Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (14), o advogado Hugo Albuquerque analisou a conjuntura política do governo de Donald Trump nos Estados Unidos e fez considerações sobre o que é ou não "bravata" no discurso extremista do presidente.
A primeira análise do advogado foi em relação às tarifas sobre o aço, que causam impactos diretos ao Brasil. Albuquerque afirma que essa medida faz sentido dentro da postura política protecionista adotada pelo presidente. "O Trump vai aplicar a tarifa do aço porque faz sentido. Ele aplicou contra o Bolsonaro, não teria lógica não aplicar contra o Brasil do Lula. E ele ampliou a produção de aço nos Estados Unidos, porque tem capacidade instalada na indústria siderúrgica americana".
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Hugo afirma que, durante o primeiro mandato, Trump chegou a ampliar a produção de aço nos Estados Unidos em grande parte com o protecionismo. "Isso tem um fundamento dentro da política americana, então em relação ao aço não é bravata", diz o advogado.
A preocupação do Brasil em relação às tarifas sobre o aço é grande devido aos Estados Unidos serem o segundo maior importador do metal, o que deve gerar impactos econômicos intensos. Nesse sentido, Hugo afirma que uma das alternativas para o Brasil seria ou produzir menos aço ou usar o material dentro do país, estimulando políticas de construção de ferrovias e obras de infraestrutura. Além disso, o advogado também defende que outra resposta do Brasil aos EUA deve ser ampliar a relação com outros países.
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Já em relação às demais ameaças tarifárias, Hugo defende que uma parte não é bravata. "Algumas outras medidas de protecionismo podem dar errado, tipo a tarifação contra o México, porque tem muita grana americana no México para importar mercadoria para o mercado americano por um salário menor, como também algumas tarifas para a China são bravatas, porque vão ter um impacto inflacionário imediato", afirma o advogado.
A ameaça de anexar a Groenlândia aos Estados Unidos também é bravata, de acordo com o advogado, somente para Trump "dizer que é ele quem manda na Europa". Hugo também afirma que a invasão do Canadá é "conversa fiada" do presidente.
"Acho que tem um nível de coisas que ele acena como uma 'trucada' de que ele quer negociar com a Coreia do Norte para ficar contra a China, o que não é muito provável, mas ele tenta", acrescenta o advogado. "Outra coisa com a Rússia, que ele promete céus e terras e ele não tem como oferecer no atual momento", completa Hugo.
"Eu acho que a guerra com a Ucrânia vai terminar porque ele [Trump] precisa que termine. O problema é que ele tem dificuldade interna para terminar nos Estados Unidos porque o setor do petróleo e da arma ganham muito dinheiro. A indústria aeronáutica americana, em parte é civil, em parte é militar e eles ganharam muita grana com essa história da guerra na Ucrânia. Então, o Trump tem uma negociação difícil que é interna, porque a guerra na Ucrânia se mostrou um mau negócio aos americanos porque aumentou muito a inflação", analisa o advogado.
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Governo Trump e investimento do Brasil em soberania
Hugo também analisa que, além das políticas tarifárias de Trump ensinarem ao Brasil de que é preciso ampliar suas relações internacionais e investir mais no desenvolvimento interno, o governo dos EUA também ensina que é preciso que o país brasileiro invista em um "ecossistema de plataformas e de redes sociais públicas".
"Se a gente não criar um ecossistema de plataformas e de redes sociais públicas e democráticas que saia desses supervilões que hoje estão no governo americano, dentro da Casa Branca, a gente está lascado. Porque o que a gente pode fazer na próxima eleição se esses caras de novo agirem a favor da extrema direita?", pontua o advogado.
"A gente vai jogar com eles fora de casa, com o juiz deles. É muito difícil a gente ganhar, se isso acontecer. Então, regulamentar a rede social é um caminho de certa maneira, mas não é um caminho em absoluto", defende Hugo.
"A questão toda é que a gente tem que criar coisas. A resposta nem sempre vai ser simétrica aos Estados Unidos. A resposta pode ser, por exemplo, abrir para o Brasil redes sociais da China, da Rússia. Por que a gente não usa WeChat também? Por que a gente não começa a popularizar? E por que a gente não pega mecanismos que são amplamente utilizados pelo povo brasileiro, como PIX, desdobra isso como uma rede social e coloca nos pacotes de internet do povo para que a gente tenha pelo menos uma coisa de comunicação que o povo use efetivamente, que tem utilidade e que não fique dependendo do WhatsApp?", propõe o advogado.
'O Zuckerberg está no governo do Trump, como é que a gente vai poder confiar no WhatsApp? Os caras estão fazendo política diretamente", pontua.
"Por exemplo, na China eles têm o WeChat, o WeChat é um WhatsApp chinês que virou o Pix da China. Por que a gente não pode pegar o PIX e fazer o caminho contrário, já que é uma coisa amplamente utilizada? Eu acho que a gente tem que começar a trabalhar com essa lógica, porque a gente não pode confiar nisso daqui onde a gente está inserido", finaliza o advogado.
Confira a entrevista completa de Hugo Albuquerque ao Fórum Onze e Meia
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