O jornalista Bret Stephens, colunista do New York Times, publicou um artigo defendendo a remoção de Nicolás Maduro do poder na Venezuela, alegando que o regime chavista representa um risco à segurança nacional dos Estados Unidos. Em sua análise, ele sugere que Washington adote diplomacia coercitiva, mas não descarte intervenção militar, caso necessário.
No artigo intitulado "Depose Maduro" e publicado na sexta-feira (14), Stephens afirma que Maduro foi reeleito em uma eleição fraudulenta em julho de 2024, na qual seu opositor, Edmundo González, foi forçado ao exílio, enquanto a líder da oposição, María Corina Machado, passou meses escondida.
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Entretanto, até o momento, nenhum organismo internacional apresentou provas concretas que confirmem a alegação de fraude. O texto foi republicado pela Folha de S.Paulo neste domingo (16).
O governo Maduro rejeita as acusações de fraude e afirma que os EUA utilizam essa justificativa como pretexto para manter sanções e continuar isolando o país. Observadores da ONU e da União Europeia relataram irregularidades no pleito, como restrições a candidatos opositores, mas não houve condenação formal que invalidasse os resultados da eleição.
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O jornalista também denuncia que o governo venezuelano mantém cerca de 1,8 mil prisioneiros políticos, além de dez estadunidenses presos sob acusações questionáveis. Em resposta, Caracas nega a existência de presos políticos e afirma que os detidos são envolvidos em atividades ilegais ou conspiratórias contra o Estado.
Em janeiro de 2025, Maduro anunciou a prisão de sete "mercenários estrangeiros", incluindo dois cidadãos dos EUA, acusados de planejar atos terroristas antes de sua posse. Em novembro de 2024, após sua reeleição contestada, o governo libertou 225 presos, incluindo manifestantes e opositores políticos.
Crise humanitária e os impactos das sanções
Apesar de Stephens defender uma ação militar, ele ignora o papel das sanções econômicas dos EUA no colapso da economia venezuelana. Desde 2014, Washington impõe restrições severas ao país, afetando setores como petróleo, mineração e sistema financeiro.
Entre 2017 e 2018, estudos da ONU apontaram que as sanções contribuíram para mais de 40 mil mortes e perdas econômicas superiores a US$ 6 bilhões. Em 2023, algumas sanções foram temporariamente suspensas pelo governo Biden para permitir exportações limitadas de petróleo, mas foram restabelecidas em abril de 2024 após acusações de descumprimento de acordos por parte do governo Maduro.
Impacto das sanções na população
- Redução das receitas do governo, prejudicando a importação de alimentos e medicamentos essenciais;
- Inflação descontrolada, tornando itens básicos inacessíveis para grande parte da população;
- Colapso do setor petrolífero, afetando a principal fonte de renda do país;
- Êxodo massivo, com quase 8 milhões de venezuelanos deixando o país nos últimos anos.
Atualmente, 600 mil venezuelanos vivem como refugiados nos EUA, enquanto Brasil, Colômbia e outros países vizinhos enfrentam desafios para absorver o fluxo migratório.
Os riscos de uma intervenção militar dos EUA
A proposta de Stephens levanta preocupações sobre a estabilidade da América do Sul. Especialistas alertam que uma ação militar contra Maduro poderia desencadear conflitos internos e afetar diretamente países vizinhos, como Colômbia e Brasil, que já lidam com fluxos migratórios em massa.
O advogado e analista de geopolítica Hugo Albuquerque comentou o teor do artigo de Stephens.
"Isso não é opinião, é apologia à guerra", escreveu nas redes sociais neste domingo.
Perigo real com Trump
A ideia de intervenção não é nova e reflete a postura de Donald Trump, que reassumiu a presidência dos EUA em 2025. O senador Marco Rubio, novo secretário de Estado, tem adotado uma postura agressiva contra Maduro.
Durante sua audiência de confirmação para o cargo mais importante da política externa de Washington no Senado, Rubio declarou que os EUA não reconhecem Maduro como líder legítimo e que não há discussões para mudar essa posição. Ele também tem pressionado para que Washington intensifique sanções e medidas diplomáticas contra o regime chavista.
Rubio supervisionou recentemente a apreensão de uma aeronave do governo venezuelano na República Dominicana, sob alegações de violação de sanções e lavagem de dinheiro. Para ele, a Venezuela se tornou um centro global do narcotráfico, operando sob a influência de Rússia, Irã e China.
Um conflito inevitável?
O artigo de Stephens reflete um crescente apoio nos círculos políticos dos EUA para uma abordagem mais agressiva contra Maduro. No entanto, a experiência com intervenções militares norte-americanas na América Latina levanta preocupações sobre as consequências de uma operação desse porte.
Além disso, a narrativa de que sanções levariam à queda de Maduro não se concretizou, e o governo venezuelano conseguiu se manter no poder apesar das pressões externas.
A crise na Venezuela continua sendo um dos principais desafios da geopolítica sul-americana, e as decisões do governo Trump em 2025 podem redefinir o futuro do país — seja por meio de diplomacia, sanções mais severas ou, no pior cenário, uma ação militar direta.