NA CASA BRANCA

EUA iriam gastar US$ 50 milhões para preservativos em Gaza? Outra acusação sem provas de Trump

"Descoberta" teria sido feita pelo departamento chefiado por Musk, segundo o presidente e a secretária de Imprensa, sem nada que comprovasse o fato; entenda o caso

Mais um ataque de Trump contra a administração Biden, e novamente sem provasCréditos: Gage Skidmore
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"Identificamos e impedimos que US$ 50 milhões fossem enviados a Gaza para comprar preservativos para o Hamas. E você sabe o que aconteceu com eles? Eles os usaram como um método de fabricação de bombas." Este é um trecho da fala do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em discurso feito na Casa Branca nesta quarta-feira (29).

Um dia antes, a secretária de Imprensa do presidente, Karoline Leavitt, já havia feito referência ao suposto fato. Contudo, nem ela, nem Trump ou mesmo a gestão, de forma oficial, ofereceu qualquer evidência que sustentasse a história.

Segundo o Guardian, um relatório abrangente emitido em setembro pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), agência federal que fornece assistência humanitária e econômica a países em desenvolvimento, nem um centavo dos US$ 60,8 milhões em remessas de contraceptivos e preservativos financiados pelos EUA no ano passado foi para Gaza.

O relatório mostra que não houve preservativos enviados para nenhuma parte do Oriente Médio, constando apenas uma pequena remessa, no total de US$ 45.680, em contraceptivos orais e injetáveis, foi enviada para a região. Os itens foram direcionados ao governo da Jordânia.

Também não há registros, segundo os relatórios do órgão, de nenhum envio feito nos anos fiscais de 2021 a 2023.

O papel do departamento chefiado por Musk 

A secretária de Imprensa da Casa Branca falou sobre o tema quando tentou justificar a decisão de Trump de congelar o financiamento federal, atribuindo a "descoberta" ao Departamento de Eficiência Governamental" (Doge)órgão consultivo presidido por Elon Musk, e ao Escritório de Gestão e Orçamento (OMB), que faz parte do Gabinete Executivo do presidente.

“O Doge e o OMB também descobriram que 50 milhões de dólares dos contribuintes estavam prestes a ser destinados ao financiamento de preservativos em Gaza”, afirmou Leavitt. “Isso é um desperdício absurdo do dinheiro do contribuinte. Portanto, é nisso que esta pausa está focada: sermos bons administradores do dinheiro dos impostos.”

A organização de ajuda humanitária International Medical Corps disse que recebeu cerca de US$ 68 milhões da USAID para suas operações em Gaza desde 7 de outubro de 2023. Os recursos foram usados por dois hospitais de campanha que forneceram cuidados vitais aos moradores locais. "Nenhum financiamento do governo dos EUA foi usado para adquirir ou distribuir preservativos", disse a organização.

O gasto total da USAID destinado a preservativos é bem inferior a US$ 50 milhões. Segundo o relatório da agência, em 2023, foram fornecidos ou financiados um total global de cerca de US$ 7,1 milhões em preservativos masculinos e US$ 1,1 milhão em preservativos femininos, principalmente para países da África.

 'Não sabem ler planilhas'

Jeremy Konyndyk, presidente da organização Refugees International, foi irônico, em seu perfil no X, ao comentar o tema. "Então, veja - sobre a questão dos 'preservativos de Gaza'. A USAID compra preservativos por cerca de US$ 0,05 cada. US$ 50 milhões seriam UM BILHÃO de preservativos. O que está acontecendo aqui NÃO é um bilhão de preservativos para Gaza. O que está acontecendo é que os irmãos do DOGE aparentemente não sabem ler as planilhas do governo.

"Esses dados estão disponíveis publicamente! Uma breve conversa com a equipe da USAID teria deixado isso bastante óbvio", aponta ele. "Para ser justo, é mais fácil cometer esse tipo de erro básico quando você demitiu metade da força de trabalho do Global Health Bureau e afastou grande parte da liderança sênior. Não há muitas pessoas por perto para apontar gentilmente que você está errando."

Ele se refere ao fato da administração Trump ter colocado quase 60 executivos seniores da agência em licença administrativa, junto com oficiais seniores selecionados do serviço estrangeiro, administradores e oito conselheiros gerais da USAID.

"Última observação sobre isso. Apesar do absurdo dessa alegação em particular, o acesso a contraceptivos é um importante problema de saúde em cenários de crise como Gaza. A gravidez não planejada em um contexto de fome e deslocamento pode ser extremamente desafiadora e trazer riscos à saúde. Portanto, seria totalmente apropriado que a USAID apoiasse o acesso a contraceptivos em Gaza, embora em uma escala de magnitude várias vezes menor do que um bilhão de preservativos", disse ainda Konyndyk.

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