Um estudo publicado na revista Australian Archaelogy finalmente revela por que há grandes "anéis de terra" nas circunvizinhanças de Melbourne, a capital do estado de Victoria, no sudeste da Austrália.
Eles são espaços que se destacam na paisagem, em que a terra parece ter sido removida e então reorganizada para formar um círculo isolado.
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Desde 1979, pesquisadores e povos originários têm escavado essas regiões para entender sua importância para os aborígenes australianos, já que sua idade remonta a centenas ou até milhares de anos atrás.
Espaços similares já foram reportados na Amazônia, em partes da Inglaterra e do Camboja, informa a revista Live Science.
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O estudo australiano, conduzido por Caroline Spry, do Departamento de Arqueologia e História da Universidade La Trobe, em Melbourne, e do centro de herança cultural Wurundjeri Woi-wurrung (que representa o povo aborígene Wurundjeri, de Victoria), aponta que esses espaços circulares, geralmente compostos por pedras, eram "locais cerimoniais sagrados".
Uma análise arqueológica dos Wurundjeri Woi-wurrung revelou, ainda em 1979, uma série de 166 artefatos de pedras escavados no local, que agora se reúnem para a compreensão de como os povos antigos da região usavam os anéis de terra para práticas culturais, como a construção de grandes fogos cerimoniais em que se dançava, praticava golpes, construía-se ferramentas etc.
Os cinco anéis de terra encontrados em Sunbury, cidade a 39 quilômetros de Melbourne, são reminiscentes daqueles que foram destruídos durante os processos de colonização europeia. Centenas de anéis existiam em Nova Gales do Sul e Queensland, afirmam os pesquisadores, mas hoje restam apenas cerca de 100.
Uma das escavações revelou o anel conhecido como Sunbury Ring G, o lugar para onde os povos ancestrais (chamados "Liwik") viajavam para se reunir e praticar ritos cerimoniais.
Algumas informações sobre as cerimônias e iniciações dos Woi-wurrung foram preservadas pelo ancestral Wurundjeri Woi-wurrung e ngurungaeta (chefe) William Barak (c.1824–1903), afirma o estudo.
Os iniciados eram conhecidos como jibauk, e estavam sob a responsabilidade de seus guritch (maridos da irmã) ou kangun (irmãos da mãe), além de serem supervisionados pelo curandeiro tradicional, o wirrarup.
Os jibauk inicialmente viviam longe do acampamento principal, em privações, e realizando instruções. Eles eram deslocados em dias sucessivos, até ficarem bem próximos [do campo central]. Então, os jibauk recebiam um manto de pele de gambá (uma vestimenta masculina completa) e eram conduzidos por seus guardiões entre os campos de homens casados para serem apresentados 'no caráter de um homem'. As cerimônias terminavam com várias noites de canto e dança.
E, numa reanálise dos 166 artefatos encontrados em 1979, os Woi-wurrung revelaram uma ferramenta construída há cerca de 590-1.400 anos, empregada no manejo da área, na raspagem do solo e das rolas a fim de criar arranjos de pedras circulares para definir os anéis de terra.
O povo Woi-wurrung já administrava esses espaços há milhares de anos, de acordo com suas tradições ancestrais. Suas conexões com a biik wurrdha, a "paisagem cultural", envolvem um sistema natural formado por terra, água e céu.
"Nós, os Woi-wurrung, os Primeiros Povos, e o Birrarung, pertencemos a este País", diz uma saudação tradicional. O Birrarung é o Rio Yarra, que atravessa Melbourne, com cerca de 242 km de extensão. "O Birrarung está vivo, tem um coração, um espírito, e é parte de nosso Sonhar. Nós vivemos com ele e conhecemos o Birrarung desde o começo".
"Bunjil, a grande Água, o espírito criador, fez a terra, o céu, o mar, os rios, flora e fauna, a história. [...] Desde o nosso começo, é sabido que temos uma obrigação: manter o Birrarung vivo e saudável para as gerações por vir".