como para os setores de energia, gás e petróleo dos europeus. Mais do que isso, os líderes europeus têm sido constantemente alvo de espionagem e ciberataques tanto por parte dos estadunidenses quanto dos russos. O caso mais recente foi a anulação e o adiamento da eleição romena devido a uma suposta ingerência russa por meio de plataformas como TikTok e Twitter.

A Conferência de Paris desta segunda-feira (17) marca um momento crucial para a Europa, que busca equilibrar sua relação com os EUA enquanto defende sua autonomia e valores. O desfecho das negociações sobre a Ucrânia e a formação de uma força militar europeia pode definir o futuro da geopolítica no continente.

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